Recuperar as categorias de base dos clubes e da seleção brasileira seria a redenção do futebol no Brasil após a avalanche do 7 a 1 para Alemanha. Teses e mais teses foram levantadas por especialistas, dirigentes, treinadores, ex-jogadores e até, incrível, o presidente da CBF, José Maria Marin.
Quase quatro meses depois daquela sova histórica no Mineirão, quase nada se fez na tentativa de se revigorar as categorias de base. A CBF inventou um simpósio para discutir o assunto e deu ao técnico Alexandre Gallo a missão de produzir o milagre da multiplicação de ideias e a descoberta de novos talentos.
Gallo não é um catedrático e seu currículo na função de pesquisador e estudioso das mazelas da base do futebol brasileiro cabe em uma caixa de fósforos. É dedicado, trabalhador, mas isso não basta. De qualquer forma, continua lutando nas trincheiras da CBF.
Com Gallo, a CBF pode dizer que cumpre com a sua parte, lava as mãos. E as Federações Estaduais? Essas entidades pouco se deram ao trabalho de ajudar os clubes em busca de alternativas e fontes de receitas para sustentar as categorias de base - até aqui dispendiosas e de pouco retorno.
Vamos ao caso da Federação Paulista de Futebol (FPF), que lançou ontem o Paulistão 2015. Essa entidade mantém regularmente campeonatos estaduais nas categorias Sub-15, Sub-17 e Sub-20 - bons torneios com alto potencial de revelação de jogadores, mas pouco divulgados e mais afeito aos empresários do que aos clubes. E fica nisso.
A FPF, porém, acaba de dar um passo em falso. Em vez de estimular o desenvolvimento da base dos clubes, decidiu barrar a inscrição de jovens Sub-17 e Sub-20 pelos times no Paulistão do ano que vem.
A maioria dos clubes queria a inscrição de pelo menos seis jovens jogadores da base por time no campeonato. O Bragantino não concordou porque há muito tempo não tem categoria de base. Sem a unanimidade dos clubes, a FPF vetou a presença dos jovens.
Um passo atrás que irritou, e muito, o presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, que diz investir R$ 30 milhões/ano na base do clube.
Sem os jovens, é bem provável que a maioria dos clubes do Paulistão vai ficar recheada de jogadores rodados e pendurados nos empresários e grupos de investidores. Assim, como nos campeonatos da base organizados pela FPF, o Paulistão vai servir, mais uma vez, de vitrine aos interesses dos agentes de futebol.
O trauma do 7 a 1 parece interminável.