Bem, fosse a CBF uma entidade privada, como de fato é, e proprietária da seleção, não haveria qualquer problema. Empresas empregam seu patrimônio como bem entendem. Sua finalidade é o lucro e ponto final. Assim funciona o capitalismo, quer dizer, o mundo.
Agora, há um pequeno porém. A seleção brasileira, aquela detentora de cinco títulos mundiais, e que foi humilhada em casa pelos 7a 1, é, até prova em contrário, um patrimônio não da CBF, mas do povo brasileiro.
Mesmo que ela, essa seleção, tenha se afastado significativamente do seu povo, ainda faz parte, no mínimo, da nossa memória afetiva. Gente mais madura lembrará de conquistas históricas, como a da Copa de 1958, nosso primeiro mundial. Ou da Copa de 1970, a do tri, no México, a mais linda conquista entre todas. E mesmo a mais recente, a de 2002, o Penta na Copa do Japão-Coreia. Mas lembramos também das derrotas doídas. A catástrofe de 1950, diante do Uruguai, o colapso do lindo time de Telê Santana em 1982, diante da Itália de Paolo Rossi. São derrotas que nos solidificam como nação. Nos dão a consistência do sofrimento. Geram mitos, como o de Obdulio Varela, e literatura, como a de Nelson Rodrigues, responsável pelainvenção do conceito de Complexo de Vira-latas, que tão bem nos define.
Quer dizer, a seleção faz parte da nossa ainda incipiente identidade nacional. Era, desse processo de construção identitária, um tijolo constituinte e indispensável. Coloco o verbo no passado, pois já não se pode dizer que a seleção seja nossa. Não bastava vê-la desfigurada por imposições de mercados, escalada com jogadores que atuam em outros continentes: agora a sabemos vendida, alugada a uma empresa de fachada, que detém seus direitos até o ano 2022!
Em qualquer país sério, isso seria motivo para intervenção imediata na entidade, denúncia desse contrato e processo contra seus autores.
Mas o atual presidente da CBF, o Sr. Marco Polo del Nero, já garantiu que o contrato não é tão ruim assim...