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Futebol: bastidores e opinião

Dunga não mudou

Novo técnico da seleção repete velhos conceitos e evoca o comprometimento

Por Luiz Prosperi
Atualização:

Dunga revelou seus pensamentos a respeito do futuro da seleção brasileira na sua primeira entrevista após ser empossado pelo quarteto que de fato manda nos destinos do futebol no Brasil - Gilmar Rinaldi, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero e Alexandre Gallo - nesta terça-feira. Sinceramente, não vi nada de novo.

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Dunga não mudou, não evoluiu e não deu pistas que vai rever o seu jeito de ler o futebol. Irônico, às vezes. Sarcástico, quase sempre. Sisudo a todo momento. Repetiu inúmeras vezes o bordão do "comprometimento", como se fosse o dono desse conceito e ninguém mais.

Uma das frases dele me chamou atenção: "Defesa também é futebol arte".

Os que defendem Dunga com base nos números da sua primeira passagem pela seleção não podem se esquecer das vaias que levou no Mineirão (Fora, Dunga, seu jumento), no Beira-Rio (Burro) quando o Brasil ia mal nas Eliminatórias, o fiasco na Olimpíada e a campanha pífia na Copa de 2010.

Quanto aos conceitos de Dunga sobre o futebol recorro à entrevista que concedeu ao site da Fifa na semana que o Brasil levou a lavada (7 a 1) da Alemanha e a final da Copa.

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Acompanhe:

Como treinador e, agora como torcedor também, como você viu aquele apagão da Seleção Brasileira no primeiro tempo contra a Alemanha? Acho que a Alemanha fez o que o Brasil fazia há muito tempo: montou um triângulo num lado do campo e depois passou a mudar o jogo, com passes de 40, 50 metros. E a vantagem é que ela tinha o jogador ideal do lado oposto, que era o (Thomas) Müller, com velocidade e qualidade para dar sequência. É até delicado falar que eles não fizeram nada de anormal ou de excepcional. Mas eles fizeram, sim, porque isso é simplesmente o que todo time sonha em fazer. A Alemanha jogou em bloco, teve aproximação, profundidade, velocidade e soube se defender nos momentos certos. Ao mesmo tempo, se a gente reparar nos gols, os brasileiros estavam sempre em superioridade de marcação - mas a quatro ou cinco metros de distância. E, hoje em dia, quando é preciso jogar de forma bem compacta, dar esse espaço pode ser fatal.

Time ideal "As pessoas têm que entender que uma seleção não é montada só com os melhores jogadores, mas, sim, com aqueles que se encaixam nas características de que você precisa. O futebol se equiparou muito. O problema é que, no Brasil, a gente acha que, se um jogador é excepcional, ele não precisa ter função tática. É essa mentalidade que precisa mudar."

Acredita que a Copa das Confederações ajudou a aumentar a pressão nos jogadores ou a fazer com que acreditassem que o time estava pronto para ganhar uma Copa do Mundo? Não tanto. Independentemente da competição, o Brasil sempre é um dos favoritos, e o jogador precisa saber viver com essa pressão. Temos jogadores nos melhores times do mundo - Real Madrid, Barcelona, Chelsea -, que estão acostumados a ganhar. Acho que a Copa das Confederações deu, sim, mais confiança a eles. E foi bom passar por isso, para encerrar aquele receio sobre a Copa do Mundo. No fim, o torcedor abraçou a Seleção Brasileira, apoiou em todos os jogos, até mesmo neste contra a Alemanha. Eu tive experiências contrárias, como em um jogo de eliminatórias contra a Argentina, em Minas, no qual fomos vaiados durante 90 minutos. Desta vez não houve isso.

"O problema é que, no Brasil, a gente acha que, se um jogador é excepcional, ele não precisa ter função tática. É essa mentalidade que precisa mudar."

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Após a derrota de 2010 houve o início de um novo ciclo na Seleção. Agora, provavelmente, vai acontecer o mesmo. Quais lições você acha que podem ser tiradas dessa experiência atual? Bom, isso é algo para quem está lá dentro. Agora, qualquer seleção que venha a uma Copa do Mundo tem que ter uma programação, e suas decisões têm que ser respeitadas. Eu fui muito criticado por deixar os jogadores mais concentrados, mas é difícil para os outros entenderem que, com o espaço de tempo sendo curto, você precisa aproveitar tudo da melhor maneira possível. Para uma seleção, Copa é trabalho. Para quem está ao redor, é uma festa. Então, tem que saber dividir bem, porque a cobrança será alta. Haverá discussões, mas, não é porque perdemos que se pode dizer que tudo está errado. Há muitas coisas boas que precisam ser aproveitadas.

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A Holanda mesmo, que ganhou do Brasil em 2010, manteve uma base experiente e conseguiu essa continuidade. A Alemanha também. Acha que faltaram elos com a geração antiga do Brasil, principalmente no que diz respeito à experiência? Como disse, não é porque se perde que tudo está errado. E também não é porque um jogador está com idade mais avançada que ele não pode mais atuar. O Klose, por exemplo, tem 36 anos e é o maior goleador da história das Copas. Ou seja, é preciso ver a média de tudo e encontrar um equilíbrio, com renovação e jogadores experientes que, na hora da dificuldade, possam chamar a responsabilidade, possam ser líderes em campo e unir a equipe para evitar essas panes como a que aconteceu com a Seleção.

Olhando então para a Seleção, você acha que será preciso uma outra renovação? Ou muitos jogadores têm perfil para continuar e liderar a nova geração para 2018? Vai depender da continuidade e do rendimento que alguns destes jogadores terão. Eles precisam entender que vai haver a crítica e que isso é preciso ser superado. Porque as gerações se criam durante os momentos de dificuldades. Como uma Copa é uma competição curta, sem tempo de recuperação, estes jogadores precisam ser maduros, assimilar o golpe e reagir. Se isso acontecer, acredito que muitos deles tenham tudo para permanecer.

Usando isso como base, você acha que essa Copa traz uma nova tendência para o futebol de hoje, com uma maior busca de gols e times mais no ataque? Veja, não é porque usamos três ou quatro jogadores na frente que teremos obrigatoriamente um time ofensivo. Podemos ter um ou nenhum jogador, e ainda chegar com quatro ou cinco no ataque. São paradigmas que estão sendo quebrados durante a Copa. A única seleção que jogava com três à frente e pressionava o tempo todo era o Chile, mas isso pelas características de seus jogadores. Eles sabiam que, defensivamente, não tinham estrutura física para suportar o choque, então reagiam atacando. No geral, acho que a tendência é ter mais jogadores ofensivos e rápidos, que jogam no erro do adversário. Saíram muitos gols na Copa porque os çatacantes estão cada vez mais eficientes e móveis em campo. E nesse sistema de hoje, com todo mundo marcando junto, voltando atrás do meio de campo para fechar os espaços e atrair o adversário - e, aí, sair com velocidade após a recuperação -, traz bons resultados. O jogo em geral fica mais dinâmico.

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