Brasil x Itália, um clássico eterno do futebol

Grandes vencedoras de Copas do Mundo, seleções fazem 'tira-teima' nesta terça, em Londres

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Por Fabio Vendrame
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Na história, são 12 jogos. Cinco vitórias para cada lado, dois empates. Só em Copas foram quatro confrontos, e cada seleção levou a melhor em duas ocasiões. Até o número de gols marcados é igual: 19. Brasil e Itália fazem tira-teima amanhã, em Londres, em confronto em que a rivalidade talvez esteja ainda mais acirrada, especialmente por parte dos europeus, em função do caso Battisti. Esse eterno clássico do futebol mundial transcende, por uma série de motivos, o campo de jogo. Veja também: Sem Kaká, Brasil tem problemas no ataque contra Itália Além de reunir as duas seleções com o maior número de títulos mundiais, cinco do Brasil e quatro da Itália, o confronto encerra uma carga emocional intensa. "Brasil e Itália latinizam de modo diferente o futebol. É como se a latinidade se apresentasse de modo mais rico", afirma o antropólogo Luiz Henrique de Toledo, professor da Universidade Federal de São Carlos e autor de três livros sobre futebol. "Quanto mais e melhor conhecemos um país, mais temos a chance de competir com ele em vários domínios. O Brasil recebeu um contingente expressivo de imigrantes italianos, assim como a Argentina também, e temos toda uma história dessa relação intercultural que anima nossas rivalidades", explica Toledo. "Daí ser mais emocionante assistir a um Brasil e Itália do que a um Brasil e França, embora construamos já uma história de confrontos com os franceses da qual saímos como vítimas, diga-se de passagem." O segundo encontro das seleções depois da final da Copa de 1994, nos Estados Unidos, entre o Brasil do hoje técnico Dunga e a Itália de Roberto Baggio, trará a campo desta vez um ingrediente extra. Desde que o governo brasileiro concedeu refúgio político ao agitador Cesare Battisti, foi deflagrada uma onda de protestos na Itália, onde ele é visto como terrorista e foi condenado a prisão perpétua em função de quatro assassinatos cometidos na década de 1970. Até o ex-jogador Paolo Rossi, algoz do Brasil e campeão mundial em 1982, manifestou-se sobre o imbróglio. "É preciso pressionar os brasileiros para obter a extradição", declarou. Houve quem sugerisse até o cancelamento do amistoso, numa prova inconteste de que um jogo do porte de Brasil e Itália vai além do universo esportivo. "A projeção identitária do futebol o faz transcender o espaço do jogo, sua profissionalização atesta o modo como se gerencia a complexa trama de emoções que ele instila. A mobilização por interesses variados, políticos e econômicos, e tudo isso o entrelaça às dimensões sociais", diz Toledo. "E isso vai do indivíduo anônimo, que apenas torce, ao presidente da República, que sente os efeitos de poder que emanam de sua aproximação com ele [o futebol]." A força de um esporte universalizado como o futebol, no entanto, tende muito mais a aproximar do que a afastar os povos. "O futebol nos impregna de histórias universais e locais, pois cada um lança mão de um estoque de memória próprio. Isso também motiva a controvérsia em torno de um jogo e nos faz experimentá-lo para muito além das quatro linhas", afirma. "Os jogos, muitos deles, jamais acabam, se transformam, são recontados, inventados, modificados, mas fazem parte de nossa existência."

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