Bola suja

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Por Antero Greco
Atualização:

O furacão que carregou cartolas para a prisão faz tremer muitos componentes da “família Fifa”. Por mais que a entidade finja que tudo vai bem no melhor dos mundos possíveis, tem gente que preferiu não dormir de touca e botou sebos nas canelas antes de correr risco de sair do hotel Baur au Lac para conhecer hospedagem menos confortável na Suíça. Pouco importa se hoje convescote internacional deva eleger Joseph Blatter para mais um mandato à frente da entidade (com que moral vai governar?); o negócio é salvar a própria pele. Os fatos atropelam planos até de dirigentes daqui. Por exemplo, o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, interrompeu de uma hora para outra a estada em Zurique e voltou para casa - ao menos era o destino informado durante o dia de ontem. Talvez compromissos urgentes o tenham feito mudar de planos e impediram que ficasse na Europa para prestar solidariedade ao amigo José Maria Marin, um dos que caíram na malha de investigação do FBI em processo internacional sobre lavagem de dinheiro e corrupção. Del Nero foi unha e carne do ex-presidente da CBF, com quem girou o Brasil e o mundo durante três anos e a quem sucedeu recentemente como guia do futebol pátrio. A dupla mereceu confiança total de Ricardo Teixeira no início de 2012, quando se viu obrigado a abrir mão da entidade que comandava de maneira absoluta desde 1989. Sob alegação de saúde abalada, saltou do barco e entregou o timão aos correligionários. O par não se largou um minuto, a não ser agora, em virtude dos infaustos acontecimentos. A nova direção da CBF pelo visto se decepcionou com Marin, não esperava jamais que personagem de escol se visse envolvido com polícia. Por isso, ontem cedinho desbatizou a sede, na zona Oeste do Rio, com a retirada do nome de José Maria Marin da frente de prédio tão mimoso, exemplo concreto do “Brasil que deu certo”, em enunciado histórico de Carlos Alberto Parreira, à época da inauguração em 2014. Vamos deixar de conversa fiada e falar português claro. A CBF trata de desvincular-se de eventuais falcatruas que provocaram a queda de Marin. Imagina que, ao arrancar uma placa, apague ligação com o ex-dirigente. Prevê que a limpeza de fachada desvie atenção do público. Ao contrário.  Esse tipo de atitude só estimula mais conjecturas em torno da lisura dos negócios da organização. Além, claro, de atiçar a curiosidade de parlamentares (vem nova CPI por aí) e da polícia. Impossível acreditar que o mar de lama não chegue até a CBF. Pode ser que não tenha culpa de nada, porém os relatórios do FBI apontam que há indícios da atuação de pessoal graúdo nas irregularidades descobertas.  É obrigação das autoridades brasileiras levarem o trabalho dos gringos adiante. Eles se ofereceram para colaborar e para fornecer informações. O caso é tão amplo que sequer setores afáveis à CBF conseguem ignorar o tema ou tratá-lo suavemente. Ingenuidade supor que os larápios sejam apenas um punhado de cucarachas, cartolas de Terceiro Mundo. Esses cometeram a burrada de movimentar dinheiro sujo nos EUA e entraram pelo cano. Mas europeus não estão acima de qualquer suspeita, tampouco os asiáticos. Não são esporádicos, nesses continentes, os escândalos de arbitragem, de suspeitas de jogos arranjados, de compras de clubes e jogadores de forma nem sempre transparente. Para ficar num caso, apenas: o Barcelona sofre processo por sonegação, na transação com Neymar, e um ex-presidente (Sandro Rossell, amicíssimo de Ricardo Teixeira), está enroscado com processo.  O futebol tem sujeira como em qualquer atividade - infelizmente - e em todos os escalões: das categorias de base ao profissional, das ligas amadoras à Fifa, da divulgação de uma marca à promoção de “craques”. Há doping, mala branca, mala preta, nepotismo, manipulação de todo tipo. Todas nojentas, pois tripudiam da paixão dos torcedores.

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