Todo o mundo do futebol esteve ligado esta tarde em Real Madrid e Barcelona, certo? O clássico do planeta vencido pela turma de Neymar, por 4 a 0, certo?
Errado.
O planeta não funciona exatamente como determinam os patrocinadores ou os homens que lucram com o esporte mundial. Claro que é um show, lucrativo, milionário. Mas a emoção existe, existe o torcedor, a criança sonhadora.
Existe o menino Arthur, que descobri ao ler hoje cedo o "Diário de Pernambuco".
Ele tem sete anos, é torcedor do Santa Cruz e não estava pensando no Barcelona ou no Real esta tarde, quando seu time jogou no Estádio Novelli Júnior, em Itu, contra o Mogi Mirim.
Coincidência das coincidências, seu avô Delmiro Pereira deixou há muitos anos Pernambuco, para ganhar a vida como serralheiro na cidade do interior paulista - justamente Itu, o local da partida decisiva para o Santa. Torcedor do Santa Cruz, fez questão de manter a tradição familiar. E Arthur torce para o Santa, mesmo sem nunca ter visto o seu time na "série A" - há 9 anos que a Cobra Coral não joga na elite do futebol nacional.
Paixão é isso.
Arthur esteve hoje à tarde no jogo de seu time de coração. E outra coincidência: apareceu logo no início da transmissão da TV Brasil. Ao lado do avô. Viu os gols de Daniel Costa, Bruno Morais e Biléu, que levaram à conquista de uma das quatro vagas da "série B" do Campeonato Brasileiro.
Depois dos 3 a 0, o Santa Cruz vai voltar à "série A" no próximo Campeonato Brasileiro. Seu time tem história, tem um avô serralheiro torcedor e uma nação que não o abandona nem nos piores momentos de "série D".
O menino Arthur tem um time para torcer de verdade e ele não é da Espanha.
* Roberto Salim é jornalista. Trabalhou, dentre outros, no Estadão e na "Folha de S. Paulo". Nos últimos 20 anos, foi responsável pelo programa "Histórias do Esporte", da ESPN/Brasil.