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O vôlei com conhecimento e independência

Sesi, Pinheiros e Praia, com conivência da CBV, abreviam carreira de medalhista olímpica

A CBV, Confederação Brasileira de Vôlei, perdeu uma ótima oportunidade de reconhecer uma medalhista olímpica.

Por Bruno Voloch
Atualização:

A entidade deixou escapar a chance de limpar a imagem desgastada com os atletas agindo com razão e sensibilidade.

O caso mais recente de conivência e pouco caso da entidade envolve Elisângela Almeida de Oliveira, conhecida carinhosamente como Lili, medalha de bronze nos jogos olímpicos de Sidney em 2000.

 Foto: Estadão

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A jogadora, que completa no fim do mês 37 anos, assinou contrato recentemente para defender Osasco no campeonato paulista.

Entusiasmados com a postura da atleta, os dirigentes do clube paulista acabaram propondo que Elisângela permanecesse na equipe para a Superliga, estendendo nesse caso o contrato até maio de 2016.

A jogadora é considerada atleta de 3 pontos, mas foi bonificada pela idade e ranqueada com 1 ponto apenas. Na atual regra cada time pode ter no máximo duas jogadoras de 7 pontos, pontuação máxima, e a soma não pode ser superior a 43 pontos.

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Osasco conta com Dani Lins e Thaísa de 7 pontos, Adenízia e Carcaces de 6, Ivna, Suelle e Camila Brait 5, Gabi 3, Diana 2 e Marjorie 1, isso sem levar em conta as 'formadas em casa' que não pontuam.

Pela total de Osasco, Elisângela, mesmo com 1 ponto, não poderia defender o clube na principal competição do país que começa em novembro.

Ciente dos fatos e das dificuldades em arrumar emprego, Elisângela procurou a CBV. Explicou o interesse em jogar por Osasco, falou da proposta que tinha em mãos e solicitou que a entidade pudesse apenas ajudá-la.

O presidente Walter Pitombo Laranjeiras, o Toroca, sequer respondeu o contato feito pela jogadora. Até aí nenhuma novidade.

Radamés Lattari, obrigado, foi quem entrou no circuito.

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O blog teve acesso a troca de e-mails entre as partes durante a semana.

De: Radames Lattari radameslattari@volei.org.br> Data: 21 de outubro de 2015 18:09:48 BRST Para: Elisangela Almeida de Oliveira elisangela021@outlook.com> Assunto: RES: RES: Respostas clubes

Elisangela,  A resposta aqui, é aquela que imaginavo, só se for unanimidade, não vão sair fora do regulamento. Procure novamente as 4 equipes que não responderam sim ao teu pedido. Abs 

De: Elisangela Almeida de Oliveira [mailto:elisangela021@outlook.com] Enviada em: quarta-feira, 21 de outubro de 2015 12:02 Para: Radames Lattari Assunto: RE: RES: Respostas clubes

 Radames Bom dia, Apenas confirmando foram 2 negativos : E.C Pinheiros e Praia Clube,6 positivos : Minas,Rexona,São Bernardo,Brasilia, Rio do Sul e São caetano Pessoalmente. Sesi se absteve não respondeu a solicitação.

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OBS: Já tentei com os 2 Clubes que ratificaram aresposta , aguardo sua posição.

De: Radames Lattari radameslattari@volei.org.br> Data: 21 de outubro de 2015 11:10:17 BRST Para: Elisangela Almeida de Oliveira elisangela021@outlook.com> Assunto: RES: Respostas clubes

Elisangela,

Ontem a diretoria aqui retirou dos campeonatos brasileiros as Federações do Amapá, Mato Grosso, assim como fez no anterior com a do Ceará, por não cumprirem prazos do regulamento e não voltaram atrás desta decisão.  Como estamos sob severa auditoria, a ordem aqui é cumprir rigorosamente os regulamentos. Como em todos os casos eles só aceitam mudanças com a unanimidade dos clubes ou federações, resolvi não falar do teu caso ontem, vou tentar hoje pois achei que ontem as possibilidades seriam remotas. Acho que vc deveria tentar com os 4 que não deram o sim , mudar a posição deles para se obter a unanimidade, temo que sem o sim deles o seu pedido seja negado. Vamos torcer, Bjo 

De: Elisangela Almeida de Oliveira [mailto:elisangela021@outlook.com] Enviada em: segunda-feira, 19 de outubro de 2015 14:27 Para: Radames Lattari Assunto: Respostas clubes 

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Boa tarde Radames, tudo bem? Conforme o e-mail abaixo, já possu os retornos dos clubes sobre a minha solicitação. Considerando as reuniões de ranking, onde amaioria é sempre determinante, como iremos proceder ? Att Elisangela. 

Pessoal, Gostaria de agradecer a todos que responderam a minha solicitação sobre a redução dos meus pontos para esta temporada. 

Respostas positivas por email: 

- Vôlei Nestlé / Osasco Voleibol Clube - Minas Tênis clube  - Unilever / Rexona Ades - São Bernardo - Brasilia - Rio do Sul/equibrasil 

Respostas negativas por email:  - E.CPinheiros - Praia Clube

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 Resposta pessoalmente:  - São Caetano : Airton

 Resposta não definida:  - Sesi  Obrigada,  Elisangela

Sem alternativas e informada da posição absurda da CBV, a própria jogadora foi até os clubes e solicitou a liberação, conforme os e-mails, para atuar na Superliga por Osasco.

Somente se conseguisse unanimidade, segundo Radamés, é que Elisângela poderia continuar jogando no clube paulista.

O curioso é que Soninha, de São Caetano e também nascida em 1978, tem situação idêntica e está zerada no ranking. A CBV usa dois pesos e duas medidas.

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De cara o Rexona, via Bernardinho, e o Minas responderam positivamente apoiando a atleta e deixando de lado qualquer tipo de rivalidade e mostrando a evidente preocupação com o lado do ser humano.

A maioria dos times pequenos também aprovou.

Para surpresa e decepção da jogadora, Praia Clube, Pinheiros e Sesi vetaram a mudança na pontuação usando diferentes justificativas.

O Praia, através de Bruno Vilela, se defendeu alegando que teria interesse em continuar contando com Sassá para a atual temporada e por esse motivo teria votado contra.

O Pinheiros consultou a comissão técnica. Wagão foi contra e a diretoria do clube seguiu a vontade do treinador.

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 Foto: Estadão

Inconformada, Elisângela resolveu desabafar:

'É uma covardia desses times. Sou apenas a terceira opção como oposta de Osasco e só queria terminar minha carreira de maneira digna e no BRASIL. Não vou e não quero me arriscar mais na Europa e não posso deixar meu filho de 10 anos sozinho. Falta bom senso para essas pessoas. É uma pena. Isso por causa de 1 ponto'.

Curiosamente, a jogadora já vestiu a camisa do Sesi, um dos clubes que vetou a mudança no ranking.

Elisângela não se conteve:

'Eu sei de quem partiu o veto. Ele sabe estou ciente, mas o dele está guardado. Por sina, que empresa é essa que se diz brasileira, patriota e que ajuda os funcionários e ex-empregados? Pura hipocrisia'.

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A CBV também foi alvo da atleta:

'Tenho saudades dos tempos do Ary Graça. O presidente atual simplesmente ignorou meu pedido e sequer leu minha solicitação. O Radamés disse que fez o que podia.Não sei. É lamentável como somos tratados. As pessoas estão cobertas de razão quando afirmam que todo serviço que prestamos ao longo de nossas carreiras são jogados no lixo. É revoltante e não estou pedindo nada demais. E não me venham com comparações absurdas porque meu caso é único e diferenciado'.

Procurada pelo blog, a CBV não se pronunciou. Normal.

A entidade tem obrigação de se posicionar como 'dona' da Superliga. Não faz.

Fato é que a atual gestão, formada por gente preguiçosa e envolvida diretamente no caso de Elisângela, dá novamente provas de que está muito longe do diálogo e profissionalismo.

A verdade, num passado recente como lembrou Elisângela, é que apesar do ranqueamento sempre ter sido votado pelos clubes, a CBV tinha a decisão nas mãos.

Elisângela Almeida de Oliveira é apenas mais uma na lista. Hoje é ela. O tempo passa para todo mundo e amanhã a vítima pode ser quem esteja atualmente brilhando com a camisa da seleção.

 Foto: Estadão

Duas olimpíadas, uma medalha de ouro nos jogos Pan-Americanos de Winnipeg em 1999 e passagens pelos principais clubes do BRASIL não foram suficientes para sensibilizar os dirigentes.

Esses mesmos dirigentes que se sentem acima do bem e do mal. Os mesmos que discursam dá boca pra fora.

O pior é a vaidade de determinados técnicos e profissionais fantasiados de diretores nos clubes.

A CBV, via Ricardo Trade, poderia ser superior, ajudar Elisângela e mostrar o verdadeiro valor. O reconhecimento seria o mínimo. A presença da jogadora em Osasco não vai em hipótese alguma desequilibrar a competição. A CBV ganharia pontos com os jogadores dando a possibilidade de uma referência olímpica encerrar a carreira de maneira decente.

O papel mais digno e correto seria enviar uma carta aos clubes solicitando o aceite na redução de 1 ponto tento em vista os serviços prestados ao BRASIL.

Com a maioria dos votos a favor, como no caso, apenas comunicaria a decisão em nota oficial.

A bonificação deveria significar o reconhecimento à dedicação e espírito de luta das atletas brasileiras que contribuíram, durante vários anos, para o desenvolvimento do esporte e continuam servindo de exemplo às novas gerações através da imagem íntegra, física e moral.

Isso na teoria porque o que se vê na prática é a resposta que recebeu Elisângela.

 

 

 

 

 

 

 

 

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