Reportagem de Roberto Salim.
Será que existe esporte sem doping?
Cada vez mais a resposta se aproxima de um "não" enorme.
O superatleta do alto rendimento precisa treinar mais, suportar a dor, o cansaço, tem de conquistar medalhas, resultados. E a ciência avança, traz remédios, suplementos, complementos e que-tais. Tudo dentro da lei. Que lei?
Uma vez, dona Vanda dos Santos, atleta da Olimpíada de 1952 contou que era a mascotinha da equipe nacional. O xodó do grupo que viajou para Helsinque. "Doping? Naquele tempo o nosso técnico dava gemada, para a gente suportar os treinos mais duros".
Tempo da gemada. Bons tempos.
Agora é medicamento na veia. E furosemida para disfarçar o doping. Para mascarar as substâncias proibidas.
A recém-criada ABCD - agência nacional do controle de doping - quer se fazer respeitar. Tem feito exame em cima de exame. Mas no fundo é tudo igual aos anos passados. Pega-se um ou outro de esportes populares, como atletismo e boxe. Peixe graúdo de esportes da elite, nem pensar.
É o velho e bom preconceito que reina no país desde os tempos da escravidão.
No futebol, os exames são um verdadeiro faz de conta. No ciclismo esconde-se o máximo possível o nome dos que caem na rede. E assim mesmo alguns são perdoados internamente, desafiando a autoridade da ABCD. Tudo em nome das aparências e da boa imagem do esporte.
Lá fora a Rússia é a bola da vez. Descobriram agora que lá se usa doping. E nos Estados Unidos, na Alemanha, na Espanha, na França? Ninguém usa?
É um teatro.
Mas, nesta sexta-feira, um telefonema nos deixou com a pulga atrás da orelha: era a confirmação de que a fundista Sueli Pereira da Silva, melhor brasileira na São Silvestre, deu positivo para EPO. Até aí nenhuma novidade: a notícia já tinha saído em todos os jornais. A grande surpresa é que o filho dela, o Ronald, também atleta, teve exame positivo.
Ou seja, quando mãe e filho são flagrados no uso de substâncias proibidas é porque tem algo de muito ruim a acontecer no mundo do esporte.