Um corintiano do Forte Apache

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Por Redação
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O raçudo Carlitos Tevez e a Fiel simbolizaram um casamento perfeito; há até hoje quem defenda a volta do argentino ao Parque São Jorge

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SÃO PAULO - As primeiras entrevistas do até então desconhecido iraniano Kia Joorabchian, o todo poderoso da obscura MSI, diziam que o Corinthians seria o "Number One" em pouco tempo. A primeira cartada da parceira que deixaria o clube dois anos depois foi a contratação de Carlitos Tevez, argentino com um currículo extenso para um jovem de 20 anos: ídolo do Boca Juniors, onde foi campeão nacional e da Libertadores em 2003, e medalha de ouro na Olimpíada de Atenas, em 2004, pela seleção. Carlitos ganhou o coração dos corintianos instantaneamente, e naquele começo de 2005, poucos torcedores se importavam se os quase US$ 20 milhões pagos - a maior contratação do futebol brasileiro em valores - pelo jogador tinham vindo da máfia russa ou de ações ilícitas de fora do País.

No dia em que se apresentou ao clube, 14 de janeiro de 2005, os conselheiros mais velhos do Corinthians diziam que só tinham visto uma mobilização daquela quando o time havia contratado Mané Garrincha, nos anos 60. Câmeras de TVs, transmissões ao vivo para o Brasil e para a Argentina, e uma penca de jornalistas estrangeiros estavam no Parque São Jorge na chegada de Tevez. Repórteres portenhos diziam que a vinda de Carlitos ao Brasil era o maior acontecimento do futebol sul-americano dos últimos anos. "Estou feliz por estar no Corinthians, que é um clube igual ao Boca", foram suas primeiras palavras.

Nasceu e cresceu numa das favelas mais violentas de Buenos Aires, conhecida pelo nome de Forte Apache. Mas não se envergonhava disso.

"Eu me identifiquei muito com os corintianos. É gente humilde, sofrida, de bairros pobres como eu fui. Fico encantado que me vejam como um dos seus ", afirmou o jogador certa vez em uma entrevista à revista Placar.

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No seu primeiro jogo, Carlitos levou 50 mil pessoas ao Morumbi para assistir à vitória de 1 a 0 do Corinthians sobre o América pelo Campeonato Paulista. Sentiu-se em casa. No dia em que completou 21 anos, fez seu primeiro gol dos 31 que marcou com a camisa corintiana na vitória diante da Inter de Limeira, também pelo Paulistão. Com Tevez, e o time batizado de Galácticos, o Corinthians conquistou o controverso título Brasileiro de 2005. O argentino foi o principal jogador da equipe, e teve sua grande atuação no histórico 7 a 1 em cima do Santos. Aquele dia ele fez três gols.

Sua saída do Parque São Jorge, no entanto, foi da pior maneira possível. Depois da eliminação na Libertadores de 2006 e da Copa da Alemanha, Tevez bateu de frente com o técnico Leão - foi a deixa para Kia levá-lo embora junto com o volante Mascherano, outro argentino bom de bola. A MSI, que prometeu transformar o time em Number One, começava a ruir - e a conta viria dois anos mais tarde, com o rebaixamento para a Série B do Brasileiro. Ainda há dirigentes que acham possível repatriar Carlitos Tevez, hoje estrela do Manchester City, da Inglaterra. Talvez ele volte um dia como todo bom corintiano.

Texto publicado em caderno especial do 'Jornal da Tarde' de 13/8/2010

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