Achei que eu nunca escreveria a respeito de uma vitória de Michael Bisping sobre Anderson Silva, mas, vejam só, esse dia chegou. Por mais difícil de prever que fosse, o lutador inglês mereceu o resultado pelo que fez na atração principal do UFC Fight Night 84, no sábado, e alcançou o maior triunfo de sua já veterana carreira. Já o "Spider" talvez precise repensar algumas coisas se quiser continuar competindo, apesar de ter apresentado bom nível em alguns momentos do combate.
Choro. Pontuar uma luta de MMA tem suas complexidades, mas, reclamação do Anderson a parte, não entendi tamanha indignação com a decisão dos jurados. Esquiva de costas para grade é bonito, exótico, há quem diga "genial", mas não é o suficiente para ganhar um round. Soco na cara é suficiente, e foi isso que Bisping fez nos rounds de número 1, 2 e 4. O 4º assalto talvez possa ter gerado dúvidas, mas eu concordei com a visão dos juízes laterais. O "Spider" preferiu acreditar em corrupção, mas há quem diga também que "o choro é livre". A efetividade e o pragmatismo venceram o show.
Mea culpa. Eu usei o termo "coração de galinha" para descrever o britânico e admito que foi uma colocação exagerada. Bisping de fato se apavora em alguns momentos, e isso aconteceu no sábado, mas ele teve uma atuação técnica exemplar. Pressionou o brasileiro, usou seu recorrente jab e ganchos com a mão esquerda, combinou golpes em sequência e inclusive conseguiu aplicar um knockdown. Seu aproveitamento de acertos foi de apenas 34%, segundo o Fightmetric, contra 55% do adversário - o que é normal quando se enfrenta Anderson -, mas o inglês conectou 108 ataques significativos contra 75. Não é de se desconsiderar.
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O comum receio que Bisping sente em trocas francas e o natural respeito a capacidade de nocaute de Anderson, acho eu, foram decisivos para o resultado do combate. O inglês não deixava a cautela de lado quando tomava a iniciativa, tirando do "Spider" a possibilidade de contra-ataques limpos. O brasileiro teve momentos de êxito quando escolheu ser o agressor, mas não é a característica dele. Talvez tenha faltado por parte de sua equipe dizer que em uma luta é normal que vença quem bate mais e que o jogo de contra-golpe não estava funcionando.
Faltou a Anderson chutar mais o corpo do oponente, o que ele fez uma vez no 1º round e deu certo, e andar para frente contra um rival conhecido por se retrair quando pressionado. O clinch de muay thai estava dando certo, mas também foi pouco utilizado. O "Spider" do terceiro assalto teria merecido a vitória por pontos ou conseguido um nocaute, o que quase aconteceu - bom trabalho de Herb Dean, o árbitro só deve encerrar a luta depois do estouro do cronômetro quando o competidor está sem condições de se levantar. A atitude que o brasileiro teve de comemorar a vitória sem a certeza do fim do combate foi quase amadora e deu ao britânico mais tempo para se recuperar.
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Futuro. Não adianta culpar as "brincadeiras" de Anderson por suas derrotas, porque ele deve a elas a carreira maravilhosa que teve - e ainda tem. O "Spider" precisa forçar situações que lhe permitam contra-atacar, tirar o adversário do sério ou fazê-lo se afobar já rendeu muito bem ao ex-campeão dos médios. Esse é o estilo dele e eu não acho que ele precise se aposentar, embora já tenha quase 41 anos e talvez esteja mais fácil de ser acertado do que antes. É difícil dizer se um atleta está ou não decadente se ele compete uma vez a cada 13 meses. O que mais faz falta a Anderson, na verdade, é uma equipe que o faça entender que dentro do octógono ele precisa de adaptação. Se Bisping não estava lhe dando brechas, a estratégia tinha de mudar.
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Esse chute frontal foi um dos poucos contra-golpes que entraram limpos.
A Michael Bisping, parabéns pela atuação. Talvez ele realmente não tenha o que é preciso para conquistar o título, ainda mais nessa forte categoria dos médios de Chris Weidman e Luke Rockhold, mas pelo menos agora ele já fez o que muitos julgavam o mais difícil, que era derrotar Anderson Silva. Se não é um lutador brilhante, como eu disse antes da luta e mantenho, o britânico conseguiu ser brilhante dentro de sua proposta.