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Tabelinha entre tática, opinião e informação

Efeito Duda Amorim

É a segunda vez que o Brasil tem uma atleta eleita como a melhor jogadora do mundo, o que desafia esse esporte a não repetir os erros de outras modalidades e evitar a fórmula do futebol, que vende o artista, mas não o espetáculo.

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Por Maurício Capela
Atualização:

O slogan, talvez, atrapalhe... Essa história de "País do Futebol" deve tirar um pouco do desejo, do entusiasmo ou do dinheiro de quem pretende praticar ou investir em outra modalidade esportiva de alto rendimento no Brasil, que não seja o esporte bretão.

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Mesmo que o sujeito, quando criança, demonstre lá uma boa dose de aptidão para segurar a raquete ou tenha boa habilidade com as mãos, é com os pés que o Brasil virou ícone no mundo. E transpor essa barreira, está longe de ser fácil.

Mas quem consegue certamente traz consigo uma ponta de genialidade. Traz porque até virar atleta de alto rendimento percorre-se uma via crúcis daquelas. Primeiro, é preciso que a família não só dê o suporte emocional necessário, mas intere algum no fim de cada mês, porque caso contrário a conta não fecha. Imagine quanto não se consome para dotar a talentosa criança que deseja praticar tênis? Judô? Tênis de mesa? Ginástica olímpica?

A lista, claro, é extensa. E certamente alguns saem mais em conta que outros. Mas o que sempre sai caro é o desgaste emocional à procura de um lugar em que o jovem talento possa ter contato, de fato, com o dia a dia daquela modalidade. E mais. Que possa se sentir confortável, à vontade para que suas habilidades apareçam e se confirmem.

É justamente essa infraestrutura que ainda carece de maiores ajustes no País, porque à medida que surgem ídolos em esportes que não o futebol, o que imediatamente acontece, é o despertar do desejo em praticar essa mesma modalidade em um sem número de jovens. E invariavelmente o Brasil não costuma tirar proveito desse cenário.

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O exemplo da vez é o handebol feminino. Nesta semana, a catarinense Duda Amorim foi eleita a melhor jogadora da modalidade do mundo. Um feito que já tinha sido alcançado pela também brasileira Alexandra Nascimento em 2012. Sem contar que a seleção brasileira já havia colocado seu nome na história ao vencer o Mundial da categoria em 2013.

O handebol, portanto, tem nas mãos o que há de mais precioso no mundo do esporte: ídolos. E deve evitar a todo custo perder o bonde dessa história, como aparentemente aconteceu com o tênis no Brasil, que pouco explorou o fenômeno Gustavo Kuerten, o que, de fato, poderia ter sido o estopim para o grande salto em direção ao estrelato da raquete.

Duda, Alexandra, conquistas mundiais devem formar a base para que esse esporte se desenvolva de vez no Brasil. E passe a "fabricar" em série atletas desse nível, além de segurá-las no território nacional.

O handebol não pode e não deve copiar a fórmula que hoje o futebol brasileiro parece ter adotado como receita, o de ser mero exportador de pé-de-obra. Não!

Há exemplos melhores quando o assunto é esporte coletivo, como o vôlei, que além de revelar temporada após temporada novos talentos, ainda os mantêm por aqui, sem prejudicar o nível de competitividade das seleções masculina e feminina.

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Em outras palavras, é possível desenvolver qualquer modalidade esportiva no Brasil, desde que não se opte pelo fácil caminho de formar e vender jogadores. A adoção dessa simples equação pode até resolver problemas financeiros imediatos, mas impede que a estrutura tão importante a qualquer esporte seja desenvolvida por aqui.

E o resultado dessa cartilha? Bom, o futebol já conhece. Talentos rareiam, seleções se enfraquecem e a competitividade começa a ficar comprometida.

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