Foto do(a) blog

Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

Um time travado, Oscar imenso e o amigo japonês

_ Diálogo intercontinental sobre futebol – com toques de política, cultura e economia que coloca frente a frente duas potências, uma com passado glorioso nessa história de jogar bola e a outra emergente, atual campeã, o time da moda. Brasil e Espanha. José Eduardo Carvalho, jornalista e escritor paulistano, morou em Madrid e fez grande parte da sua carreira na imprensa esportiva. Carles Martí, doutor em Comunicações, publicitário, design e professor, nasceu em Valencia, morou muitos anos em São Paulo e hoje trabalha em Barcelona.

PUBLICIDADE

Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

ESTREIA COM DESORDEM TÁTICA E PÂNICO EMOCIONAL

PUBLICIDADE

Carles: "Favor a Brasil para empezar", assim abre a primeira página da sua edição digital o diário esportivo madrileño Marca, finalizado o jogo de abertura da Copa. Se você tivesse a oportunidade, acalmaria o resto de seleções para que não desanimem, que foi só um momento de fraqueza de um árbitro caseiro como Yuichi Nishimura?

Edu: Desanimar no primeiro jogo? Se acontecer é melhor pegar o avião e já sair de férias. Se bem que o técnico croata Niko Kovac previu que a Copa pode virar um circo. Nunca se sabe. Nosso novo amigo Nishimura é ruim mesmo, manufaturou um pênalti com rara convicção e justo no momento que a Croácia dominava o jogo. Mas, ao contrário do tradicional chororô em jogos do Brasil com ou sem razão - e não é de hoje -, essa é também uma tática para pressionar os árbitros daqui por diante. Com tal repercussão, como reagirão os outros juízes nas partidas brasileiras, principalmente no mata-mata? É bom que fique claro: ninguém aqui vai ter a cara de pau de dizer que foi pênalti.

Carles: Talvez o Fred? Ou o Felipão? O simpático do Yuichi, que é policial de profissão, deve ter orientado o trânsito na sua natal Tóquio e, pelo visto, gostou de reviver os trejeitos de então em plena Arena Corinthians. Aliás, foi ele que expulsou o Felipe Melo na Copa da África do Sul em 2010 no jogo contra a Holanda, não me lembro se foi por marcar contra o próprio patrimônio. Voltando ao jogo, vi a Seleção Brasileira muito nervosa, o Felipão reclamando muito da arbitragem no primeiro tempo, fazendo mudanças no time de forma desastrosa e um gramado duro e irregular. A Croácia fez um jogo digno e se for segundo do grupo, más notícias para Espanha, Holanda, Chile ou seja lá quem for o primeiro do grupo B.

Edu: Croácia bem, time que privilegia a técnica e tem um modelo de jogo claro, apesar da defesa muito ruim, principalmente os dois centrais. Os primeiros 15 minutos foram um desastre brasileiro, desequilíbrio emocional que beirou o pânico. Esses episódios muito emotivos - palestras antes do jogo, gritos coletivos, preleções motivacionais - acabam muitas vezes virando o fio. Já era suficiente sendo uma estreia, com a pressão de jogar em casa, um adversário perigoso e imagino que o ideal seria tirar um pouco dos ingredientes emocionais e não colocar mais pilha. Ver o capitão time, no túnel, antes de entrar em campo, já chorando, para mim é um nítido sintoma de desequilíbrio. E muitos outros estavam chorando após o hino à capela. O que se viu então foi um pandemônio, que os croatas souberam aproveitar muito bem.

Publicidade

Carles: Pois é, choro do capitão e, depois do hino, do veterano do grupo. Imagino que algum narrador global explorou tudo com seu tradicional tom ufano. Se fosse meu central e meu goleiro, eu ficaria preocupado. Além do que, o brio nacionalista como fator motivador é uma faca de dois legumes, como dizia meu vizinho de infância. Quanto aos centrais croatas, questão de proteção, também. Como já disse outras vezes, já vi central se consagrar em time pequeno e ser um desastre ao ser contratado por time grande e ofensivo. Corajoso (ou insensato) o Niko Kova?, escalando Rakiti? e Modri? de volantes, sem um pivô defensivo tradicional. Eu, como espectador, agradeci.

Edu: Foi uma ótima solução, ficou provado isso. Não teria sentido deixar de fora um dos dois principais croatas, que aproveitaram muito bem o descontrole do adversário. Vai se falar muito do pênalti, da desorientação mental do time brasileiro no início e das circunstâncias especiais da estreia, mas houve algo de bom também. A partir dos 20 minutos, os dois únicos criativos, Oscar e Neymar, acordaram e o time deslanchou, poderia ter virado a partida no primeiro tempo. Mas após o intervalo surgiu uma revelação ameaçadora: a seleção desabou fisicamente, todo mundo, Neymar inclusive. E ficou pendente dos milagres de David Luiz e da serenidade técnica de Oscar, na minha visão o melhor em campo. Aliás, os dois mais jovens da equipe, Oscar e Neymar, foram os decisivos. É algo para se pensar.

Carles: Acho que é uma opinião geral. Oscar foi o melhor e Hulk, o pior. Talvez porque não fosse um jogo para ele. E David Luiz já disse a que veio, viu a ferocidade com que ele cantou o hino? Não entendo como não se deu bem com Mourinho, que gosta desses espíritos inflamados. Amanhã é nossa vez, e contra um time que Van Gaal conseguiu colocar no papel de zebra. No me fio ni un pelo.

Edu: Tique-taca contra o general na calorenta de Salvador (mas com previsão de chuva). Van Gaal parece não estar blefando e anunciou que vai jogar com cinco zagueiros. Nem precisa tanto, me parece, porque Del Bosque deve optar pelo falso 9. Diego Costa no banco, certo?

Carles: Nada. Joga com centroavante legítimo, como nos velhos tempos, para isso levou logo três. Joga Dieguito Costa, chamado assim em homenagem ao Pelusa, revelou o pai da criança estes dias. Vicente pode ser qualquer coisa, mas nunca poderá ser acusado de traira . O jogo é a 300 quilômetros de Lagarto.

Publicidade

Edu: Se tiver '9', aposto em David Villa.

Carles: Apostamos um corderito no 'Sobrino de Botín'?

Edu: Você conhece  bem melhor o Marquês, mas como é no 'Sobrino' está apostado.

 

Leia também:

Dois 'brazucas' comandam a perigosa Croácia

Publicidade

A alma brasileira da mais mestiça das seleções

Um general, alguns craques e muitas dúvidas: é a Holanda

'La Roja', últimos suspiros de uma geração encantada

O dia em que o general triturou o tique-taca

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.