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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Bravos rapazes

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Por Antero Greco
Atualização:

A vida ensina e surpreende; sabemos isso de cor e salteado. Mas sempre provoca reações, às vezes de espanto, noutras de alegria. Como nos casos de três jovens jogadores, que tiveram destaque na rodada do meio de semana do Brasileiro. O corintiano Pedro Henrique mais os palmeirenses Gabriel Jesus e Roger Guedes percebem como a bola pode ensinar-lhes.

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Por ordem cronológica, e por amenidade, comecemos pela dupla verde. Na noite de terça-feira, olheiro do Barcelona esteve no Allianz Parque para ver, ao vivo, se era verdade tudo o que dizem a respeito de Gabriel, a pérola burilada nas categoria de base palestrina. Os catalães nadam em dinheiro e não perdem ocasião de farejar bons negócios. E, por aqui, o campo é fértil para pescar craques por bagatela ou por um troquinho a mais. Na história recente, ganharam títulos e dinheiro com Romário, Rivaldo, Ronaldo e agora com Neymar. Fracos?

Bom, o enviado especial do Barça saiu do estádio maravilhado, ou melhor, duplamente encantado. Além de acompanhar exibição de gala do Menino Jesus – dois gols, dribles, toque de letra –, assistiu ao desempenho do coadjuvante Roger Guedes. A dupla desfilou arte pelo gramado e foi fundamental na vitória sobre o América-MG.

Gabriel completou 19 anos em abril, Roger assopra a 20.ª velinha em outubro. O primeiro é cria da casa, o segundo veio do Criciúma. A sintonia entre ambos afina-se a cada rodada, com o respaldo e os passes de Dudu e, agora, de Cleiton Xavier. Viraram titulares, Cuca não abre mão deles e a torcida fazia tempo não se animava tanto.

A trajetória deles, porém, parece traçada e tem a Europa como destino. Os gringos são tão seguros do poder de convencimento da grana que possuem que tomam como questão de tempo bater o martelo. O Barcelona chega à desfaçatez de afirmar que não tem pressa, mas pode acelerar o processo se algum rival do continente se atrever a atravessar-lhe o caminho. E o enviado deixou no ar a possibilidade de fazer oferta também por Roger Guedes.

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Presunção, sem dúvida. Realidade, triste realidade, também. Os europeus têm noção de que levam quem eles quiserem, e quando assim o desejarem. A fragilidade econômica dos clubes brasileiros é endêmica; o Palmeiras, no momento, desponta como exceção; porém, tem pequena parcela nos direitos econômicos de Gabriel. A maior parte é de empresários e “investidores”. E, com cifrões a rodo a entrar na conta bancária, quem resiste à tentação?

Gabriel e Roger têm espaço para crescer e parecem moços com cabeça no lugar. Tomara sejam bem orientados e não queimem etapas nas carreiras. É chover no molhado, mas servem como exemplos atuais da generosidade com que brotam artistas da bola nesta terra dos 7 a 1 e que, no futuro, voltará a ser vista como país pentacampeão.

Bravo rapaz, também, é Pedro Henrique. Comovente, singelo e puro o choro do zagueiro corintiano, após a derrota por 2 a 1 para o Atlético-MG, na noite de quarta-feira. Recém-promovido à equipe titular, falhou no segundo gol do Galo. Sentiu o peso da responsabilidade, desabou diante do susto, da frustração, da gafe.

Teve gente que criticou a reação, na base do “isso não é coisa de homem”. Bobagem. Homem que é homem chora, de alegria, de emoção ou se fez uma besteira. Pedro Henrique tem 20 anos e não se deixou corromper pelos lugares-comuns ocos e hipócritas dos que saem de campo com a maior cara lavada, depois de mancada homérica, e com o discurso do “bola pra frente, vida que segue, vamos nos recuperar”, etc. 

Pedro Henrique demonstrou sensibilidade, amor à profissão, respeito à camisa alvinegra! Encampou a tristeza do torcedor – e por erro banal, corriqueiro, cometido pelos maiores zagueiros do mundo (bola mal atrasada para o goleiro Cássio).  O importante é ele aprender com a escorregada e não ligar para os machões de fachada. O futebol encanta porque provoca emoção – e é feito por gente. Por enquanto...

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