Canal 100 marcou época no cinema

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Por Agencia Estado
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Tatatã, tatã. Que bonito é. Quem viveu no Brasil nos anos 60 e 70 sabe qual era a expectativa da gente ao entrar no cinema. Antes da sessão, havia sempre o Canal 100, com a súmula dos jogos mais importantes da semana, quase sempre no Maracanã. Era (ainda é) o grande templo do futebol brasileiro. O clássico Fla-Flu, no Maracanã, era cativo no cinejornal produzido por Carlos Niemeyer, flamenguista doente. Ivan Cardoso, diretor de filmes como ?O Segredo da Múmia? e ?As Sete Vampiras?, sempre foi fã de carteirinha do Canal 100. Diz que o futebol-arte no País só existiu mesmo nas telas do cinema, não só pela beleza das jogadas como pela qualidade cinematográfica das imagens do Canal 100. O cinejornal só abandonava o Rio para acompanhar a seleção no exterior. Ensinou toda uma geração a ver futebol. Influenciou a TV e o cinema. Veja-se o caso de Joaquim Pedro de Andrade no documentário ?Garrincha, Alegria do Povo?. Foi o cinegrafista Jorge Aguiar, no Canal 100, quem inventou de filmar por trás do gol, num ângulo bem baixo para pegar as pernas dos jogadores. Joaquim Pedro talvez tenha aprimorado a idéia ao filmar, do fosso, com a teleobjetiva, os dribles infernais do Mané das pernas tortas. A princípio em preto-e-branco, depois em cores, o Canal 100 surgiu em 1959, quando a TV ainda engatinhava no País. O próprio Niemeyer, morto em 1999, não se lembrava de quem havia sido a idéia de batizar o cinejornal. Lembrava apenas que um grupo estava reunido para bolar o nome, as TVs eram conhecidas pelo número: Canal 2, Canal 13. Surgiu a proposta: 100, um número superlativo. O tamanho máximo de um cinejornal era de 10 a 11 minutos. Havia flashes do high society, de artistas. O final era sempre com esporte, de preferência o futebol. Foi assim até 1985-86. Ao longo deste tempo, o Canal 100 filmou no mínimo 1.500 partidas, com até oito câmeras. A busca das melhores tomadas se resolvia na montagem ? mas não é sempre assim, no cinema? O programa terminou, segundo Carlos Niemeyer, pelo que ele chamava de ?falta de unidade da classe cinematográfica?. O cinejornal foi vítima da luta por espaço no cinema. O grupo dos curta-metragistas, favorecido pela lei de obrigatoriedade, ocupou o espaço do Canal 100. Poderiam ter coexistido, Niemeyer defendeu até a morte essa idéia. Ele também dizia que o cinejornal não conseguiu documentar o que seria o mais belo gol de sua história, porque ele não houve. Foi o gol que Pelé perdeu na Copa de 70, driblando o goleiro do Uruguai. A bola veio, ele deu um drible de corpo, o adversário foi nele e a bola passou.

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