EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

(Viramundo) Esportes daqui e dali

Torcedor, o babaca

Há momentos nos quais a melhor postura é o silêncio respeitoso - ou ao menos palavras delicadas. Caso contrário, só aumenta o constrangimento.

PUBLICIDADE

Por Antero Greco
Atualização:

Neymar não entendeu o significado do que aconteceu na noite de ontem nos Estados Unidos. A falta de sensibilidade do astro do Barcelona ficou evidente na mensagem que postou em rede social, após a derrota para o Peru que eliminou a seleção da Copa América.

PUBLICIDADE

Na tentativa de mostrar-se próximo do grupo de amigos, não soube jogar com as palavras. Ou, antes, por meio delas escancarou como vive longe da realidade. Para encorajá-los, lembrou que todos se sacrificam, sofrem para representar o País, e que agora aparecerá "um monte de babacas para falar merda". Assim, dessa maneira chula.

Neymar revelou despreparo para lidar com frustrações e imaturidade para driblar lances de saias-justas. Mostrou como não consegue administrar cobranças e como reage feito moleque mimado à menor contrariedade. Tem comportamento de garoto e não de adulto que entende seu papel e assume responsabilidades e cobranças.

Jogador de seleção não é coitadinho, não é um recruta convocado para guerra da qual gostaria de safar-se. (Alguns até dão "migué" e conseguem dispensa para curtir férias ou outros compromissos.) Jogador de seleção é profissional muito bem pago e que tira vantagens enormes ao vestir a "amarelinha". Todos sabem como se valorizam, como conseguem transferências milionárias, contratos gordos, acordos de publicidade. Não são desamparados.

A mensagem de Neymar reforça, também, a sensação de que esses moços perdem a noção do peso que têm para o torcedor. Na verdade, pouco se lixam para o público, razão única da fama deles. O comentário dele é a síntese do pensamento de uma geração de boleiros desconectada com o cotidiano.

Publicidade

Não fossem os apaixonados por clubes ou seleções que os aplaudem das arquibancadas, que consomem o "produto futebol", eles não circulariam feito celebridades, não se exibiriam com louras estonteantes, não pegariam jatinhos para passear em Ibiza, não posariam com ídolos pops.Seriam como bilhões de outros seres humanos, anônimos a ralar pelo pão diário.

A fama desses rapazes vem da receptividade popular. Quando jogam pelo Barcelona, por exemplo, o fazem para milhões de seguidores. Quando vestem a camisa do Brasil, representam mais de 200 milhões de pessoas. Mas parecem não se dar conta disso.

Jogadores acham que eles mesmos se bastam. São uma fraternidade fechada em si própria. Agem como se não houvesse nada à volta deles. As vitórias são dedicadas "ao grupo" e não à plateia. Vivem em redomas, são tratados como bibelôs, se abobalham.

Por isso, vêm nos mortais apenas "um monte de babacas". Babacas somos todos os que não os bajulam, os que lhes pedem explicações para insucessos, os que expõem tristeza quando a seleção brasileira perde.

Que pena Neymar agir assim.

Publicidade

É jovem, tem muito a aprender, e tomara evolua.

A evolução, por ora, é só no patrimônio pessoal, não na grandeza como craque.

O craque entende a dor do torcedor e a toma para si. Não considera babaca quem é a razão da fama dele.

Neymar deixou escapar excelente ocasião de ser carinhoso com o humilhado torcedor do país em que nasceu.

Bastava ter ficado quieto.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.