Ao aterrissar na noite desta segunda-feira sob chuva forte em Buenos Aires, Messi encontrou o apoio de dezenas de torcedores com cartazes, algumas centenas de pessoas paradas no caminho do aeroporto e milhões de mensagens em redes sociais pedindo para que não abandone a seleção. O anúncio de que não jogará mais pela Argentina tirou das manchetes a derrota para o Chile nos pênaltis, o terceiro vice-campeonato seguido e os 23 anos sem título. Os argentinos se perguntavam apenas se a decisão – reiterada por Messi ainda nos EUA – é reversível ou pelo menos temporária.
Um sinal de que as palavras do jogador do Barcelona foram levadas a sério foi a reação a elas na internet. No Twitter, a hashtag #NoTeVayasLio (Não vá Lio) foi a mais usada no mundo até a metade do dia, com mais de 100 mil tuítes – um deles do presidente Mauricio Macri. Vídeos de crianças consolando a TV ao vê-lo chorar tornaram-se “virais”. Os canais e sites argentinos mantiveram enquetes durante todo o dia, com números superiores a 80% contra a aposentadoria precoce.
A primeira declaração de Messi de que o faria dada ao canal TyC, na saída do estádio Met Life, menos de uma hora após ver os chilenos levarem a Copa América por 4 a 2 nos pênaltis, após empate sem gols. “No vestiário pensei ‘era isso, acabou para mim a seleção’. São quatro finais, não é para mim”, disse.
O melhor do mundo foi questionado se era uma decisão definitiva. “É para o bem de todos. Por mim e por todos. É uma decisão tomada.” No final, foi taxativo: “Já tentei muito. Dói a mim mais que a ninguém não poder ser campeão com a Argentina, mas é assim, não aconteceu. Vou embora sem conseguir.” Mais tarde, já no hotel, ele reiterou as declarações.
Segundo os jornais Clarín e La Nación, o goleiro Sergio Romero tentou dissuadi-lo. O atacante Kun Agüero, companheiro de quarto de Messi, indicou que a saída do 10 seria acompanhada pela de outros dessa geração, Javier Mascherano e Gonzalo Higuaín por exemplo.
A possível aposentadoria de Messi da seleção é um tema recorrente na Argentina, embora possa parecer despropositado fora do país. A informação de descontentamento dele com o tratamento que recebe de alguns torcedores, de jornalistas e da Associação de Futebol Argentino (AFA) vem à tona periodicamente.
Na quinta-feira, num ato raro, Messi tuitou uma reclamação contra a AFA, em razão do atraso em um voo. “São um desastre”, escreveu. A pressão pela conquista do título da Copa América era tanta que só depois desse tuíte os jornais argentino revelaram que a seleção não tinha equipes amadoras contra quem treinar na concentração, chegava a hotéis com quartos por fazer e enfrentava atrasos.
Embora as comparações entre seu desempenho no Barcelona e na seleção tenham diminuído, a torcida argentina exige dele que expresse alegria e sofrimento como Diego Maradona. “Messi é um líder, Maradona é um caudilho. Não é justo comparar”, disse o psicólogo esportivo Marcelo Roffé ao canal TN. “Mas também não é normal que alguém perca três finais seguidas”, completou.
Embora enquetes mostrem amplo apoio à permanência de Messi, há exceções ruidosas. “Ele já queria ir embora mesmo, melhor que vá. Prefiro mil vezes (Carlos) Tévez, que deixa a alma no campo”, diz o pedreiro Carlos Ríos, que aos 21 anos nunca gritou campeão pela seleção.