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As dores de Prass

Fernando Prass não era nome óbvio na convocação para a Olimpíada, mas foi uma grande sacada do técnico Rogério Micale

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Por Paulo Calçade
Atualização:

Fernando Prass não era nome óbvio na convocação para a Olimpíada, mas foi uma grande sacada do técnico Rogério Micale. Os treinadores costumam aproveitar as três vagas de jogadores acima de 23 anos para acrescentar experiência e liderança aos seus times. E Prass tem tudo isso. Além do caráter, do exemplo e do comprometimento, é ótimo goleiro.

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Mais rodado que qualquer outro companheiro, a missão de comandar o grupo lhe parecia perfeita. A Copa do Mundo deixou marcas profundas no futebol brasileiro. Em 2014, a responsabilidade afetou emocionalmente a seleção de Felipão. Foi terrível, o final da história todos conhecem.

Jogar em casa traz vantagens e desvantagens. Não basta identificar as virtudes e os defeitos, é necessário intervir. O Mundial certamente serviu de alerta, e não só para o pessoal do futebol. Os atletas com possibilidade de conquistar medalha sabem que a ansiedade pode ser cruel.

Prass não era vacina contra esse tipo de problema. Ninguém tem esse poder, mas seria fundamental na construção da identidade do grupo imaginado pelo treinador. Enquanto seus colegas estiverem na luta pelo torneio olímpico, ele se dedicará ao tratamento no cotovelo direito. A dorzinha incômoda da frustração, porém, ficará para sempre.

Sem sombra. Contra o Japão, no sábado, a seleção deixou boa impressão, sobretudo no primeiro tempo. Foi a primeira partida de Micale sem o fantasma Dunga por perto, sem palpites, livre para implantar suas ideias e o seu modelo de jogo.

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Algumas características estão bem definidas: a defesa joga alta, próxima ao meio de campo, encurtando o time, que obriga comportamento mais intenso na recuperação da bola no campo ofensivo, para evitar que os espaços nas costas dos zagueiros sejam atacados facilmente.

Por mais desgastante que pareça esse tipo de marcação, ela é mais inteligente, afinal o time todo  será obrigado a correr para frente ou para trás em algum momento. Desgaste existe sempre.   Com a posse de bola, o treinador desenha uma equipe com liberdade de movimentação. Faz sentido, principalmente quando se tem Gabriel Jesus, Gabigol e Neymar no ataque. A partir de quinta-feira, contra a África do Sul, a seleção trabalhará pela classificação no grupo e por sua evolução técnica.

No meio de campo, Renato Augusto deverá ganhar a posição de Rafinha Alcântara. A tendência é a equipe ficar mais equilibrada no setor, além de permitir que Felipe Anderson faça o trio atacante virar um quarteto tecnicamente excelente.

O Brasil de Micale utilizará a primeira fase para avançar coletivamente, a exemplo das demais seleções. Individualmente são jogadores muito bons, alguns excelentes. Mas Neymar precisa entender que não resolverá tudo sozinho. Prender a bola em demasia retarda o jogo e trava uma qualidade essencial para vencer a competição: a velocidade com habilidade.

Se a seleção ganhar a medalha de ouro, o jogo alegre e ofensivo conduzirá seu treinador a outro patamar no futebol brasileiro. Se não funcionar, certamente ouviremos muito sobre a falta de experiência no comando de jogadores tão importantes.

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Tite foi correto ao permitir que o time olímpico fosse comandado por quem iniciou o trabalho. Se a disputa por medalha se concretizar, serão seis partidas em 17 dias. 

A partir de agora, os treinamentos serão raros. Entre um jogo e outro, haverá dois dias de recuperação, exceto entre o quarto e o quinto confronto, quando haverá três.

O torneio olímpico de futebol é complexo e desgastante. Ter uma boa equipe é o ponto de partida, é o mínimo, mas a disputa pelo pódio vai muito além, por ser curta e extremamente exigente. A medalha de ouro é possível, a certeza é um perigo.

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