Há uns dois anos estive em Buenos Aires e fui visitar a Bombonera. Um estádio mítico. Equivalente, para mim, ao da Vila Belmiro.
Um guia muito simpático nos recebeu no estádio do Boca Júniors e mostrou os atrativos da casa. Entre os quais um museu interessante, no qual se descobre que o brasileiro Paulo Valentim foi artilheiro do Campeonato Argentino por dois anos. Jogando pelo Boca.
Nos mostrou as arquibancadas e, atrás de um dos gols, pediu que o grupo pulasse em conjunto para apreciar a mitológica mobilidade do concreto da Bombonera. Depois explicou. "É o que faz a nossa torcida. Embaixo fica o vestiário dos adversários. Vocês podem imaginar o que eles sentem quando milhares de pessoas pulam sobre suas cabeças", disse, com um sorriso.
Depois nos levou a outra parte da arquibancada e explicou que era reservada à torcida adversária. "Aqui, no verão, o calor é insuportável. No inverno, o vento gela a alma".
Podia ser tudo graça que o rapaz fazia conosco. Mas esse é o espírito. Futebol é guerra, pressão. Vale vencer apelando não apenas para o melhor futebol (este pode ser um mero detalhe), mas a todas as formas de constrangimento e intimidação.
Como manter essa disposição bélica em limites, digamos, civilizados? Não se sabe. Ontem, o Boca, ou alguns torcedores do Boca, passaram com folga desses limites. Gás de pimenta nos jogadores do River não dá, né? O futebol é imitação da guerra. Quando vira guerra, pura e simples, já não é mais nada.