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Futebol busca o monopólio dos esportes

Tecnicamente, será um desastre, mas o Mundial dos 48 vai abraçar os países populosos, cuja qualidade técnica ainda não é suficiente para se classificar a uma Copa, mas o interesse por futebol existe e é crescente.

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Por Maurício Capela
Atualização:

Esqueça a bola, o gol ou os jogadores. Esqueça o time, o país ou a região. Esqueça! O que está em jogo, neste momento, é a hegemonia global do futebol frente as demais atividades esportivas. A aprovação de um Mundial com 48 seleções mira, na verdade, os países populosos, cujo talento com a bola ainda não passa de uma miragem, e, portanto, teriam muita dificuldade em conseguir uma vaga em meio as 32 hoje existentes para a Copa do Mundo.

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Além da busca insana por se tornar o esporte número um no planeta, o futebol neste novo formato vai estufar o cofre. As cifras serão nababescas, com a ampliação de 32 para 48 seleções. A audiência da televisão vai aumentar, os patrocínios também e novos mercados serão abertos.

Hoje, olhando para o Mundial com 32 seleções, qual é a chance de a Índia se classificar para o torneio? Ou a China passar de fase em uma Copa? Agora, imagine dois bilhões de pessoas falando ainda que superficialmente sobre futebol ao longo de 35 dias. Captou? Só isso, já será uma janela de oportunidade enorme para o marketing mundo afora.

Tecnicamente, ora, tecnicamente será um desastre. Os jogos fatalmente decairão no que diz respeito à qualidade e a probabilidade de situações constrangedoras, como aumento de lesões em estrelas de primeiro nível, farão parte do caminho sinuoso que o futebol agora trilhou.

Mas quem se importa? Afinal, esse futebol 4.8 vem sendo costurado há quase três décadas, quando o esporte ingressou no maravilhoso mundo do marketing esportivo, a reboque da globalização. Passaportes foram flexibilizados, ligas foram organizadas e a hegemonia sócio-econômica vista no Primeiro Mundo iniciou o processo também no esporte bretão.

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Um punhado de clubes sul-americanos, por exemplo, sempre competitivos nos antigos Mundiais de Clubes, passaram a ser coadjuvantes, como "sparrings" de luxo dos grandes da Europa. E muitos aplaudiram, acharam bom até.

Hoje, o Mundial de Clubes da Fifa é um torneio cuja competitividade é diminuta, uma vez que já se sabe quem provavelmente levará o caneco, dada a distância técnica entre os times europeus e os demais.

Na Copa do Mundo com 48 seleções, esse quadro pouco irá se alterar, com exceção de situações inesperadas, como uma contusão de um craque ou um erro de arbitragem. No mais, as seleções campeãs do mundo continuarão favoritas e as surpresas continuarão existindo. Não vão aumentar porque aumentou o número de seleções.

Aliás, por falar em arbitragem, esta sim deveria sofrer profundas modificações. Ser profissionalizada de vez no mundo, por exemplo. E assim treinada, e assim cobrada e assim fiscalizada. Arbitragem que deveria receber a saudável ajuda da tecnologia, uma vez que a demanda será insana por juízes de futebol. Numa conta simples, será só o dobro em relação ao Mundial de 2014.

Portanto, a Copa dos 48 nada mais é que uma evolução do negócio futebol. E que suporta a lógica de hegemonia frente as demais modalidades esportivas. Em outras palavras, o futebol de ontem acabou hoje em Zurique. Vem aí o futebol 4.8, turbo, último tipo.

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