A difícil jornada que espera a seleção nas Eliminatórias
Não, nunca foi fácil para o Brasil; mas algo indica que o torneio para o mundial da Rússia será pior
Por Amilton Pinheiro
Atualização:
"Uma vez estava conservando com o Waldir Peres, que jogou como goleiro durante muitos anos no São Paulo, e ele me disse uma grande verdade: 'Futebol é moral, se o time pega moral, ele joga mais do que pode'. Refletindo sobre isso, vejo que os adversários da seleção brasileira pegaram moral quando jogam com a gente. Dito isso, certamente vai ser (a disputa)das Eliminatórias mais difíceis que a seleção irá enfrentar”, afirma Ugo Giorgetti, colunista da editoria de Esportes do Estado. Todos os especialistas ouvidos pela reportagem comungam da mesma opinião, mesmo porque as Eliminatórias, com raríssimas exceções, sempre foi um torneio sujeito à intempéries. “Vai ser uma das mais difíceis da seleção brasileira porque a gente está indo com um conjunto em formação, sem estrutura montada, apesar do Dunga dirigi-la há mais de um ano”, analisa Luiz Antônio Prósperi, editor de Esportes do Estado.
Seleção brasileira em 2015
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Brasil derrota o Chile
Brasil tem 100% de aproveitamento em oito jogos após o retorno de Dunga Foto: Tim Irelan/AP
Firmino treina entre titulares e pode ser novidade contra França
Roberto Firmino começa a ganhar a posição na seleção de Dunga Foto: Bruno Domingos/Divulgação
Brasil derrota o Chile
Com gol de Roberto Firmino, o Brasil manteve sua sequência de vitórias ao fazer 1 a 0 no Chile, em Londres Foto: Tim Ireland/AP
Varane faz o primeiro no amistoso entre França x Brasil, em 26 de março
Varane sobe entre Evra e Elias para abrir o placar no Stade de France Foto: Miguel Medina/ AFP Photo
Oscar comemora 12º gol pela seleção
Aos 39 do primeiro tempo, Oscar bateu na saída de Mandanda e empatou o amistoso Foto: Franck Fife/ AFP Photo
Neymar vira o jogo no em Saint-Denis
No começo da segunda etapa, o barcelonista Neymar virou o jogo com chute cruzado da grande área Foto: Miguel Medina/ AFP Photo
Neymar marcou o 43º gol pelo Brasil
Neymar agora tem 43 gols em 61 jogos pela seleção brasileira e é o 7º maior artilheiro do time nacional Foto: Miguel Medina/ AFP Photo
Volante do Wolfsburg, da Alemanha, Luiz Gustavo marca o terceiro no Stade de France
Luiz Gustavo selou a vitória com uma cabeçada aos 23 da etapa complementar Foto: Miguel Medina/ AFP Photo
Dunga diz que tem base, mas que 'ninguém pode se sentir seguro'
Dunga vai participar de sua primeira competição oficial depois que voltou à seleção Foto: Bruno Domingos/Divulgação
Souza, do São Paulo, com a seleção brasileira
Souza, volante do São Paulo, participa da primeira atividade da seleção brasileira em Paris, na preparação para dois amistosos. Foto: Kenzo Tribouillard/ AFP Photo
Neymar em treina da seleção brasileira
Neymar, poupado nesta segunda, brinca com os companheiros no Estádio Charlety, em Paris. Quinta-feira o Brasil enfrenta a França, no Stade de France, ... Foto: Kenzo Tribouillard/ AFP PhotoMais
Dunga comanda jogadores da seleção
No primeiro treino desta segunda, o técnico Dunga separou o grupo em três e focou na marcação, nos passes sob pressão e finalizações. Foto: Tibault Camus/ AP Photo
Jogadores do Brasil em roda de 'bobinho'
Lateral Marcelo é punido pelos outros jogadores por erro em brincadeira recreativa. Após a partida contra a França, o Brasil viaja para Londres, onde ... Foto: Kenzo Tribouillard/ AFP PhotoMais
Dunga na concentração do Brasil, em Paris
Dunga ainda não realizou treinamento coletivo, não indicando os onze iniciais da partida desta quinta, contra a França. Foto: Kenzo Tribouillard/ AFP Photo
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Muito do descrédito da nossa seleção nas Eliminatórias sul-americanas, torneio que começam amanhã (8), quando o Brasil jogará contra o Chile em Santiago, deve-se ao técnico Dunga, que muitos consideram intransigente e despreparado para o cargo, apesar de conseguir classificar a seleção para o Mundial de 2010, na África do Sul, em primeiro lugar. “Não tenho nada contra ele, mas teria que ser outro técnico. Para mim seria o Tite, mas eles (CBF) preferem conveniências, os interesses. Por exemplo, colocamos um treinador (Dunga) que só se preocupa em ganhar. Ele não está preocupado com o futebol brasileiro. Ele quer ganhar os jogos para continuar sendo técnico da seleção brasileira”, dispara o ex-jogador Rivellino, que defendeu a seleção nos mundiais de 1970, 1974 e 1978.
Um estado de coisas
O ex-goleiro da seleção brasileira nos mundiais de 1970, 1974, 1978 e 1986, Emerson Leão, vai logo dizendo que não responde quando lhe perguntam se a seleção está com medo de não se classificar para mais uma Copa do Mundo (é a única seleção que foi a todos os mundiais), pois para ele isso seria o fim do mundo, seria melhor fechar para balanço. A vergonha que a seleção proporcionou na Copa do Mundo do Brasil, segundo ele, é reflexo do que vem acontecendo no País em todas as áreas, principalmente na política.“O Brasil como um todo não aparece mais nas listas de coisas positivas, a não ser de números altíssimos de corrupção, de assassinatos, de falta de seriedade, de educação, etc. Ou seja, é só coisa ruim e no futebol não poderia ser diferente”, lamenta. Leão completa o raciocínio dizendo que nesses últimos meses abria o caderno de esportes e pensava que estava lendo notícias de corrupção da política, referindo-se aos escândalos envolvendo dirigentes da FIFA. “Não podemos acreditar mais nas entidades ligadas ao futebol, infelizmente”.
De volta para as Eliminatórias
O torneio eliminatório é longo, começa agora em outubro de 2015 e vai até outubro de 2017, com dez seleções da América do Sul, disputando quatro vagas diretas - o quinto colocado disputa a repescagem com um time da Oceania. Desde as eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002, todas as seleções jogam no sistema de todas contra todas em turno e returno (o sistema já contemplou dois grupos de cinco seleções, quando o Brasil ficava num grupo e a Argentina em outro, já foi de grupo de três seleções e até quatro).
Seleção brasileira começa ciclo pós-Copa
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Brazil v Colombia
MIAMI GARDENS, FL - SEPTEMBER 05: The Brazil national team lines up during an International Soccer friendly against the Colombia at Sun Life Stadium o... Foto: Mike Ehrmann/AFPMais
Brazil v Colombia
MIAMI GARDENS, FL - SEPTEMBER 05: Luiz Felipe Scolari of Brazil looks on during an International Soccer friendly against Colombia at Sun Life Stadium ... Foto: Mike Ehrmann/AFPMais
Dunga estreia contra a Colômbia em amistoso em Miami
David Luiz, um dos jogadores mais carismáticos da seleção de Felipão, voltou ao time como titular Foto: Mike Ehrmann/AFP
Dunga estreia contra a Colômbia em amistoso em Miami
Uma das novidades em campo foi a entrada de Diego Tardelli no ataque, desde o começo da partida Foto: Bruno Domingos
Brazil v Colombia
MIAMI GARDENS, FL - SEPTEMBER 05: Jefferson Foto: Mike Ehrmann/AFP
Brazil v Colombia
MIAMI GARDENS, FL - SEPTEMBER 05: Neymar Foto: Mike Ehrmann/AFP
Brazil v Colombia
MIAMI GARDENS, FL - SEPTEMBER 05: Columbian and Brazillian fans cheer during an International Soccer friendly at Sun Life Stadium on September 5, 2014... Foto: Mike Ehrmann/AFPMais
Dunga estreia contra a Colômbia em amistoso em Miami
Colombian soccer fans cheer before an international friendly soccer match between Colombia and Brazil, Friday, Sept. 5, 2014, in Miami Gardens, Fla. (... Foto: Lynne Sladky/APMais
Dunga estreia contra a Colômbia em amistoso em Miami
O Brasil passou com vitória pelo primeiro desafio depois da Copa do Mundo. Neymar foi o autor do único gol da seleção Foto: Lynne Sladky/AP
Neymar, Aldo Leao Ramirez
Brazil's Neymar (10) collides with Colombia's Aldo Leao Ramirez (5) during the first half of an international friendly soccer match, Friday, Sept. 5, ... Foto: Bruno DomingosMais
Filipe Luis, Juan Guillermo Cuadrado
Brazil's Filipe Luis (6) goes for the ball with Colombia's Juan Guillermo Cuadrado (11) during the first half of an international friendly soccer matc... Foto: Lynne Sladky/APMais
Dunga estreia contra a Colômbia em amistoso em Miami
O jovem atacante entrou em campo em Miami com a responsabilidade da braçadeira de capitão Foto: Bruno Domingos/Mowa Press
Nunca foi um torneiro fácil para o Brasil. Segundo os especialistas, outro aspecto que pode trazer complicações para a seleção brasileira no torneio é a falta de experiências de alguns jogadores convocados para uma disputa com essas características peculiares. Outro aspecto importante lembrado pelos especialistas é que a seleção brasileira não disputa esse torneio, desde o Mundial de 2010.
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Outro complicador para o Brasil nesse torneio é que outras seleções melhoraram muito nos últimos anos, principalmente as que não eram adversárias diretas da seleção, como Venezuela e a Bolívia. O Chile, que venceu pela primeira vez a Copa América (o Brasil foi eliminado nos pênaltis pelo Paraguai), não será um adversário fácil. “Além da seleção não jogar bem hoje, tem o fato dela não participar há algum tempo. Perdemos um pouco a noção desse torneio. Vários jogadores agora convocados nunca participaram de um torneio como esse, a maioria deles, têm jogadores que não estão acostumados em jogar em um campeonato sul-americano, veja o que aconteceu agora na Copa América, quando o Brasil foi desclassificado, o que torna nossa jornada ainda mais complicada” explica Prósperi.
Esquema tático e grande dependência de Neymar
Como as seleções da América do Sul, quando jogam com o Brasil, normalmente atuam em esquemas táticos que priorizam a defesa, cobra-se muito de Dunga alternativas de jogo que superem essa barreira. Mas Prósperi lembra que o técnico tem sérios problemas com isso. “Não sei se o esquema tático do Dunga vai funcionar diante da retranca das seleções. As partidas serão mais pegadas, mais duras, daquelas que os atletas, que jogam na Europa, estão acostumados”. A dependência em relação a Neymar como homem de resultado é outra preocupação dos especialistas, não podemos esquecer que ele não jogará nas duas primeiras partidas das Eliminatórias, contra o Chile e a Venezuela, por causa da suspensão de quatro jogos que tomou durante a Copa América (dois jogos de suspensão, ele já tinha cumprido no torneio).
Dunga volta à seleção brasileira
1 / 17Dunga volta à seleção brasileira
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O ex-lateral Jorginho auxiliou Dunga quando ele treinou a seleção brasileira por 47 meses. Os dois foram companheiros na seleção brasileira durante as... Foto: Sergio Moraes/Reuters -16/08/2006Mais
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Conhecido por manter os jogadores de confiança no elenco, Dunga levou o Brasil ao tricampeonato da Copa das Confederações, em 2009. Na final, o time b... Foto: Paulo Whitaker/Reuters - 24/05/2010Mais
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A primeira passagem de Dunga como técnico da seleção brasileira teve ponto final após a eliminação na Copa da África do Sul. O time brasileiro acabou ... Foto: Jonne Roriz/Estadão -02/07/2010Mais
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Marin, como de costume, frisou que a escolha havia sido feita em conjunto com seu sucessor, Marco Polo Del Nero, e com o novo coordenador geral de sel... Foto: Vanderlei Almeida/AFPMais
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Dunga falou sobre a rejeição dos torcedores. "É mais ou menos como uma eleição. Nem sempre ganha o candidato que lidera as pesquisas" Foto: Ricardo Moraes/Reuters
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O técnico afirmou ainda que já tem "um esboço de time", mas fez uma ressalva. "Não vemos vender um sonho" Foto: Ricardo Moraes/Reuters
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Primeira passagem do ex-volante deu-se entre 16 de agosto de 2006 e 2 de julho de 2010. Dunga substituiu Carlos Alberto Parreira e, depois, deu lugar ... Foto: Sergio Moraes/Reuters -10/10/2007Mais
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Dunga participou da cerimônia que confirmou o Brasil como país-sede da Copa do Mundo 2014. O fato ocorreu ainda em 2007, três anos antes de o técnico ... Foto: Evelson de Freitas/Estadão - 30/10/2007Mais
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Durante a passagem de Dunga como treinador, a seleção apresentou bom desempenho contra as seleções campeãs mundiais. No total, foram oito vitórias e t... Foto: Andreas Meier/Reuters -15/11/2006Mais
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Dunga foi ao Maracanã assistir à final da Copa do Mundo, no último dia 13. O treinador tentará dar nova identidade à seleção brasileira, que acabou el... Foto: Alex Silva/EstadãoMais
Dunga é apresentado como treinador da seleção
Faltava um minuto para as 11h desta terça-feira quando a cúpula da CBF entrou no auditório da sede da entidade junto com Dunga Foto: Fabio Motta/Estadão
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Sem citar Luiz Felipe Scolari, procurou defender em parte o trabalho do ex-treinador. "A partir dessa Copa do Mundo não podemos colocar tudo como terr... Foto: Ricardo Moraes/ReutersMais
Rivellino é categórico quando diz que os jogadores que atuam na Europa não são protagonistas nos seus clubes e que eles não são de criar jogadas, com exceção de Neymar. “Dentro da seleção, que joga lá fora, só tem mesmo Neymar, que cria, que faz jogada individuais, etc. O resto dos atletas só fazem tocar do lado. Claro que de vez em quando eles têm que fazer uma jogada e fazem. Quando vem para a seleção existe essa cobrança de fazer jogadas individuais, ainda mais por eles jogarem em times de bom rendimento. Lá eles funcionam dentro de um esquema tático, que na maioria das vezes é bem diferente do que é desenvolvido na seleção brasileira”.
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A primeira derrota
Como todos os especialistas lembraram, as Eliminatórias nunca foram um torneio fácil para a seleção brasileira, mesmo quando éramos favoritos e a camisa verde amarela era temida, o time sofreu algumas derrotas humilhantes. “Todas as vezes, mesmo sendo jogo difícil, o Brasil era favorito, agora não é mais. Entramos numa partida com um time inferior e não somos mais favoritos, alguma coisa está errada”, compara Leão.
A primeira vez que a seleção brasileira foi derrota num jogo de Eliminatórias foi em 25 de julho de 1993, quando fomos a La Paz jogar contra a Bolívia. O Brasil perdeu por dois a zero, derrota que poderia ser até maior, pois a Bolívia deixou de marcar um pênalti, perdido no primeiro tempo, quando a partida estava zero a zero. Faltavam dois minutos para o encerramento do jogo, quando o jogador Marco Etcheverry chutou para o gol de Taffarel, que deixou a bola passar por debaixo das pernas. O outro gol veria logo em seguida. Essa primeira derrota da seleção brasileira numa Eliminatória repercutiu como uma bomba no Brasil, torcedores incrédulos assistiam pela televisão, a vitória da Bolívia, que se classificou para o Mundial de 1994, que como todos sabemos foi vencido pela seleção brasileira, que conquistou o seu tetra campeonato. Quando a seleção voltou para o Brasil, a cobrança por explicações dos jogadores e da comissão técnica foi enorme. Na época ninguém poderia imaginar que a derrota para a Bolívia seria quase insignificante em relação a que a seleção brasileira sofreria da Alemanha, por sete a zero, vinte anos depois, numa Copa do Mundo realizada no Brasil.