Por quê? Porque novamente este nobre espaço carrega uma dose de otimismo com o futebol daqui. Sim, senhor, anda divertida a temporada doméstica, já que no plano internacional (entenda-se Libertadores) o vareio foi total. Pegue o Brasileiro e a Copa do Brasil, a rolar paralelamente. Tão semelhantes e distantes ao mesmo tempo, cara e coroa da mesma moeda, indicam caminhos opostos para os participantes, mas os unem no essencial: a imprevisibilidade. Tanto numa quanto noutra competição está difícil cravar favoritismo para qualquer um.
Tome como exemplo as oitavas de final da Copa do Brasil, que começaram quarta-feira, continuaram ontem e terminarão na semana que vem.
Time que está por cima na Série A levou tranco, equipe que sofre com a pindaíba na divisão de elite surpreendeu, ganhou fôlego e fez estrago graúdo no rival. Clube que é modelo de eficiência tática voltou para casa com a pulga atrás da orelha.
Pegue o caso emblemático do Vasco. Apanha mais do que boi ladrão no Brasileiro, tem medo danado de ser trirrebaixado (se permitem o termo) e chamou Jorginho para atuar como salvador da pátria, técnico e pastor de almas à deriva. Topa com o Flamengo e vence por 1 a 0, com desempenho diferente daquele habitual, de gente grande.
Como desdobramento, botou ponto final na aventura de Cristóvão Borges na Gávea. O treinador se segurava por um fio, rompido depois da atuação anêmica no Maracanã. A cartolagem não perdeu tempo e fez a troca no vapt-vupt: antes do almoço saiu um, na hora da sobremesa apresentou outro. Dá até o que pensar tamanha agilidade.
O Corinthians lidera o Brasileiro e Tite tem dado de lambuja em concorrentes, com a estratégia de tirar o máximo de eficiência com o mínimo de oportunidades. Leva a rapaziada para a Vila Belmiro e toma uma surra tática de Dorival Júnior, nos 2 a 0 para o Santos, o mesmo Santos que só agora dá sinais de recuperação no Brasileiro.
O Galo luta pelo título maior, recebe o Figueirense e se salva do vexame com gol aos 48 do segundo tempo. O Grêmio visitou um Coritiba afundado na Série A e suou para fazer 1 a 0. O São Paulo pega o Ceará desesperado na Série B e passa vergonha e toma vaias. Isso é bacana. As vagas estão abertas, mesmo que no fim prevaleça a lógica.
Até a arbitragem teve comportamento distinto. O rigor espalhafatoso do Brasileiro, a sanha de dar pênalti em toda dividida ou ralada de bola na mão na área, foram substituídos por complacência e tolerância. Os senhores do apito não carregaram nas tintas. Nem por isso os jogos tiveram mais polêmica do que o habitual. Ao contrário, diminuíram episódios de choras, lamúrias e maldições.
Há algo bom no ar - e isso tem de ser sentido e transformado em ações positivas para todos. Sem jamais baixar a guarda, nem abdicar do senso crítico, que tal abrir espaço para a emoção? O futebol brasileiro mexe com a gente; não tem a grana dos gringos, mas possui charme. Basta uma trégua. Desarmar espíritos seria bom esporte nacional...
A fila anda. Oswaldo de Oliveira nem precisou de auxílio-desemprego e já achou colocação. A missão no Flamengo não será simples: cobram-se resultados imediatos. A não ser que arrebente a banca e promova reviravolta sensacional, é empreitada só até o final da Série A. Tomara que não. A conferir.
Na torcida. Luciano cavou espaço no Corinthians com gols e velocidade. Agora, por acidente de trabalho, ficará meses parado. Pena, mas é jovem e logo se recupera. Boa sorte.
*(Minha crônica no Estadão impresso desta sexta-feira, dia 21/8/2015.)