Não digo que seja todos, mas grande parte dessa molecada que aparece como revelação e promessa nos clubes brasileiros já chega de nariz empinado no profissional. A arrogância precede a fama de muitos garotos no futebol. Neymar, já consagrado no Santos, mas ainda sem pisar na Europa, tirou Renê Simões do sério com suas provocações e xingamentos. "Estão criando um monstro", disse o treinador. Dorival Júnior caiu na Vila Belmiro, como Enderson Moreira, depois de bater de frente com o atacante. Enderson perde o emprego no time praiano a pedidos de jogadores que ainda estão longe de ser um Neymar.
Gostaria muito de ver Muricy Ramalho nesta discussão. O treinador do São Paulo já disse várias vezes que essa molecada que sobe precisa conhecer melhor a necessidade de jogar por um prato de arroz com feijão. Entendo que o sucesso sobe mesmo à cabeça de um garoto de 16, 17, 18 anos com muita facilidade. Imagine você um dia ganhando ajuda de custo nas bases e no outro tendo dinheiro para comprar o melhor carro à venda. Daí a necessidade de ajudar esses garotos quando ainda são meninos da base, tentar explicar um pouco mais da vida, implantar alguns valores, respeitar e dizer a eles que somente dessa forma serão respeitados.
O despreparado é generalizado, da casa do moleque ao clube, seja grande ou pequeno. Há ainda a pressão que os dirigentes fazem contra os treinadores para lançar as relevações o mais cedo possível, pensando no dinheiro que poderão levantar em caso de negociação. Nesse caso, as promessas não são lançadas com a intenção de ajudar o time, mas de fazer dinheiro, dada a penúria eterna dos clubes.
E aí tudo se resume a dinheiro. Os garotos pressionam treinadores porque são respaldados por dirigentes precisando de grana, sem paciência para deixar que o talento amadureça naturalmente. Poucos passam pelos estágios necessários de formação, e quando pulam etapas, acabam demonstrando deficiências lá na frente, e aí fica tarde para arrumar. Entendo, claro, que o treinador precisa saber como lidar com esses garotos sem paciência para jogar, descobrir um meio termo entre convencê-lo a esperar e a entrar somente na boa sem tirar do menino sua vontade e disposição de continuar trabalhando. Esse é o desafio. Qualquer movimentação longe desse caminho, de ambas as partes, é traição.