PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Sua dose diária de esporte olímpico brasileiro

Governo interfere e polo aquático naturaliza dois para Olimpíada

Por Demetrio Vecchioli
Atualização:
 

Nascido na Sérvia, Slobodan Soro não mora no Brasil. Não tem nenhum vínculo sanguíneo com brasileiros. Não é casado com uma pessoa brasileira. Mas será o goleiro da seleção brasileira de polo aquática no Jogos Olímpicos do Rio-2016. Pouco mais de um ano depois de dar entrada na documentação, o atleta medalhista olímpico pela Sérvia, aposentado da sua seleção nacional, conseguiu a naturalização brasileira. A decisão, do secretário nacional de Justiça, Beto Ferreira Martins Vasconcelos, faz parte de portaria publicada no dia 14 de abril e beneficia também o central croata Josip Vrlic.

PUBLICIDADE

Para que os jogadores pudessem retirar seus certificados nesta quinta-feira e se tornassem oficialmente cidadãos brasileiros, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) precisou interferir junto ao governo brasileiro. 

Nenhum dos dois cumpre a exigência legal de ter residência contínua no País pelo prazo mínimo de quatro anos, mas ambos 

se aproveitaram de exceção prevista no parágrafo III do Art 113 da Lei Federal 6815/1980.

"O prazo de residência fixado poderá ser reduzido (para um ano) se o naturalizando haver prestado ou poder prestar serviços relevantes ao Brasil, a juízo do Ministro da Justiça", diz a legislação. Soro, de acordo com a Portaria publicada no Diário Oficial da União, tem residência permanente no estado do Rio.

Publicidade

Na terça-feira à noite, deixou a concentração do Partizan, em Belgrado (Sérvia), na véspera do jogo mais importante da temporada, o clássico contra o Estrela Vermelha, valendo vaga na final do Campeonato Sérvio. Precisava estar no Rio nesta quinta para receber o certificado de naturalização. Deve voltar para jogar a decisão contra o Radnicki. Vai enfrentar Josip Vrlic, também um brasileiro com residência fixa no Rio.

Em setembro de 2013, a CBDA já falava abertamente como seria o processo. "Vamos tentar na canetada. Se for cumprir o trâmite normal, demora muito. Mas como existiu uma predisposição do governo em ajudar, vamos ver. O Josip já é brasileiro, já o chama de José", disse à época, Ricardo Cabral, coordenador de polo aquático da entidade, a este repórter. "Agora Slobodan da Silva Soro e Josip da Silva Vrlic. Dois novos brasileiros. Que venha 2016", escreveu o dirigente, na noite de quinta-feira, no Facebook, ao compartilhar a imagem que ilustra este post.

REFORÇOS - 

Desde que assinou contrato com os jogadores, em fevereiro de 2014, a CBDA defende que tanto Vrlic quando Soro podem prestar serviços relevantes para o Brasil nos Jogos Olímpicos. 

O goleiro, bronze com a Sérvia em Pequim-2008 e Londres-2012, é reconhecidamente um dos melhores do mundo e atua em uma das posições em que a seleção brasileira, se não chega a ser necessariamente carente, não tem um titular do mesmo nível.

Publicidade

Já Vrlic é um central (o pivô do polo aquático) de 29 anos, que nunca defendeu a seleção croata. Assim como Soro, é amigo pessoal de Felipe Perrone, jogador carioca que chegou a defender o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de 2003 antes de seguir os passos do irmão e escolher defender a Espanha, pátria da avó. Alegando que aqui nunca poderia ser um atleta profissional, foi viver na Espanha e se tornou um dos melhores do mundo. Com a vaga garantida como dono da casa nos Jogos de 2016, voltando à Olimpíada no polo aquático após 32 anos, o Brasil foi atrás de "reforços". Procurou os irmãos Felipe e Kiko Perrone, o ítalo-australiano Pietro Figlioli (filho da lenda da natação brasileira Sylvio Fiolo) e o norte-americano Tony Azevedo (pai do treinador Ricardo Azevedo), quatro dos melhores do mundo. Só convenceu Felipe, com a promessa de que montaria um time forte. Ele mesmo recomendou os nomes de Soro e Vrlic. Kiko, em transição entre a piscina e a carreira em um banco de investimentos, conseguiu que este patrocinasse a montagem de um forte elenco no Fluminense para a Liga Nacional de 2013. Contratou Felipe, Soro e Vrlic, que se mudaram para o Rio. O goleiro, entretanto, teve problemas com o visto de trabalho e não chegou a ser inscrito. Nunca jogou por um clube brasileiro. O croata, que havia defendido o Botafogo por um fim de semana em outra passagem de Perrone pelo Rio, ainda jogou a Liga pelo Flu. A busca em um site sérvio mostra que o goleiro defendia o Partizan Belgrado em

maio de 2014

, passou novamente pelo Rio, e estava de volta à equipe em

janeiro de 2015

. Não morou um ano completo no Brasil, portanto. Já Vrlic, oito meses após assinar com a CBDA, já estava defendendo o Radnicki na Liga dos Campeões da Europa.

Publicidade

SEIS GRINGOS -

Com a naturalização de Soro e Vrlic, o Brasil deve jogar a Olimpíada com seis "gringos". Também fazem parte da equipe o espanhol Adrian Delgado (filho de pai brasileiro, chegou a jogar pelas seleções de base da Espanha e hoje mora em São Paulo), o italiano Paulo Salemi (também de descendência brasileira, fala português e mora em São Paulo) e o cubano Ives Alonso (tem mais de quatro anos de residência no País e é casado com uma brasileira), além de Perrone.

Diferente do futebol, por exemplo, no polo aquático um atleta pode alterar sua nacionalidade esportiva durante a carreira, com a condição de que cumpra um período de "quarentena". Como Soro não joga pela Sérvia desde o bronze olímpico em Londres e Vrlic nunca defendeu a Croácia, ambos podem reforçar o Brasil assim que forem regularizados junto à Federação Internacional (Fina).

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.