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Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Todo mundo pensa que em estádios de futebol se pode tudo, desde xingar o árbitro a ofender jogadores do time rival

Patrícia é fruto desse comportamento ao chamar Aranha de 'macaco', assim como é a indiferença da colega gremista ao seu lado na hora das ofensas

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Atualização:
 Foto: Estadão

Patrícia Moreira, a garota gremista de 23 anos que chamou o goleiro Aranha de 'macaco', disse nesta sexta-feira que gostaria de pedir perdão pessoalmente ao jogador do Santos pelo que fez, as ofensas racistas durante o jogo entre as equipes pela Copa do Brasil. Tanto ela quanto seu advogado, ao menos, não negaram as ofensas, embora o profissional que faz a defesa da moça disse que chamar alguém de 'macaco' em jogos de futebol virou coisa normal hoje em dia, e que isso nada tem a ver com injúria racial.

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É claro que usa isso para construir sua defesa, assim como orienta Patrícia a se conduzir e se comportar dessa maneira, de pobre coitadinha, para aliviar uma possível condenação da moça na Justiça. Pior que isso, para que ela não sofra represálias de vizinhos ou ex-amigos e desconhecidos que a perseguem desde o episódio. Certamente, ela terá de mudar de casa e de cidade, talvez de aparência para ser esquecida.

Mais que isso, precisa mudar por dentro.  Há uma diferença entre praticar atos de racismo e fazer apologia ao racismo, seja ele de qualquer natureza. Não acredito que Patrícia, e o torcedor comum do futebol, seja preconceituoso contra, sobretudo, os negros. Veja bem: não defendo que não exista preconceito no Brasil, de forma alguma, mas no futebol nunca senti isso como uma apologia. Até porque as pessoas se abraçam quando seu time faz gol, sejam elas brancas ou negras.

O que vejo nos estádios é uma disposição das pessoas, homens, mulheres e crianças, de fazer e falar o que geralmente não fariam ou falariam em outros ambientes. Parece-me que a cultura dos estádios permite todas as deselegâncias possíveis da sociedade, algumas praticadas somente em ambientes restritos ou íntimos. Ninguém, por exemplo, anda pelas ruas de São Paulo, ou Porto Alegre, xingando os negros que encontram pela frente, no ônibus ou no metrô, nos bares ou restaurantes, nas escolas. Mas, como Patrícia e outros mostraram, isso pode acontecer num estádio, numa simples partida de futebol.

Tão grave quanto as palavras proferidas por Patrícia contra o goleiro santista foi a indiferença da moça que estava ao seu lado, em silêncio total, diante das atrocidades cometidas verbalmente pela colega gremista. Então, é preciso repensar o nosso comportamento nas arenas, e isso não é só nosso, de brasileiros, mas nesse momento é o que primeiro nos interessa. Vamos aproveitar esses estádios novos para também oferecer às imagens de tevês novas condutas, mesmo que para isso seja preciso punir Patrícia e o Grêmio, o anfitrião da partida, como já aconteceu em primeira instância no Superior Tribunal de Justiça Desportiva.

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Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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