Após prisão injusta, Sylvestre tenta recomeço no Bangu

Atacante ficou 19 dias preso por um crime que não cometeu

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Por Gonçalo Junior
Atualização:
4 min de leitura

A carreira de Sylvestre Pereira de Souza ganhou um aposto indesejável depois da experiência que ele viveu em fevereiro. Aposto é uma expressão que explica melhor alguém. Agora, ele é o jogador que ficou 19 dias preso em Bangu 1 por um crime que não cometeu. Mas ele queria ser lembrado apenas como um atacante de 31 anos que luta para retomar a carreira e sonha com um grande clube.

Esse jogador veloz e habilidoso sempre jogou em times menores. Foi assim desde os 18 anos, quando começou no Rodoviário de Barra de Piraí, pela segunda divisão carioca. Os títulos foram raros, como o de campeão sergipano com o Confiança em 2004. O ponto alto de sua carreira foi em 2010, no Camaçari, quando foi vice-artilheiro do Campeonato Baiano com 11 gols. Recebeu várias propostas e chegou ao Bahia. Também passou pelo Ceres, Macaé, Nova Iguaçu, Juazeirense, Cachoeiro e Olaria.

Sylvestre já passou por vários clubes e jogou em Portugal Foto: Wilton Junior

Esse filho de comerciantes que teve uma infância sem luxo, mas sem privações, já jogou fora do País. Em 2008, foi o craque do Centro Ítalo da Venezuela, na segunda divisão. Era o início do terceiro mandato de Hugo Chávez, e a crise econômica ainda não havia batido forte.

Ele dá risada quando se lembra de que encher o tanque do carro custava o mesmo que comprar pão, queijo e água na padaria – a Venezuela é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, por isso, o combustível é barato. “Como eu ganhava em dólar, juntei dinheiro para me casar”.

Essa carreira simples e sem estrelato quase foi interrompida em 2013. Sylvestre recebeu um mandado de prisão por ser o proprietário de uma Kombi usada no roubo de um celular no Rio. Os advogados conseguiram revogar a prisão argumentando que ele havia vendido o veículo e que estava na Bahia no dia do assalto. O assaltante também havia assumido a culpa.

Sylvestre ganhou uma chance no Bangu depois de ficar preso 19 dias Foto: Wilton Junior

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A advogada disse que estava tudo bem. Ele mudou de cidade, passou por outros três clubes, mas a Justiça continuou enviando intimações. Como ele não comparecia, determinou um novo mandado de prisão. No dia 11 de fevereiro, Sylvestre foi preso no Rio e encaminhado ao Complexo Penitenciário de Bangu.

Ficou lá por 19 dias. Dividiu a cela com mais 11 presos. Como havia apenas seis camas, eles dormiam de dois em dois, cada um virado para um lado. Comia mal e quase não dormia porque a luz ficava sempre acesa. Cheiro ruim. “Não gosto de lembrar disso”, corta.

Na audiência no Tribunal de Justiça, foram ouvidas seis testemunhas de defesa, entre elas, a vítima que havia reconhecido Sylvestre em uma foto 3 x 4, mas voltou atrás. Até o presidente do Juazeirense depôs.

O advogado Claudio Carvalho Cunha explica que Sylvestre responde ao processo em liberdade, mas não existe um prazo para a sentença. “A expectativa é de absolvição”.

Sylvestre durante treino do Bangu Foto: Wilton Junior

O que ajuda o atacante a se esquecer dos 19 dias é o emprego novo. Ele conseguiu um teste no Bangu e passou, mas não está relacionado para o jogo de hoje, contra o Vasco. Sylvestre ainda não está 100% fisicamente. O período na prisão detonou o físico de atleta. Ele tem contrato de três meses e, depois, sabe-se lá. “Meus sonhos são atuar em um grande clube no Brasil e conhecer os Estados Unidos”.

O jogador mora junto com Karla há 11 anos, mas estão casados de papel passado mesmo há seis. Tem um filho, Gabriel, de outro relacionamento. O menino tem 14 anos, mas não é fissurado em futebol como o pai, quando jogava pela ruas do bairro de Cordovil, subúrbio do Rio.

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