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Análise e notícias de MMA

Anderson Silva perde para um eficiente Michael Bisping

Lutador inglês conseguiu impor seu burocrático jogo e pressionou o "Spider" sem conceder muitas brechas para contra-ataques

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Por Fernando Arbex
Atualização:

Achei que eu nunca escreveria a respeito de uma vitória de Michael Bisping sobre Anderson Silva, mas, vejam só, esse dia chegou. Por mais difícil de prever que fosse, o lutador inglês mereceu o resultado pelo que fez na atração principal do UFC Fight Night 84, no sábado, e alcançou o maior triunfo de sua já veterana carreira. Já o "Spider" talvez precise repensar algumas coisas se quiser continuar competindo, apesar de ter apresentado bom nível em alguns momentos do combate.

Bisping sofreu, mas mereceu a vitória. Crédito: Niklas Halle'n/AFP Foto: Estadão

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Choro. Pontuar uma luta de MMA tem suas complexidades, mas, reclamação do Anderson a parte, não entendi tamanha indignação com a decisão dos jurados. Esquiva de costas para grade é bonito, exótico, há quem diga "genial", mas não é o suficiente para ganhar um round. Soco na cara é suficiente, e foi isso que Bisping fez nos rounds de número 1, 2 e 4. O 4º assalto talvez possa ter gerado dúvidas, mas eu concordei com a visão dos juízes laterais. O "Spider" preferiu acreditar em corrupção, mas há quem diga também que "o choro é livre". A efetividade e o pragmatismo venceram o show.

Mea culpa. Eu usei o termo "coração de galinha" para descrever o britânico e admito que foi uma colocação exagerada. Bisping de fato se apavora em alguns momentos, e isso aconteceu no sábado, mas ele teve uma atuação técnica exemplar. Pressionou o brasileiro, usou seu recorrente jab e ganchos com a mão esquerda, combinou golpes em sequência e inclusive conseguiu aplicar um knockdown. Seu aproveitamento de acertos foi de apenas 34%, segundo o Fightmetric, contra 55% do adversário - o que é normal quando se enfrenta Anderson -, mas o inglês conectou 108 ataques significativos contra 75. Não é de se desconsiderar.

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O comum receio que Bisping sente em trocas francas e o natural respeito a capacidade de nocaute de Anderson, acho eu, foram decisivos para o resultado do combate. O inglês não deixava a cautela de lado quando tomava a iniciativa, tirando do "Spider" a possibilidade de contra-ataques limpos. O brasileiro teve momentos de êxito quando escolheu ser o agressor, mas não é a característica dele. Talvez tenha faltado por parte de sua equipe dizer que em uma luta é normal que vença quem bate mais e que o jogo de contra-golpe não estava funcionando.

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Faltou a Anderson chutar mais o corpo do oponente, o que ele fez uma vez no 1º round e deu certo, e andar para frente contra um rival conhecido por se retrair quando pressionado. O clinch de muay thai estava dando certo, mas também foi pouco utilizado. O "Spider" do terceiro assalto teria merecido a vitória por pontos ou conseguido um nocaute, o que quase aconteceu - bom trabalho de Herb Dean, o árbitro só deve encerrar a luta depois do estouro do cronômetro quando o competidor está sem condições de se levantar. A atitude que o brasileiro teve de comemorar a vitória sem a certeza do fim do combate foi quase amadora e deu ao britânico mais tempo para se recuperar.

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Futuro. Não adianta culpar as "brincadeiras" de Anderson por suas derrotas, porque ele deve a elas a carreira maravilhosa que teve - e ainda tem. O "Spider" precisa forçar situações que lhe permitam contra-atacar, tirar o adversário do sério ou fazê-lo se afobar já rendeu muito bem ao ex-campeão dos médios. Esse é o estilo dele e eu não acho que ele precise se aposentar, embora já tenha quase 41 anos e talvez esteja mais fácil de ser acertado do que antes. É difícil dizer se um atleta está ou não decadente se ele compete uma vez a cada 13 meses. O que mais faz falta a Anderson, na verdade, é uma equipe que o faça entender que dentro do octógono ele precisa de adaptação. Se Bisping não estava lhe dando brechas, a estratégia tinha de mudar.

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Esse chute frontal foi um dos poucos contra-golpes que entraram limpos.

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A Michael Bisping, parabéns pela atuação. Talvez ele realmente não tenha o que é preciso para conquistar o título, ainda mais nessa forte categoria dos médios de Chris Weidman e Luke Rockhold, mas pelo menos agora ele já fez o que muitos julgavam o mais difícil, que era derrotar Anderson Silva. Se não é um lutador brilhante, como eu disse antes da luta e mantenho, o britânico conseguiu ser brilhante dentro de sua proposta.

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