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APÓS CRISES DE SAÚDE, TÉCNICOS IRÃO PASSAR POR EXAMES MÉDICOS

Devido a problemas relacionados ao estresse, treinadores passarão por procedimento semelhante ao de jogadores antes de assinarem contratos

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Foto do author Gonçalo Junior
Foto do author Raphael Ramos
Por Gonçalo Junior e Raphael Ramos
Atualização:

Os recentes casos de internação de treinadores por problemas de saúde fizeram a FBTF (Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol) pedir à CBF para que seja incluído no Regulamento Geral das Competições da entidade a exigência de que, além de jogadores, os técnicos passem por exames médicos antes de assinar contrato com os clubes.

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“Já conversamos sobre a possibilidade de fazer alguns exames obrigatórios para os treinadores porque estamos preocupados. O índice de treinadores que passaram mal em relação ao número de profissionais do Brasil inteiro não é grande, mas é uma preocupação porque a profissão é muito estressante. Como os jogadores já fazem esses exames, incluir os treinadores não seria nada demais”, disse o presidente da FBTF, Zé Mário. A ideia é que a proposta passe a valer já a partir da próxima temporada.

Muricy Ramalho se sentiu mal na tarde do dia 25 de setembro, uma quinta-feira, quando trabalhava no CT do São Paulo. Foi levado pelo corpo médico do clube ao hospital São Luiz, na zona sul. Por causa de uma arritmia cardíaca (alteração no ritmo ou frequência dos batimentos do coração), ele teve de se afastar das atividades no São Paulo e ficar quatro dias internado.

Depois de ter recebido alta, terminou a recuperação na sua casa. “Quando o cara vai para aquele quartinho (UTI), cheio de fios no nariz, no peito, você não sabe se é dia ou se é noite. Você pensa na vida e fala ‘não posso mais voltar aqui’. Fiquei com medo e isso faz a gente pensar mais na vida”, disse Muricy.

O susto foi tão grande que o treinador de 58 anos mudou seu estilo de vida. “Estou mais calmo. Tenho andado um pouco, procurado me exercitar, e também parei de tomar café. Eu bebia muito café, era viciado, e agora não posso mais. Isso faz muito mal à saúde”, opina.

José Sanchez, médico do São Paulo, afirmou que os exames não constataram nenhuma doença cardíaca. “Como muitas vezes acontece nesses casos, é um episódio isolado. Ele fez toda a avaliação cardiológica no hospital, está perfeito, sem nenhuma anormalidade. O problema é em decorrência de situações pontuais, não tem nenhuma doença.”

Muricy tem acumulado problemas de saúde recentemente, nem todos relacionados às exigências do cargo. Em 2009, quando também era técnico do Tricolor, após ter conquistado o tricampeonato brasileiro no ano anterior, foi internado com pedra nos rins. Dois anos depois, no final do mês de novembro, sofreu uma hérnia de disco quanto trabalhava no Santos. Foi submetido a um tratamento clínico com repouso, fisioterapia e medicação.

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Em abril de 2013, viveu a situação mais complicada: uma diverticulite, espécie de inflamação no intestino grosso. Após a internação, falou pela primeira vez em aposentadoria. A família, especialmente a mulher, Roseli Ramalho, pressiona para que ele diminua o ritmo de trabalho.

Guto Ferreira foi orientado a perder peso e dormir mais Foto: MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO

Outro técnico que sofreu uma arritmia cardíaca e precisou ser internado foi Guto Ferreira, que acabou de conseguir o acesso à Série A do Brasileiro com a Ponte Preta. O treinador de 49 anos passou mal depois da vitória por 3 a 1 sobre o Avaí no Moisés Lucarelli no último dia 21. No trajeto do estádio até a concentração, já no início da madrugada, reclamou de uma indisposição e precisou ser levado para o hospital da PUC de Campinas.

“Eu estava passando por um período estressante, com muitas viagens de madrugada e dormindo pouco. Para piorar, sou asmático e estava no processo final de uma crise que me deixou sem voz. Se um jogo termina às 11 da noite, raramente durmo antes da 1h. A adrenalina fica lá em cima e não vou para a cama antes das 3h. Quando perco o jogo é pior, e vou dormir às 5h.” 

Guto sofre com estresse, apneia do sono e obesidade, e a ordem dos médicos foi para se acalmar, dormir oito horas por noite e perder peso. “Já estou providenciando situações para atacar essas três frentes para não ter mais problemas e poder trabalhar mais tranquilo.” 

Levir, 61 anos, toma remédio para o coração Foto: Bruno Cantini/ESTADAO

Após a vitória do Atlético Mineiro sobre o Flamengo por 4 a 1 pela semifinal da Copa do Brasil no início do mês, o técnico Levir Culpi, 61 anos, tirou uma cartela de comprimidos do bolso ao responder a uma pergunta sobre a maneira como se preparava para os jogos decisivos. O treinador descobriu este ano, durante exames de rotina, que tinha arritmia. “Hoje tomo remédio, mas procuro fazer as coisas normais. Na hora (do jogo) às vezes eu penso: ‘O Muricy já teve, o fulano já teve...’ Mas nunca me senti mal. Só quando estou perdendo, aí eu fico muito p...” Colaborou Almir Leite

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