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Um blog de futebol-arte

O sentimento de revolta pode ser poderoso aditivo *

Camilo Zúñiga não recebeu qualquer punição pela entrada equina que deu em Neymar, pelas costas, alijando-o da Copa. Isto é a Fifa, senhores, a mesma que usou de rigor excessivo no caso de Luis Suárez. Para a mordida que nem arranhou o ombro de Chiellini, uma pena draconiana. Para uma joelhada na coluna vertebral, com força suficiente para partir uma vértebra, nada. O que esperar desta entidade? Sempre o pior, eu diria.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

E, no entanto, a Copa do Mundo continua. Sem Neymar, enfrentamos hoje a temível Alemanha. Sem Neymar e seu o capitão Thiago Silva, que recebeu o segundo cartão amarelo no jogo contra a Colômbia. O substituto de Thiago é Dante, o que é óbvio. Quem entra no lugar de Neymar? Willian? Ou Felipão reforça a defesa, com três zagueiros, fecha o time e seja lá o que Deus quiser? Veremos hoje à tarde. Dá para passar? Dá. Mas vai ser bem complicado. Caso aconteça, será épico. Algo bem ao gosto do técnico gaúcho.

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Nestes dias falou-se muito de uma situação tida como similar, a contusão de Pelé na Copa de 1962. Uma distensão muscular, no segundo jogo, que o tirou do resto da Copa. Dizem que Amarildo entrou em seu lugar e deu conta do recado.

Ora, essa história só é parecida por um aspecto: nos dois casos, uma contusão tira da Copa o principal jogador da seleção. Em todo o resto, só há diferenças. A começar pelo começo, com perdão da redundância: Neymar não é Pelé. Por melhor que seja, ninguém se compara ao Rei. Em 1962, Pelé se contundiu no segundo jogo, no empate em 0 a 0 contra a Checoslováquia. Sofreu uma distensão ao dar um chute violento que bateu na trave e não entrou. Neymar avançou até a quinta partida. Se Pelé machucou-se sozinho, Neymar foi tirado da Copa por um jogador desleal. Pelé foi substituído por Amarildo, que deu muito bem conta do recado. Sem ser Pelé. Quem assumiu a responsabilidade pela conquista no Chile foi Mané Garrincha, que, sempre genial, saiu até de suas características, driblando para o meio, fazendo gol de canhota e até de cabeça. Superou-se. Reinventou-se para ganhar aquela Copa do Mundo, o bicampeonato brasileiro. Então, hoje, não se deve perguntar se temos um Amarildo para substituir Neymar, mas se temos um Garrincha para suprir a falta do mais importante jogador do time. E todos sabem que a resposta para isso é não.

De modo que, para passar pela Alemanha, a seleção brasileira precisará também se reinventar. Por paradoxo, sem Neymar, Felipão poderá montar um time mais próximo das características de que mais gosta. Zaga forte, muita marcação no meio de campo e atacantes capazes de colocar pelo menos uma bola para dentro da meta adversária numa das poucas chances criadas. A seleção terá de fazer uma marcação rígida a um adversário que tem mais jogadores capazes de decidir que os nossos.

Caso se iguale na parte tática, poderá fazer a balança inclinar-se a seu favor pelo coração. Pela ideia de missão a ser cumprida, porque joga em casa, porque sofreu injustiça e perseguição. Não é preciso que isso seja verdade. Basta que os jogadores se convençam disso. E a torcida também. O sentimento de injustiça pode ser um poderoso aditivo. Não detectável nos exames antidoping.

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* Minha coluna, publicada hoje no Caderno de Esportes do Estadão

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