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Cadeia alimentar

No futebol, metaforicamente, o caso clássico de comensalismo tem times europeus e brasileiros

Por Marília Ruiz
Atualização:

O comensalismo é exemplo de relação que não oferece prejuízo a nenhuma das espécies envolvidas, mas que beneficia apenas uma – para a outra, a relação é neutra. Chamamos comensal a espécie que se beneficia. Claro que descrevi uma relação ecológica, na qual o comensal se beneficia dos restos alimentares da parte "neutra". O exemplo clássico é o do peixe-piolho (rêmora) e do tubarão.  No futebol, metaforicamente, o caso clássico tem times europeus e brasileiros. Não existe "banquete" mais esperado pelos clubes brasileiros do que aquele preparado com os jogadores dispensados, esquecidos e desprezados por lá. Aqueles que vão depois de uma, no máximo duas boas temporadas, e reclamam do banco, reclamam do frio, detestam a nova comida, e, principalmente, lamentam o dia em que resolveram trocar o protagonismo no Brasil pelo ostracismo na Europa.  As manchetes estão cheias de nomes dos filhos pródigos que não estão jogando nada lá e estão doidinhos para voltar. E os clubes brasileiros, comensais que são, não são muito exigentes e correm atrás de qualquer "sobra”: mesmo que tenham vestido camisas rivais, e que não estejam atuando há tempos. A cadeia alimentar é mais complexa que isso, entretanto. Comensais também são presas muito, muito frágeis. Azar nosso. E, neste caso, também metaforicamente, o caso clássico tem times europeus de um lado e brasileiros do outro. Começou o período mais vulnerável do futebol brasileiro: a abertura da principal janela de contrações da Europa para a temporada 2017/18. Não se trata apenas de perder nossos principais jogadores, os "selecionáveis", as joias. Essa caça já temos por perdida desde que Charles Miller desembarcou em Santos com seu saco de bolas. Nosso problema é maior. Os predadores europeus têm força para dizimar os elencos dos clubes brasileiros com dinheiro que para eles é irrisório. Perdemos para propostas da Turquia, Rússia, Holanda e de quaisquer 18 territórios à sua escolha. É uma guerra com perdedores desde o início: nós. Todas as entrevistas coletivas estão recheadas de perguntas sobre como se defender do assédio estrangeiro, como os clubes irão se comportar no segundo semestre depois da janela de transferência, como refazer os elencos com as “oportunidades” (restos europeus). A atitude passiva da CBF em relação ao que acontece não é razoável. Não estou defendendo que se dê dinheiro ou se imponha "cotas". Mas não é inteligente, para dizer o mínimo de forma elegante, que a CBF insista em um calendário que condena os times a perderem seus jogadores durante os principais torneios nacionais: o Brasileiro e a Copa do Brasil, organizados pela CBF! Todo ano é assim. Todo ano. Neste caso, não tem metáfora usando a cadeia alimentar. É suicídio mesmo. ALÍVIO Times chineses farão menos 'estragos' neste ano Aberta desde a última segunda-feira, a janela chinesa de transferências será menos letal porque as regras da Associação Chinesa de Futebol mudaram. A principal restrição é orçamentária (teto de R$ 21,6 milhões para contração de estrangeiros).  VELHA SOLUÇÃO Invasão de 'hermanos' e escambo seguem como saída brasileira Além de desenterrar reforços de times outrora absolutamente ignorados, o troca-troca de jogadores que não completaram sete jogos no Brasileiro é a saída usada – e, em alguns casos, com a manutenção absurda da cláusula que impede que emprestados enfrentem seus "donos". 

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