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ENTREVISTA: "É o reconhecimento do meu trabalho", diz Toledo

Um dos melhores defensores da sétima edição do NBB, ala do Pinheiros foi convocado para defender o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em julho

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Convocado pelo técnico Rubén Magnano, o ala Marcus Toledo se apresenta no dia 14 de junho para reiniciar sua trajetória na seleção brasileira. Fora das convocações desde 2012, o jogador do Pinheiros vai defender o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. O objetivo é conquistar o segundo ouro na competição, já fez parte do grupo campeão no Rio de Janeiro, em 2007.

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Excelente defensor, tanto que concorre ao prêmio de melhor jogador de defesa do NBB contra Alex Garcia (Bauru) e Jimmy (Mogi das Cruzes), e atuando em uma posição carente na seleção, Toledo espera se consolidar e, quem sabe, disputar os Jogos Olímpicos de 2016.

Confira entrevista exclusiva com o ala.

O que significa o retorno à seleção brasileira? É algo muito importante para mim. A última vez que atuei pelo Brasil foi em 2012. Mostra que tive uma evolução, que o trabalho foi bem feito para chamar a atenção do Rubén (Magnano).

Espera encontrar muita coisa diferente por lá? Naquela época, o técnico era o Gustavinho, mas o trabalho já era orquestrando pelo Magnano. Sei como ele gosta de trabalhar, é rígido, sério, quer comprometimento do atleta e não poderia ser diferente. Estou à disposição para o que tiver de fazer.

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O que você pode oferecer à seleção? Uma defesa forte, mas sem abrir mão de ter um bom ataque, sempre procurando trabalhar para melhorar. Esta intensidade eu levo dentro de mim, é uma forma de vida. A intensidade de jogo é um diferencial e o que me levou novamente à seleção.

Você conquistou o ouro no Pan do Rio, em 2007, com 20 anos, e agora tem uma nova chance, aos 28. Qual o peso da competição? O Pan é visto muitas vezes como uma competição secundária, infelizmente é assim. Mas é justamente o contrário. É um ouro que será importante para o Brasil na competição. O basquete é o esporte coletivo que mais conquistou medalhas. O Brasil tem um nome, temos de lutar. Vamos com objetivo de conquistar o título, conseguir o ouro, não espero outra coisa. Sabemos que é um torneio muito curto, que um jogo pode te deixar fora da disputa por medalha ou até do ouro.

A medalha de ouro conquistada no Pan de 2007, no Rio (Clayton de Souza/Estadão) Foto: Estadão

A indefinição da vaga direta para os Jogos Olímpicos do Rio interfere no trabalho do grupo? Até o dia 30 de junho, data que a Fiba promete se pronunciar, não sabemos se o Magnano vai com o time para Toronto ou o treinador será o José Neto... Hoje ainda não temos vaga direta na Olimpíada e, para o jogador, é um incentivo a mais, faz você ficar mais focado no objetivo de disputar uma Olimpíada em casa. São etapas que se tivermos de passar, vamos lutar para conseguir. O Pan vai ser usado para isso também, para preparar alguns jogadores para irem para a Copa América. A mentalidade de preparação está sendo muito boa para os dois torneios. E, mesmo se tivermos uma vaga direta, não significa que vamos menos focados para o Pan. Toda vez que você veste a camisa da seleção tem obrigação de ir para ganhar, você não pensa em disputar só por disputar.

O basquete brasileiro está carente de bons jogadores da sua posição, o que fazer? É uma posição complicada de ter e até trabalhar. O jogador que cresce muito vira pivô, o que não cresce é armador. Então é difícil você trabalhar esta posição intermediária. É difícil até o clube apostar nesta posição, te preparar para jogar assim. A posição 3 de ala alto, que pode jogar aberto ou fechado, defender jogando aberto ou fechado, está em falta, mas você já vê clubes trabalhando para ter jogador nesta posição.

A defesa é seu ponto forte. O que o período na Espanha te ajudou nisso? Os dez anos que fiquei lá me ajudaram a polir o meu estilo, ter uma escola me fez crescer como jogador... É importante atacar, ter uma boa carga ofensiva, mas o mais importante é ter uma carga defensiva. Se você não defender não consegue atacar. Se você não desgastar o seu oponente na defesa ele vai jogar o jogo todo como ele quiser. Já vejo evolução no Brasil, muitos times focando na defesa. Na hora de contratar avaliam o quanto o jogador pode oferecer na defesa. Essa mudança está sendo bastante positiva não só para os times, mas por estar chegando à seleção.

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Qual a principal diferença do basquete espanhol para o brasileiro? É não ter o foco apenas na linha final, quando o jogador chega no adulto para ter investimento. É necessário fazer um trabalho com jovens de 14, 15 anos para saber o que ele pode te oferecer lá na frente. Você tem de trabalhar com o jogador, treinar sistemas de jogo, não apenas pensar em ganhar campeonatos (na base), mas em fazê-lo evoluir. Hoje você já tem Pinheiros, Bauru, que são equipes que estão realizando este trabalho.

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A influência da NBA também é menor na Espanha... A NBA tem muita influência no basquete brasileiro. Os melhores jogadores, tecnicamente, fisicamente, estão lá e não adianta negar que não seja uma referência. Na Espanha, se joga muito mais coletivamente, sabendo o momento de cada jogador. Você tem um sistema e tem de trabalhá-lo até o final. Só se ele não der resultado que se parte para o individualismo, para a criatividade. O basquete espanhol me ajudou a ter esta visão coletiva.

Então foi um choque ao voltar para o Brasil em 2013? Não foi tão grande porque o meu primeiro ano aqui, no retorno, foi com um técnico espanhol (Paco Garcia, em Mogi das Cruzes), da escola espanhola e isso acabou ajudando muito na minha adaptação.

Toledo concedeu entrevista em visita ao Estadão (Clayton de Souza/Estadão) Foto: Estadão

Aliás, sua primeira temporada foi muito boa, com o Mogi sendo eliminado apenas na semifinal do NBB... Como foi esta experiência? Por que deixou o clube? Foi uma temporada especial para todos, jogadores, clube, cidade... No começo da temporada tínhamos duas mil pessoas nos jogos do Paulista no ginásio e, no final, quase sete mil no NBB. Esta evolução foi muito gratificante para mim. A equipe perdia para grandes times, com folha salarial muito maior, por dois, três pontos de diferença... É isso foi uma tônica na temporada. Ninguém imaginava que o time pudesse terminar em 12º lugar na fase de classificação e chegar à semifinal, mas o grupo acreditava, porque éramos unidos como time e tínhamos mostrado um bom nível o ano inteiro. Eu acabei não ficando porque não alcançamos um acordo e pareceu uma boa proposta de trabalho do Pinheiros.

Ficou um sentimento de frustração pela primeira temporada no Pinheiros? Frustrado não, porque era um ano de transição. Sempre procuro dar tudo. Bom, para mim, não basta, precisa ser excelente. Até poderíamos ir um pouco mais longe, classificamos em sétimo no NBB e em primeiro no Paulista, mas acabamos sendo eliminados nas duas competições. Isso demonstrou que poderíamos e queríamos ter ido mais longe, mas não foi o suficiente. A NBB é uma competição muito dura, exigente, onde não há espaço para erros.

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Como imagina que será a próxima temporada? O Marcel está de saída e o Claudio Mortari deve voltar a ser o treinador... Estou um pouco aéreo no assunto, esperando para ver o que vai acontecer, qual será o posicionamento da nova presidência, qual linha de trabalho vamos seguir, para ter uma ideia do que será o futuro.

Apesar de não conquistar título, você pode fechar a temporada com o prêmio de melhor defensor do NBB, podendo desbancar o Alex, vencedor nas seis primeiras edições da competição... É uma coisa que estou perseguindo, é minha especialidade. No ano passado, foi o meu primeiro NBB, era um pouco inexperiente na competição, mesmo sendo brasileiro, depois de tanto tempo fora. Concorrer ao prêmio de melhor defensor é o reconhecimento do meu trabalho. Gostaria muito de ganhar, até porque é uma coisa inédita, o único que ganhou foi o Alex. É legal ter esta possibilidade de desbancar o Alex, sempre com uma rivalidade saudável. Ainda tem o Jimmy na disputa, mas, independentemente de ganhar, vou continuar o meu trabalho.

Toledo em ação pelo Pinheiros contra o Palmeiras pelo NBB (Fábio Menotti) Foto: Estadão

Já pensou alguma vez em tentar entrar na NBA? O jogador que falar que nunca pensou está mentindo. Claro que eu posso falar por mim. É uma coisa que almejo, digo até que o (Pablo) Prigioni, que chegou na NBA com 35 anos, é meu ídolo (risos). Sei da minha realidade, difícil acontecer na vida do jogador, são poucos que conseguem chegar. O que tenho de fazer é trabalhar diariamente. Eu até tive chance de tentar, quando estava na idade do draft, mas, naquele momento, eu estava focado em me consolidar na Espanha e fiz uma escolha. Não me arrependo e teria feito novamente.

O basquete não está na sua vida por acaso... A minha mãe jogava basquete, praticamente já nasci com uma bola de basquete na mão. Desde pequeno eu ia aos jogos dela com o meu irmão mais velho e acabou sendo uma coisa natural. Gostava de futebol, claro, como todo garoto brasileiro, mas me destacava no basquete. Tive uma experiência muito boa no Monte Líbano, quando peguei seleção paulista, brasileira... O meu irmão Douglas sempre era quem cuidava de mim, me levada para os treinos e fez isso até cada um ter de seguir o seu caminho. Até hoje ele é meu ídolo maior. O basquete é tão de família que o destino colocou na minha vida minha esposa (Maria, que é catalã), que também jogava basquete, foi até o juvenil, e que tem uma família que também respira o esporte.

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