Menos de um mês após ter tomado coragem para revelar a história de abuso sexual que teria sofrido quando jogava na base do Santos, Ruan Petrick Aguiar de Carvalho, de 19 anos, vê com desânimo o escândalo na ginástica artística brasileira pelos mesmos motivos. E afirmou que casos assim são mais frequentes do que se imagina em diversas outras modalidades.
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“É muito comum, mais do que a gente pensa. Por isso que resolvi falar. E agora que aconteceu isso, deu uma repercussão grande. Foram 40 garotos que denunciaram. E tem de criar coragem, mesmo, falar, para que isso acabe ou, pelo menos diminua. Porque acabar, do jeito que o mundo está, vai ser difícil”, lamentou o jogador.
No caso dele, a acusação foi feita contra Ricardo Marco Crivelli, o Lica, que coordenava as categorias de base do clube. A Delegacia de Repreensão e Combate à Pedofilia, em São Paulo, abriu inquérito para investigar o suposto crime. Ruan relatou que o abuso teria ocorrido quando ele tinha 11 anos de idade, em 2010. Lica foi afastado pelo Santos e ainda é aguardado para prestar depoimento.
Medidas. A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) divulgou ontem ata de uma reunião realizada por orientação do Ministério Público do Trabalho (MPT) na qual foram definidas algumas providências a serem tomadas depois das denúncias contra o ex-treinador da seleção brasileira masculina, Fernando de Carvalho Lopes.
Entre elas, está a criação, em uma semana, de uma cartilha contendo recomendações e proibições de conduta baseando-se no artigo do Código de Ética da Confederação que versa sobre assédio moral e/ou sexual. Ainda ficou definido que o Comitê de Ética e Integridade precisará ser formado em um mês.
Também se acertou que o campeão olímpico Arthur Zanetti será indicado como garoto-propaganda em campanhas de combate ao assédio, abuso, racismo, manipulação de resultados e outras formas de violência ou fraudes na ginástica.
Vale lembrar que Zanetti é treinado por Marcos Goto, acusado por algumas das vítimas de Fernando de omissão, por supostamente conhecer as histórias que circulavam a respeito dos abusos do então treinador do Mesc, clube particular de São Bernardo do Campo onde Fernando fez carreira, e não tomar nenhuma providência.
Goto reiterou junto à CBG que desconhecia os tais abusos. A Confederação, por sua vez, “reafirmou seu compromisso e confiança” perante o coordenador técnico da seleção brasileira, que ainda deverá depor.
Outra personagem também acusada de omissão foi a psicóloga Thais Coppini, que trabalhava no Mesc. Em nota encaminhada à imprensa, ela se defendeu: “Não trabalhei em nenhum momento com os atletas que se identificaram e se manifestaram, sendo que, quando entrei para equipe eles já não estavam mais no Mesc. Reafirmo que em nenhum momento tive conhecimento dos fatos reportados, e que nunca nenhum atleta relatou qualquer acontecimento de abuso sexual do técnico”, disse.