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Análise e notícias de MMA

Conor McGregor é o pote de ouro do UFC

A estrela irlandesa vai enfrentar neste domingo outro adversário com estilo favorável às suas características de luta

Por Fernando Arbex
Atualização:

Eu não vou fazer uma análise técnica do Conor McGregor porque o mestre Fernando Cappelli acabou de publicar uma e está muito boa, fica aqui a indicação. O meu ponto é que "The Notorious" (O Notável ou O Notório) encara neste domingo um desafio que não vai colocar fim a algumas interrogações, uma vez que Dennis Siver é um bom adversário, mas apenas outra luta estilisticamente conveniente ao irlandês. Antes que dispute o cinturão, dificilmente essas dúvidas terão resposta, já que o Ultimate o protege por ser um produto comercial de valor.

Divulgação Foto: Estadão

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McGregor pode vencer José Aldo? Podemos falar sobre isso no futuro, mas esse parâmetro não é justo com o provável futuro desafiante, o campeão da categoria dos penas é considerado o segundo melhor lutador peso por peso da atualidade. A questão central é que o atleta europeu vem tendo sua fama alimentada por vitórias sobre strikers atrás de strikers, e o que ele próprio é? Um striker. E Siver? Outro striker.

Agora, o que exatamente é um striker? Este é um lutador especialista (ou supostamente especialista) em artes marciais que visam a troca de golpes traumáticos, como no boxe e no muay thai. McGregor apresenta uma postura bem mesclada de boxe com taekwondo, no MMA ele procura desenvolver seu jogo em pé para nocautear o adversário. E ele já se mostrou muito bom nisso, assim como em outra área: falar. O irlandês assume o estilo "ame-o ou deixe-o", provoca todos seus possíveis oponentes (inclusive Aldo), puxa o saco dos patrões, exalta suas raízes nacionalistas e acaba por sua extravagância e carisma promovendo muito bem os seus combates.

McGregor é um nocauteador nato, um homem capaz de lotar arenas e estádios de futebol em seu país, tem boa abertura no mercado europeu e potencial para ser um ótimo vendedor de pay-per-view. Não é um duende leprechaun, mas vale um pote de ouro. Agora cabe uma explicação do porquê ele é tão importante. A Zuffa, dona do UFC desde que o comprou em 2001, reconstruiu a promotora de lutas à base de venda de pacotes de PPV nos Estados Unidos. Isso até o fim de 2011, quando a companhia intensificou seu processo de globalização da marca, passou a visitar muitos países e fechar contratos com emissoras de televisão locais, além do rentável acordo com a FOX norte-americana.

O Ultimate inundou o mercado com um número enorme de eventos, o que para o novo modelo de negócio da empresa foi um sucesso, mas viu recuar a quantidade de PPVs vendida (em 2014, a média foi a menor desde 2005). Há muitos cards ao longo do ano e não há material humano qualificado para esse tanto. Assim, edições ruins e transmitidas em TV aberta ou à cabo nos EUA são salvas por atletas de renome, mas isso desfalca aqueles UFCs de grande porte, diminuindo o apelo deles. Pior, o UFC 152 e o UFC 176 foram cancelados, uma vez que lesões perto de suas datas de realização resultaram no cancelamento das lutas principais. Como os demais combates eram desinteressantes, não havia outra saída.

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Por exemplo, a volta de Anderson Silva em um embate contra o polêmico e vendável Nick Diaz se justifica apenas pelo critério comercial. Ambos são de categorias diferentes e vêm de duas derrotas seguidas. Mas se o PPV render bem, que mal tem? Esse trunfo falta ao ex-campeão peso-leve Frankie Edgar, um competidor do mais alto nível, mas que não possui um estilo de luta plástico, é pouco capaz de promover eventos e já inclusive foi derrotado por Aldo. Para piorar, o duelo entre os dois não foi muito emocionante e em nenhum momento o campeão foi ameaçado, há pouco interesse nessa revanche.

Edgar é mais merecedor que McGregor, mas o UFC não é uma organização preocupada em promover lutas de MMA respeitando justiça e meritocracia. Até por isso o irlandês vem enfrentando adversários favoráveis estilisticamente. Marcus Brimage e Max Holloway são dois strikers, Diego Brandão e Dustin Poirier são dotados de um jogo de chão muito bom, mas raramente buscam a queda por terem preferência pela luta em pé - tudo o que "The Notorious" deseja. Oponentes capazes de derrubá-lo e controlá-lo no solo ou finalizá-lo? Não, deixa para outro momento, muito obrigado.

McGregor tem 16 vitórias e duas derrotas na carreira, ambos reveses aconteceram há mais de quatro anos, nas duas oportunidades ele foi derrubado e rapidamente cedeu a submissões. Provavelmente ele treinou muito wrestling e jiu-jítsu desde então, mas isso faria dele hoje capaz de se manter em pé contra especialistas em quedas ou se defender de finalizações contra bons jiu-jiteiros? Impossível dizer se ele não os enfrenta. Certo é que, apesar de o irlandês ser um rival mais imprevisível e criativo do que Edgar, até para Aldo esse confronto é um bom e lucrativo negócio. O manauara já reclamou de seus rendimentos, embora ele tenha pouco apelo de venda nos EUA, esse duelo pode ser o impulso que falta para Aldo decolar no mercado de PPV.

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