EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Cinco motivos para acreditar que Rogério Ceni dará certo no São Paulo

Ex-goleiro é apresentado nesta quinta como novo 'professor' no Tricolor

PUBLICIDADE

Foto do author Robson Morelli
Atualização:

Rogério Ceni foi apresentado oficialmente nesta quinta-feira como novo treinador do São Paulo. Ele vai substituir Ricardo Gomes, que não deu certo no Morumbi. Ceni participará da última partida do time no Campeonato Brasileiro, se não na beira do gramado, ao menos nas instruções de vestiário e treinos até domingo. O torcedor são-paulino está animado, afinal não é todo dia que se tem um mito no clube. Rogério permaneceu toda a sua carreira no São Paulo. Abaixo, listo 5 motivos que me fazem acreditar no sucesso de Ceni em sua nova função.

 Foto: Estadão

PUBLICIDADE

1 - ELE ESTÁ EM SUA CASA Rogério parou de jogar a menos de um ano. Ainda sente o cheiro do vestiário e das coisas que o cercaram durante 25 anos no Morumbi, no CT da Barra Funda. Ele conhece todos os cantos do clube. Ele se relaciona com todos os funcionários, dirigentes, jogadores ainda. Trabalhou com todos. De modo a ter a confiança e o respeito da comunidade são-paulina, inclusive da torcida. Isso, claro, não ganha jogo, mas ajuda no começo de uma profissão, cheio de encantos e desafios.

2 - SEMPRE FOI UM LÍDER Esqueça qualquer antipatia que você possa ter pelo ex-goleiro do São Paulo. Ceni, enquanto jogador, foi amado pelos tricolores e odiado pelos adversários. Não precisava de motivos nem para uma coisa nem para outra. O amor dos são-paulinos, que o chamam de mito, tem explicação: sua carreira, suas defesas, os títulos, os gols de falta e de pênalti, a liderança, o respeito pela bandeira. O ódio dos adversários se deu, se é que existe, pelos mesmos motivos. É preciso, no entanto, olhar agora para Ceni de outra maneira, com mais ternura, como um novo profissional à beira do gramado, com respeito e, se der certo, com reverência. O fato de sempre comandar seu time dentro de campo, como capitão, lhe dá uma condição diferente na função. Rogério vai dirigir um time que ajudou a formar no ano passado. Conhece a todos do elenco e até mesmo os garotos das bases.

3 - CABEÇA LIMPA PARA COMANDAR Apesar de toda a sua experiência como jogador e líder do São Paulo, Ceni começo nova função na vida de cabeça limpa, sem os vícios da profissão. Saberá tirar e aproveitar as coisas boas dos treinadores que o comandaram e jogar fora as lições ruins. Ceni não vai comandar como faz a boiada. Terá estilo próprio, espelhado no que foi como goleiro. Obstinado, esforçado, incomodado com as derrotas e com os erros. Será justo.

4 - PREPARAÇÃO E SERENIDADE Em suas primeiras palavras nesta quinta, deu para perceber serenidade nas expressões do ex-goleiro. Muito mais do que antes. Ele pensa para responder e não se deixa levar pela emoção das perguntas nem das provocações. Será cutucado. Mostrou que se preparou nesses meses de sua aposentadoria à volta ao São Paulo. Foi beber dos estágios na Europa, de conversas e observação dos técnicos de fora, sem se submeter a tudo o que acontece lá. Rogério sabe que o futebol brasileiro tem suas particularidades e que aqui não é Europa. Por isso disse não ter lugar para tantos zagueiros no time. Vai trabalhar com a conta justa, para não desmotivar ninguém. Seu tempo de preparação foi curto. Vai precisar do dia a dia para se lapidar. Mas não teme por isso, em suas próprias declarações. As lacunas na preparação serão suplantadas pelo calor de apenas uma temporada fora dos campos. Ceni recomeça quente, em outra função, é verdade, mas quente. Sua formação também lhe permite tirar muito mais dos 'palestrantes' com quem esteve na Europa.

Publicidade

5 - EM MEIO À MEDIOCRIDADE Não fosse jornalista, seria treinador. Calma. É brincadeira. Jamais seria treinador. Mas Rogério Ceni sabe o tamanho da mediocridade da sua nova classe. Jamais dirá isso, mas os treinadores do futebol brasileiro estão perdidinhos. Jogam o almoço para salvar o jantar. Não têm confiança no trabalho, nos dirigentes, no elenco e na torcida. Estão sempre olhando para a próxima partida, de modo a não preparar o time para a temporada, mas apenas para 90 minutos. De um jogo para o outro, mudam tudo. Fecham os treinos e não conseguem mostrar nada. Treinam com medo. Jogam para não perder e não para ganhar. São, em muitos casos, arrogantes e despreparados. Falam muito e mostram pouco. Os que entendem de gente, não entendem de tática. Os que entendem de tática, são péssimos com gente. Ceni terá a chance de mostrar que é bom nas duas coisas. Vai precisar ganhar jogos como todos os outros, mas terá a oportunidade pelo começo de trabalho de pensar a longo prazo, sobretudo porque terá também o respaldo dos cardeais do Morumbi. Vai trabalhar com tempo. Acredito.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.