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Sua dose diária de esporte olímpico brasileiro

Governo considera medalha a 'única' preocupação para 2016

"Minha única preocupação é ganhar medalhas". Se um esportista dissesse isso, nenhum problema. O atleta tem mesmo que se preocupar em alcançar o topo, mesmo que nem sempre isso seja possível. O problema é quando quem pensa assim é o ministro do esporte de um país. Infelizmente, é o Brasil, organizador da próxima Olimpíada, que tem seu dirigente esportivo máximo dizendo isso.

Por Demetrio Vecchioli
Atualização:

A declaração abre uma entrevista publicada ontem (segunda-feira) pela agência de notícias francesa AFP:"AFP: 'Qual é a sua maior preocupação a um ano do início dos Jogos Olímpicos?'Hilton: 'Minha única preocupação é ganhar medalhas'."

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George Hilton caiu de paraquedas no ministério do esporte. Apresentado pela AFP como um "teólogo", o pastor evangélico e radialista nunca teve relações com o esporte. Caiu na pasta indicado pelo seu partido, que ganhou o esporte quando a presidente Dilma loteou seus ministérios, no início deste segundo mandato.

O Brasil deverá ter cerca de 420 atletas nos Jogos do Rio. Desses, não mais do que 150 vão ganhar medalha. Muitos vão para a Olimpíada com metas muito menores. Chegar à semifinal, bater recorde pessoal, disputar uma final, ser Top 10, Top 5. Os que vão ao Rio pensando na medalha são minoria e isso é absolutamente normal.

Só na prova de 100m rasos em Londres foram 75 inscritos, mas só três medalhas estavam em jogo. Uma delas era de Bolt, outra de Gatlin. A que sobrasse seria disputada por não mais que três atletas. Se outros dirigentes pensassem como Hilton, não teriam enviado 70 atletas com preocupações das mais variadas. Afinal, a medalha é a única preocupação, né?

A um ano da Olimpíada (data simbólica que será comemorada amanhã), o recado que precisa ser passado é de que cada conquista é importante. Para Cesar Cielo, sim, só a medalha interessa. Mas para uma Lohyanny Vicente, que será a primeira brasileira a jogar badminton em uma Olimpíada, uma simples vitória em um set já será motivo de festa.

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Se o governo vira as costas para os feitos desses atletas que têm meta mais humildades, perde a chance de aproveitar os Jogos Olímpicos para criar uma cultura esportiva mais consistente, que englobe mais modalidades gerando resultado, que atraia mais jovens, mais patrocinadores. O ministro, entretanto, não está preocupado com isso. A medalha é a ÚNICA preocupação.

Ainda há um ano para corrigir esse caminho e isso passa obrigatoriamente por uma mudança de postura do governo federal.

 

 

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