A entidade deixou escapar a chance de limpar a imagem desgastada com os atletas agindo com razão e sensibilidade.
O caso mais recente de conivência e pouco caso da entidade envolve Elisângela Almeida de Oliveira, conhecida carinhosamente como Lili, medalha de bronze nos jogos olímpicos de Sidney em 2000.
A jogadora, que completa no fim do mês 37 anos, assinou contrato recentemente para defender Osasco no campeonato paulista.
Entusiasmados com a postura da atleta, os dirigentes do clube paulista acabaram propondo que Elisângela permanecesse na equipe para a Superliga, estendendo nesse caso o contrato até maio de 2016.
A jogadora é considerada atleta de 3 pontos, mas foi bonificada pela idade e ranqueada com 1 ponto apenas. Na atual regra cada time pode ter no máximo duas jogadoras de 7 pontos, pontuação máxima, e a soma não pode ser superior a 43 pontos.
Osasco conta com Dani Lins e Thaísa de 7 pontos, Adenízia e Carcaces de 6, Ivna, Suelle e Camila Brait 5, Gabi 3, Diana 2 e Marjorie 1, isso sem levar em conta as 'formadas em casa' que não pontuam.
Pela total de Osasco, Elisângela, mesmo com 1 ponto, não poderia defender o clube na principal competição do país que começa em novembro.
Ciente dos fatos e das dificuldades em arrumar emprego, Elisângela procurou a CBV. Explicou o interesse em jogar por Osasco, falou da proposta que tinha em mãos e solicitou que a entidade pudesse apenas ajudá-la.
O presidente Walter Pitombo Laranjeiras, o Toroca, sequer respondeu o contato feito pela jogadora. Até aí nenhuma novidade.
Radamés Lattari, obrigado, foi quem entrou no circuito.
O blog teve acesso a troca de e-mails entre as partes durante a semana.
De: Radames Lattari radameslattari@volei.org.br> Data: 21 de outubro de 2015 18:09:48 BRST Para: Elisangela Almeida de Oliveira elisangela021@outlook.com> Assunto: RES: RES: Respostas clubes
Elisangela, A resposta aqui, é aquela que imaginavo, só se for unanimidade, não vão sair fora do regulamento. Procure novamente as 4 equipes que não responderam sim ao teu pedido. Abs
De: Elisangela Almeida de Oliveira [mailto:elisangela021@outlook.com] Enviada em: quarta-feira, 21 de outubro de 2015 12:02 Para: Radames Lattari Assunto: RE: RES: Respostas clubes
Radames Bom dia, Apenas confirmando foram 2 negativos : E.C Pinheiros e Praia Clube,6 positivos : Minas,Rexona,São Bernardo,Brasilia, Rio do Sul e São caetano Pessoalmente. Sesi se absteve não respondeu a solicitação.
OBS: Já tentei com os 2 Clubes que ratificaram aresposta , aguardo sua posição.
De: Radames Lattari radameslattari@volei.org.br> Data: 21 de outubro de 2015 11:10:17 BRST Para: Elisangela Almeida de Oliveira elisangela021@outlook.com> Assunto: RES: Respostas clubes
Elisangela,
Ontem a diretoria aqui retirou dos campeonatos brasileiros as Federações do Amapá, Mato Grosso, assim como fez no anterior com a do Ceará, por não cumprirem prazos do regulamento e não voltaram atrás desta decisão. Como estamos sob severa auditoria, a ordem aqui é cumprir rigorosamente os regulamentos. Como em todos os casos eles só aceitam mudanças com a unanimidade dos clubes ou federações, resolvi não falar do teu caso ontem, vou tentar hoje pois achei que ontem as possibilidades seriam remotas. Acho que vc deveria tentar com os 4 que não deram o sim , mudar a posição deles para se obter a unanimidade, temo que sem o sim deles o seu pedido seja negado. Vamos torcer, Bjo
De: Elisangela Almeida de Oliveira [mailto:elisangela021@outlook.com] Enviada em: segunda-feira, 19 de outubro de 2015 14:27 Para: Radames Lattari Assunto: Respostas clubes
Boa tarde Radames, tudo bem? Conforme o e-mail abaixo, já possu os retornos dos clubes sobre a minha solicitação. Considerando as reuniões de ranking, onde amaioria é sempre determinante, como iremos proceder ? Att Elisangela.
Pessoal, Gostaria de agradecer a todos que responderam a minha solicitação sobre a redução dos meus pontos para esta temporada.
Respostas positivas por email:
- Vôlei Nestlé / Osasco Voleibol Clube - Minas Tênis clube - Unilever / Rexona Ades - São Bernardo - Brasilia - Rio do Sul/equibrasil
Respostas negativas por email: - E.CPinheiros - Praia Clube
Resposta pessoalmente: - São Caetano : Airton
Resposta não definida: - Sesi Obrigada, Elisangela
Sem alternativas e informada da posição absurda da CBV, a própria jogadora foi até os clubes e solicitou a liberação, conforme os e-mails, para atuar na Superliga por Osasco.
Somente se conseguisse unanimidade, segundo Radamés, é que Elisângela poderia continuar jogando no clube paulista.
O curioso é que Soninha, de São Caetano e também nascida em 1978, tem situação idêntica e está zerada no ranking. A CBV usa dois pesos e duas medidas.
De cara o Rexona, via Bernardinho, e o Minas responderam positivamente apoiando a atleta e deixando de lado qualquer tipo de rivalidade e mostrando a evidente preocupação com o lado do ser humano.
A maioria dos times pequenos também aprovou.
Para surpresa e decepção da jogadora, Praia Clube, Pinheiros e Sesi vetaram a mudança na pontuação usando diferentes justificativas.
O Praia, através de Bruno Vilela, se defendeu alegando que teria interesse em continuar contando com Sassá para a atual temporada e por esse motivo teria votado contra.
O Pinheiros consultou a comissão técnica. Wagão foi contra e a diretoria do clube seguiu a vontade do treinador.
Inconformada, Elisângela resolveu desabafar:
'É uma covardia desses times. Sou apenas a terceira opção como oposta de Osasco e só queria terminar minha carreira de maneira digna e no BRASIL. Não vou e não quero me arriscar mais na Europa e não posso deixar meu filho de 10 anos sozinho. Falta bom senso para essas pessoas. É uma pena. Isso por causa de 1 ponto'.
Curiosamente, a jogadora já vestiu a camisa do Sesi, um dos clubes que vetou a mudança no ranking.
Elisângela não se conteve:
'Eu sei de quem partiu o veto. Ele sabe estou ciente, mas o dele está guardado. Por sina, que empresa é essa que se diz brasileira, patriota e que ajuda os funcionários e ex-empregados? Pura hipocrisia'.
A CBV também foi alvo da atleta:
'Tenho saudades dos tempos do Ary Graça. O presidente atual simplesmente ignorou meu pedido e sequer leu minha solicitação. O Radamés disse que fez o que podia.Não sei. É lamentável como somos tratados. As pessoas estão cobertas de razão quando afirmam que todo serviço que prestamos ao longo de nossas carreiras são jogados no lixo. É revoltante e não estou pedindo nada demais. E não me venham com comparações absurdas porque meu caso é único e diferenciado'.
Procurada pelo blog, a CBV não se pronunciou. Normal.
A entidade tem obrigação de se posicionar como 'dona' da Superliga. Não faz.
Fato é que a atual gestão, formada por gente preguiçosa e envolvida diretamente no caso de Elisângela, dá novamente provas de que está muito longe do diálogo e profissionalismo.
A verdade, num passado recente como lembrou Elisângela, é que apesar do ranqueamento sempre ter sido votado pelos clubes, a CBV tinha a decisão nas mãos.
Elisângela Almeida de Oliveira é apenas mais uma na lista. Hoje é ela. O tempo passa para todo mundo e amanhã a vítima pode ser quem esteja atualmente brilhando com a camisa da seleção.
Duas olimpíadas, uma medalha de ouro nos jogos Pan-Americanos de Winnipeg em 1999 e passagens pelos principais clubes do BRASIL não foram suficientes para sensibilizar os dirigentes.
Esses mesmos dirigentes que se sentem acima do bem e do mal. Os mesmos que discursam dá boca pra fora.
O pior é a vaidade de determinados técnicos e profissionais fantasiados de diretores nos clubes.
A CBV, via Ricardo Trade, poderia ser superior, ajudar Elisângela e mostrar o verdadeiro valor. O reconhecimento seria o mínimo. A presença da jogadora em Osasco não vai em hipótese alguma desequilibrar a competição. A CBV ganharia pontos com os jogadores dando a possibilidade de uma referência olímpica encerrar a carreira de maneira decente.
O papel mais digno e correto seria enviar uma carta aos clubes solicitando o aceite na redução de 1 ponto tento em vista os serviços prestados ao BRASIL.
Com a maioria dos votos a favor, como no caso, apenas comunicaria a decisão em nota oficial.
A bonificação deveria significar o reconhecimento à dedicação e espírito de luta das atletas brasileiras que contribuíram, durante vários anos, para o desenvolvimento do esporte e continuam servindo de exemplo às novas gerações através da imagem íntegra, física e moral.
Isso na teoria porque o que se vê na prática é a resposta que recebeu Elisângela.