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Bastidores e curiosidades do Dacar

O Dacar parece um "shopping center"

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Por Ricardo Ribeiro
Atualização:

"Aqui parece um shopping center". Essa frase do Geraldo, mecânico do brasileiro Jean Azevedo, da equipe Honda South America, tem um fundo de verdade quando é feita a comparação entre o Dacar que era disputado em países africanos e agora na América do Sul.

Tirando certa dose de exagero, os tempos são outros e as coisas realmente melhoraram. O Dacar não mete mais medo. É possível comer, dormir, se comunicar e se sentir seguro o tempo todo. Sem contar que você está perto de tudo, em cidades razoavelmente grandes.

 

Todos os participantes do Dacar têm crachás ou pulseiras com chips, que são necessárias para acessar todas as áreas: sala de imprensa, restaurante e para fazer check-in nos ônibus e voos da prova 

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Óbvio que a corrida continua dura e difícil, como sempre, mas a evolução positiva é um convite para a vinda de novos competidores que antes temiam correr do outro lado do Atlântico.

Já estive em quatro edições do Dacar na África e também no Paris-Moscou-Pequim, que praticamente cortou metade do Planeta entre a França e a China, passando por Rússia, Cazaquistão e Mongólia, mas é minha primeira participação na Argentina e Chile.

Tentarei lembrar de alguns detalhes, comparando um e outro.

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Restaurante tem mesas, cadeiras e talheres de metal: bem diferente da África 

SegurançaSem dúvidas é a maior preocupação tanto da organização quanto dos competidores - e as respectivas famílias que ficam em casa torcendo, e rezando, pelos filhos, maridos e irmãos e irmãs.

África x América do SulVárias ameaças de terroristas, rebeldes e saqueadores tiravam o sono da organização e dos competidores do Dacar. Inclusive participantes já foram vítimas fatais de ataques de rebeldes e explosão de minas terrestres. O próprio Dacar foi cancelado em 2008, na véspera, devido a ameaças vindas da Mauritânia.

Não existem ameaças terroristas na América do Sul e nem rebeldes saqueadores ou guerras.

Acidentes Outro ponto muitíssimo importante, e preocupante, era em caso de acidentes. Embora a organização tenha toda a infraestrutura para resgatar e atender qualquer tipo de paciente, o hospital mais próximo estava muito longe. Dependendo da gravidade, o acidentado era obrigado a ser transferido para a Europa ou Ilhas Canárias, como aconteceu com o brasileiro Maurício Fernandes, quando sofreu uma queda de moto.

O hospital da organização pode fazer desde massagem nos pilotos doloridos, tirar um espinho, um simples curativo ou até mesmo uma cirurgia. Em casos mais graves, podem ser transferidos para hospitais das cidades da região. Para os brasileiros, é possível fazer uma transferência em poucas horas. Sem contar que a língua até ajuda, já que é possível arriscar um "portunhol".

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Hospital do Dacar, instalado no acampamento, faz 200 atendimentos por dia uma equipe de 67 pessoas: de massagem a curativos e até radiografia. Se necessário, médicos também podem fazer cirurgia. Foto: Ricardo Ribeiro/Vipcomm

Conforto Na África, banho poderia ser raro, dependendo a região. Não existia banheiro químico e a ducha, quando tinha, era na base da canequinha. O lenço umedecido era o companheiro de todas as horas.

Todos os acampamentos têm banheiro químico de sobra, além de chuveiros, pias com espelhos e sabonete, e tanquinho para lavar roupa.

 

Banheiro químico, pia com espelho e tanque de lavar roupa: mais conforto para os participantes e adeus aos lenços umedecidos. Foto: Ricardo Ribeiro/Vipcomm

No restaurante também não existiam mesas ou cadeiras, e sim tapetes árabes em cima da areia. Todos comiam sentados no chão, com talheres de plástico.

Nada mais desconfortável do que comer no chão. Pior ainda é a faquinha de plástico, que sempre quebrava. Hoje existem mesas, cadeiras e bancos, como em um grande refeitório, e os talheres são de metal. A comida é variada, com pratos diferentes todos os dias. Tudo fresco e da melhor qualidade. Bebidas sempre geladas (água, refrigerante, energético, cerveja, vinho e suco).

Comunicação Na África, a única comunicação era via satélite, tanto para dados quanto internet. E era caríssimo enviar notícias, fotos e etc todos os dias para onde quer que seja.

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A comunicação ainda é via satélite em todo o acampamento do rali e custa caro: 2.000 euros limitada ou 22.000 euros ilimitados. Mas no caminho entre um acampamento e outro é possível usar celulares com chip de cada país.

Localização A África é um mundo à parte, infelizmente miserável, longe de tudo e de todos. Em caso de abandono, o piloto e sua equipe precisavam se virar para voltar pra casa. O idioma (francês) da região poderia ser um empecilho quando se está no perrengue. Sem contar que não há voos de carreira de todo lugar.

 

Aeroportos perto dos acampamentos podem operar com jatos: voos fretados ou de carreira. Foto: Ricardo Ribeiro/Vipcomm

 

Na América do Sul as coisas são diferentes. Normalmente os acampamentos são em cidades com aeroportos convencionais, operados por companhias aéreas regulares, como Aerolineas Argentinas e Lan Chile. Ou seja, caso seja necessário abandonar o rali, com pouco de sorte é possível pousar em Cumbica ou Galeão ainda no mesmo dia.

Enfim, fazendo as comparações, estou começando a concordar com meu amigo Geraldo. O Dacar tá parecendo um "shopping center"! E o melhor: está de portas abertas para qualquer um. Que tal, vai encarar em 2016? Comece a sonhar agora...

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