Até o ano passado, o PCdoB controlava o Esporte. Além do ministro Aldo Rebelo, a pasta tinha outros dois homens-fortes lá dentro: o secretário-executivo Luis Fernandes e o secretário de Alto Rendimento, Ricardo Leyser. Na reforma ministerial para o início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, o PCdoB pediu a pasta de Ciência e Tecnologia. Técnico da área, Luis Fernandes acompanhou Aldo para lá.
Quando a decisão de alocar o PRB no ministério foi anunciada, a escolha foi alvo de críticas vindas de todas as partes: confederações (em reservado), atletas e até mesmo políticos ligados ao esporte, como o hoje presidente da Frente Parlamentar Mista de Esporte, João Derly (PCdoB), questionaram a escolha.
Sem nenhuma experiência no esporte, George Hilton, deputado federal por Minas Gerais, pareceu ter caído de paraquedas no ministério. Bombardeado de críticas, num primeiro momento tomou a decisão de se cercar de técnicos, escolhendo Leyser para a secretaria-executiva e Ricardo Trade para o Alto Rendimento. Os dois estavam em cargos "trocados" (Leyser vinha trabalhando com esporte de alto rendimento e Trade com organização de grandes eventos), mas prometiam trabalhar em sinergia.
Desde o discurso de posse, Hilton expressou que o legado que queria deixar à frente do ministério seria na área de Educação, Lazer e Inclusão Social. Não à toa, escalou para a pasta um dos principais articuladores do PRB, Carlos Geraldo, presidente do partido em Pernambuco.
A situação começou a sair do controle quando começaram a surgir as primeiras notícias dando conta de que Ricardo Trade assumiria como CEO da Confederação Brasileira de Vôlei. Anunciado em janeiro, ele só foi nomeado secretário de Alto Rendimento no dia 25 de fevereiro. Até então, não apareceu em Brasília. Depois disso, foi assumindo as funções aos poucos. No dia seguinte ao primeiro contato que Trade teve com o Comitê Rio-2016, o UOL já cravava que ele iria para a CBV, inclusive com declaração de dirigente da entidade.
Passaram-se duas semanas e Trade continuou assinando como secretário de Alto Rendimento, sem compromissos públicos e sem contato com a imprensa. Desde que George Hilton assumiu o ministério, a secretaria não apresentou nenhuma medida efetiva, sequer assinou convênios. Está tudo parado desde 30 de dezembro. Amenos de 500 dias dos Jogos do Rio-2016, o governo perdeu três meses de trabalho.
A escolha feita por Trade, de deixar uma cadeira importante do governo, na qual seria o direto responsável pela preparação esportiva do Brasil para a Olimpíada, para assumir um cargo em uma confederação, é uma decisão questionável, porém pessoal. Não sabemos os motivos que levaram Trade a fazer tal escolha, temos que respeitá-la.
Mas é no mínimo estranha a opção por ficar no cargo mesmo depois de a CBV falar abertamente que o contrataria. Assumir um cargo de tamanha importância negociando sua saída. Tal prática seria repudiada no setor público e também deve ser no setor privado. Ninguém assume um cargo de chefia em uma empresa negociando para ser CEO de outra.
Para o ministério do Esporte, porém, aparentemente está tudo bem. O ministro George Hilton disse entender a escolha de Trade, anunciada na terça-feira, e desejou-lhe boa sorte. A decisão, afinal, é boa também para Hilton. Livre das críticas do início do ano, pode começar a abrir as portas do Esporte para o PRB. Na secretaria que era de Carlos Geraldo, fica Evandro Garla, ex-deputado distrital pelo PRB. Três das quatro principais cadeiras do ministério já estão com o partido. Leyser, de reconhecida competência, fica sozinho. Difícil dizer até quando.