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Tabelinha entre tática, opinião e informação

A febre do Ouro!

O Brasil comete pecados originais quando o assunto é futebol e Jogos Olímpicos; insisti na tese de "time dos sonhos", não observa que essa modalidade é para atletas de base e ignora o fosso de motivação entre a Olimpíada e a Copa do Mundo.

Por Maurício Capela
Atualização:

De quatro em quatro anos, tem sido assim: uma generosa mistura de ansiedade, expectativa e certeza de que o Brasil, no futebol, é os Estados Unidos, no basquete. Nos Jogos Olímpicos, então, o lenga-lenga de "time dos sonhos" ganha corpo, principalmente porque ambos estão sendo disputados simultaneamente.

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Mas como se já não bastasse o erro de origem, uma vez que futebol e basquete são esportes distintos, com apenas algumas nuances inspiradoras de lado a lado, a pressão para que o Brasil, na bola, alcance a desejada medalha de ouro tem feito um mal danado ao esporte mais popular do País.

 

O futebol é um esporte que não guarda comparação. Nele, uma equipe com poucos recursos, fraca tecnicamente e sem grandes estrelas pode fazer história. Pode ser campeã. Nos demais esportes, coletivos e individuais, esse cenário já é mais raro, para não dizer impossível.

Mas o Brasil, além de ignorar esse óbvio cenário, vai mais longe e erra. É um erro viciante, desses que se repetem sem que o pecador tome ciência sobre. E o ponto desse emaranhado de más opções está nos atletas acima dos 23 anos.

Como o Brasil é protagonista no mundo da bola, geralmente, os atletas acima de 23 anos são estrelas do futebol mundial. São craques em consagração ou já consagrados. São ídolos.

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Ainda que despertem interesse pela competição, desejo por auxiliar e gana por marcar o nome na história, a motivação da Olimpíada para os jogadores não é a de Copa do Mundo. Não foi, não é e cá arrisco dizer que jamais será.

Aqui, nem cabe citar o nome de um ou outro atleta. Não é esse o caminho. O caminho é se conscientizar que essa disputa olímpica no futebol é para jogadores de base. Nem para profissionais talvez o seja.

Insistir em técnicos renomados, jogadores consagrados ou mesmo famosos com menos de 23 anos é fomentar um sonho irreal: de que no futebol cabe a expressão "time dos sonhos", quando, na verdade, o futebol jamais comportou essa ideia. O Barcelona de Messi não o é, o Santos de Pelé não foi, o Real Madrid de Di Stéfano também não e nem o Flamengo de Zico.

Por quê? Porque o futebol não trabalha com o conceito de supremacia absoluta. Nele, o mais fraco a qualquer momento, sem aviso, pode alvejar o mais forte e jogá-lo ao centro das críticas. E dali para uma sucessão de fracassos é um pulo. Um dedo de desequilíbrio emocional e se foi o melhor do mundo.

Então, que esta Olimpíada sirva de lição definitiva. E coloque de uma vez por todas os pingos no "is". Futebol é feito de talento, claro, mas também de interesse, que pode se traduzir em desejo, em comprometimento, em vontade, em gols e vitórias. Sem isso, pode-se montar a seleção do Mundo, que ao enfrentar o time dos piores verá de perto a face da derrota. E isso só acontece no futebol!

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