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Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Neymar só segue seus instintos dentro de campo

Craque do Barcelona é acusado de 'humilhar' marcadores na Espanha

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

Uma polêmica se reacende na Espanha envolvendo o craque Neymar, e ela não tem nada a ver com a Justiça, seus bens ou impostos. Trata-se da disposição do atacante de 'humilhar' seus marcadores. É disso que o craque do Barcelona é acusado. O assunto voltou à tona após a partida do time catalão contra o Celta, vitória por 6 a 1, em que Neymar abusou do talento de driblar oponentes, dar rolinhos e carretilhas no meio de campo como forma mais fácil (para ele é) de superar a marcação. Jogadores 'humilhados' e outros do time derrotado que não entraram em campo, alguns até aposentados, trataram de condenar as diabruras do brasileiro em nome da ética na profissão.

No bom português, o que os espanhóis reclamam é o que os brasileiros entendem como arte, talento, ginga e habilidade. Basicamente, tudo o que sempre significou o futebol brasileiro até a década de 90, talvez um pouquinho mais. Na Espanha, Neymar sofre críticas por sua habilidade. Aqui, seria aplaudido de pé nas numeradas.

 Foto: Estadão

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Ninguém pega no pé de Messi quando o argentino faz o diabo diante dos oponentes. Ocorre que as jogadas de efeito de Messi são vistas como objetivas e as de Neymar, como firulas. Não é a primeira vez que o atacante da seleção de Dunga sofre com este tipo de perseguição, de modo a ser acusado e 'peitado' por jogadores rivais. Nas duas ocasiões, diga-se, foi por causa da maldita carretilha. Como é lindo ver esta jogada!

O fato é que dá para entender o modo de pensar dos europeus, onde a tática e os sistemas de jogo se sobrepõem à individualidade de qualquer jogador, muitas vezes abrindo mão de tentar um lance mais plástico em prol dos exercícios ensaiados nos treinos, do toque de pé em pé, por exemplo. O jogador europeu sempre foi um 'robô' com a bola. Não todos, mas a maioria. De uns tempos para cá, esta maneira de atuar se tornou vencedora, principalmente pelos exemplos da seleção alemã, pragmática, sem craques, mas extremamente efetiva - campeã do mundo no Brasil. Trata-se de um futebol eficiente ao extremo e sem espaço para graças. Graças que encantam o torcedor. Por isso que é difícil apontar o último grande craque nascido na Europa. Totti, talvez? Baggio? Del Piero?

Mas o que os europeus têm de entender é que os sul-americanos, brasileiros, sobretudo, usam e abusam da técnica e da ginga. Nossas crianças crescem dando dribles no futebol nas peladas nas escolas, nas ruas, nas praias do País. São aplaudidos e reverenciados os que conseguem isso. Está no sangue. Mané Garrincha talvez tenha sido o expoente neste quesito, para quem mais valia um drible e outro e outro do que a jogada óbvia pela direita até a linha de fundo e depois o cruzamento. Os europeus, que sempre abriram as portas para o talento sul-americano, já deveriam ter se acostumado a isso. Só do Brasil, encantaram o continente jogadores como Rivaldo, Romário, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo. Neymar apenas segue seus instintos e esbanja habilidade.

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Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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