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Tabelinha entre tática, opinião e informação

Cobrança exagerada?

Cultura da hegemonia turva análise sensata de torcidas, cria ambiente de cobrança desmedida e joga o clube numa eterna panela de pressão, mesmo que os fatos apontem na direção da temporada possível e não da sonhada.

Por Maurício Capela
Atualização:

A cantilena existe e não é de hoje no futebol brasileiro: clube grande tem pressão. Sim, pressão. Pressão por goleadas, por bons jogos em clássicos, por títulos, enfim, por vitórias. A pressão no País parece se resumir ao verbo vencer, chutando para escanteio qualquer discussão pouco mais profunda sobre como se deu a vitória ou mesmo a conquista do campeonato.

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Time bom no Brasil, então, virou sinônimo de equipe vencedora de campeonatos. Ganhou? Ótimo, está tudo bem! Perdeu a final? Bem, vamos reavaliar e blá blá blá.

Só essa crença desmedida parece justificar os recentes protestos de algumas torcidas de clubes brasileiros, como, por exemplo, a do Corinthians. Senão, vejamos.

O Corinthians não tem podido contar com o dinheiro das arquibancadas, fruto dos acordos contratuais para honrar o fundo responsável por ter viabilizado a tão sonhada Arena Corinthians. Além disso, o clube tem sido alvo dos mercados chinês,europeu, árabe, entre outros, decorrente dos títulos recém-conquistados. E no ano passado se viu num beco sem saída, depois da decisão do técnico Tite em assumir o comando da Seleção Brasileira, que vivia uma crise poucas vezes vista em sua história. E detalhe: não caiu e quase chegou à Libertadores de 2017.

Portanto, faz sentido a gritaria à luz dos fatos? A este blog, não, mesmo sendo legítima a manifestação.

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O curioso é que esse comportamento não se resume ao Corinthians. Durante o reinado do clube paulista nos últimos anos, outras torcidas também protestaram. E muito! Casos de Flamengo e Palmeiras, hoje consideradas as coqueluches da temporada 2017. Isso, sem contar Vasco da Gama, São Paulo, Botafogo e por aí vai...

Em outras palavras, parece ter se instalado no futebol brasileiro o desejo da hegemonia pela hegemonia sem nada se levar em conta. Ou seja, simplesmente pela vontade de se manter no topo, como se não existisse vida inteligente no clube rival.

Não se avaliam cotas de televisão, infraestrutura, contratações (possíveis com o dinheiro das cotas), filosofias de jogo, nada. O que importa é vencer e ponto final.

É claro que externar a insatisfação faz parte do futebol no mundo, e é bom que assim seja, mas no Brasil parece ter assumido contornos aquém do normal. O corintiano gostaria de estar na Libertadores neste ano? A resposta é óbvia e é sim. Mas atentando para os fatos já elencados, esse desejo poderia ter sido, de fato, alcançado? A este blog, em nenhum momento.

No entanto, em que pese a racionalidade do post, cabe uma inflexão a todo e qualquer dirigente do futebol verde-amarelo. O dirigente precisa pisar no freio do discurso hegemônico. E se comportar com naturalidade diante do mau resultado, explicando de maneira serena o que aconteceu, dando satisfações claras e não lançando mão de muletas. Seria bom também passar a comemorar o bom resultado possível alcançado.

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Caso contrário, o efeito será as crescentes manifestações desenfreadas e que nada têm nexo com a realidade demonstrada pelo clube ao longo da temporada-alvo das manifestações

Hoje, por exemplo, quem está na linha da cobrança por títulos no Brasil, fruto dos investimentos feitos e do desempenho apresentado em 2016, pela ordem, é Palmeiras, Flamengo, Atlético Mineiro e Grêmio. O restante, por mais tradição e grandeza que tenha, está destinado ao papel de surpresa em 2017.

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