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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

O futebol castiga, mas reconhece

Edu: Outro dia falamos de passagem sobre justiça no futebol, algo em que pessoalmente não acredito, porque, se existisse, tiraria boa dose da graça desse jogo. Tivemos mais uma mostra disso na Champions com o valoroso time de Antonio Banderas e Manuel Pellegrini...

Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Carles: Não pude rever o terceiro gol do Borussia, mas parece que mais uma vez o alto custo da tecnologia decidiu um jogo tão importante. No caso del Ingeniero, tudo tem um valor superlativo, o homem saiu direto do jogo de sábado válido pela liga para o enterro do pai no Chile e voou direto de lá para Dortmund para dirigir o time. Mesmo assim, temos que reconhecer que o time alemão é muito bom, mas peca de juventude e inexperiência.

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Edu: Só que, nesse jogo especificamente, essa equipe bem interessante do Dortmund levou um banho tático do chileno. Pellegrini tem o mérito de extrair o máximo possível de cada jogador. É difícil dizer quem jogou mal, embora seja um grupo sem craques. Todo mundo tem uma função tão importante e participativa que a forma compacta de jogar, extremamente organizada, surge automaticamente. É justamente o tipo de técnico que não precisa de craques para fazer um time, um especialista de que tanto precisamos, por exemplo, no Brasil de hoje, em que sobram bons jogadores mas não há craques. Ontem foi um tutorial do bom treinador, mas alguns desvios de atenção nos últimos minutos custaram a classificação.

Carles: É muito complicado defender esses minutos para qualquer time do planeta e mais tendo em conta o clima que se vive em Dortmund nesta e nas últimas temporadas. Parecia impossível perder a classificação, os "boquerones" se desconcentraram mesmo e o futebol de alta competição não perdoa. Uma desclassificação nessas circunstâncias vai colocar à prova de verdade a direção de Pelegrini, que conseguiu a proeza com um time inferior aos demais e recuperando jogadores quase aposentados como Júlio Baptista, Joaquin, De Michelis, Saviola, Roque Santa Cruz, Duda e uma ainda promessa como Isco.

Edu: Não vejo quem em Málaga, em toda a Espanha e no mundo do futebol que não reconheça a dignidade desse trabalho do chileno. Alguns desses jogadores estavam condenados nos seus times, casos de Toulalan no Lyon e De Michelis no Bayern. Foi uma ressurreição desses caras. Mesmo Joaquin parecia em franco declínio. Só comprova a seriedade da proposta, a eficácia de um jeito de jogar que, longe de ser feio, é objetivo e dirigido, meticulosamente dirigido. E que abre espaço para novidades como Isco poderem crescer com consistência.

Carles: É mérito de um chefe conseguir entusiasmar esse tipo de jogadores e não acho que seja só trabalho psicológico. Pelegrini é mais bem um cara introvertido só que demonstrando seriedade, não entrando em bate bocas nem com a imprensa nem com outros treinadores provocadores, demonstrando aos seus comandados que sabe posicionar um time em campo... tudo isso cria um clima motivador por si só, sem necessidade de demasiadas manobras mentais.

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Edu: É um padrão de comportamento raro para treinadores da linha de frente do futebol mundial, embora eu considere que ele é um motivador nato, sem precisar de exageros e maneirismos. Quantos caras com essa postura do Pellegrini vemos nos times de ponta hoje em dia? Basta ver o que aconteceu no jogo de Istambul, uma eliminatória que estava resolvida, mas que, por soberba, quase se complica.

Carles: Não era difícil prever que o Madrid perderia o jogo. A avalanche do Galata na volta do intervalo era previsível para quase todo muno menos para o rei da soberba, pelo visto. E não era só uma questão de colocar mais homens de contenção, mas de reposicionar o time, compactá-lo para dificultar a circulação da bola, coisa que o Málaga demonstrou saber fazer, apesar o resultado final. E claro que o ar rarefeito no ambiente do vestiário dos merengues também não ajuda nada. Uma fogueira das vaidades e sem controle.

Edu: Podem pagar esse preço alto na semifinal, independente do adversário. E por enquanto se mantém a expectativa de dois espanhóis e dois alemães seguirem em frente. Estamos pendentes do que vai acontecer no Camp Nou, com ou sem Messi.

Carles: Torcendo e retorcendo.

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