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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

Passagem de tempo em Madrid e Mourinho atirando no pé

Carles: Horas antes mesmo de começarem os jogos de hoje em Madrid e em Paris, vi em alguns meios fotos de Cristiano Ronald e Ibrahimovic acompanhadas de textos que soavam a algo assim como "o grande duelo". Então para que jogar as tais eliminatórias de quartas de final?

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Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Edu: Ver o Dortmund entre os oito melhores da Europa em detrimento de City e Juve é uma ofensa. Klopp não tem sequer uma caricatura daquele time energético do ano passado, suaria frio aqui para ganhar da Penapolense. Agora, no jogo de Paris, Blanc recebeu um presente de seu amigo Special One. O PSG nem precisou jogar, Cavani e Ibra mal apareceram. Talvez seja hora de Mourinho se contentar com seu jogo mesquinho, porque quando muda a proposta não sabe como fazer, mesmo tendo tantos jogadores habilidosos nas mãos.

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Carles: Sempre defendi a ideia de que ele é um gestor de uma única fórmula e que precisa de grandes executores para ter os títulos que tem. O trabalho de Klopp no ano passado, sim, é digno de menção, assim como também era evidente que o Dortmund deste ano daria a sensação de "o último que feche a porta". Insisto que não há projetista que suporte o seu monoposto perdendo peças pelo caminho. Em realidade o maior presente quem recebeu foi Florentino, contra esse arremedo de Dortmund, faz tempo que os clichês dos grandes jornais já tinham composto: "Grande vitória com gostinho de vingança". Por certo, ainda se usam os clichês?

Edu: Em especial nas redações dos diários madrileños (convenhamos, os catalães também), que só têm rivais à altura na Itália quando o assunto é futebol. Vi alguns trechos tão óbvios do jogo do Bernabéu que preferi me concentrar na partida do Parc des Princes. Ali, dois times que jogam de forma parecida poderiam fazer um duelo tático interessante, mas o jogo foi um caos. Mourinho fez pela primeira vez a opção por não incluir um centroavante, o que poderia ser uma boa sacada para quem tem Hazard, Willian, Oscar e Schürrle. Mas o portuga foi inventar e se complicou. Em vez de um falso 9, que poderia semear o pânico na defesa do PSG, fez do alemão um verdadeiro 9, ou seja, jogou com 10 durante o primeiro tempo inteiro porque Schürrle sequer tocou na bola, perdido entre Alex e Thiago Silva. Aí, o Chelsea sofreu o primeiro gol, ganhou um pênalti de presente e mesmo assim voltou do intervalo sem saber o que fazer com seus jogadores de toque. O time que há dois meses parecia arrumadinho, com a Premier na mão e bem na Champions, fez água na noite parisiense.

Carles: Sem conviver diariamente com Schürrle como Dom José e até quem, como eu, não é muito assíduo do jogo do alemão sabe que ele surpreende mesmo é vindo desde as laterais do campo. Essa versão moderna da Guerra dos Cem Anos tem pinta mesmo de que durou escassos 90 minutos. Ou será que o tal golzinho vindo do Eden deixa ainda alguma possibilidade para Stamford Bridge?

Edu: Difícil, bem difícil. Mourinho andou esculhambando os jogadores depois da derrota doméstica para o Crystal Palace, no fim de semana. O pessoal de Madrid sabe muito bem como ele é especialista em dar tiros no pé. O time pareceu caidaço, burocrático, fazendo o tempo passar, exceto por uma ou outra tentativa de Willian e Hazard, além da tradicional dedicação um tanto espalhafatosa de David Luiz. A defesa, tão firme na primeira fase da Premier, é uma pasmaceira. Até o sempre digno Petr Chec levou uma penosa no finzinho do jogo depois de Javier Pastore, que vinha em baixa até hoje, dar um drible desmoralizante no semiaposentado Frank Lampard. O jeitão do Chelsea é típico de fim de temporada perdida - uma temporada que parecia gloriosa. Não se pode jogar a passagem para uma semi de Champions com tanta indolência. Talvez Ibra não esteja em Stamford, porque sentiu uma lesão, mas nem isso deve ser problema para o PSG, porque também hoje o sueco nada fez.

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Carles: Certamente os companheiros esqueceram de avisar ao William e Hazard. As declarações de Mourinho dando a Premier por perdida têm jeito de psicologia inversa para motivar cutucando os brios dos jogadores e dá a impressão de que Mourinho chegou anteontem ao futebol. Então damos razão aos matutinos que davam como certo o enfrentamento entre PSG e Real Madrid em semis. E se Barça e Bayern conseguirem confirmar seu favoritismo, mesmo que no caso dos catalães seja por muito pouco, teremos dois treinadores dissidentes enfrentando seus ex nas semis. Ainda dando razão ao favoritismo nas apostas, a final seria entre madrileños e muniquenses. Concorda?

Edu: Concordo, mas agora com uma ressalva: só se o Barça cair, o que elevaria o Atlético a sério candidato. Porque, se o Barça superar o efeito Vicente Calderón, aí os outros que se cuidem, inclusive esse Madrid irregular que até outro dia também parecia imbatível e andou frequentando o inferno depois da derrota no clássico. Se vale uma licença poética, os quatro da semifinal são cinco: Bayern, PSG, Madrid, Barça e Atlético. Estaremos falando, sem medo de errar, dos melhores times da Europa hoje.

 

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