CBF discute mudança de regra para estrangeiros

Entidade estuda modelo inglês, onde jogador precisa ter passagem pela seleção

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Por Raphael Ramos
3 min de leitura

A CBF estuda a possibilidade de restringir o número de estrangeiros no Brasil. A proposta foi debatida durante encontro de ex-técnicos da seleção brasileira na sede da entidade e deve ser encaminhada para discussão entre os clubes nos próximos dias.

A medida visa conter a entrada sobretudo de jogadores sul-americanos, contratados muitas vezes apenas por aceitarem receber salários mais baixos do que os brasileiros. Estão inscritos atualmente no Departamento de Registro e Transferência da CBF 90 atletas profissionais estrangeiros.

Centurión, atacante do São Paulo Foto: Alex Silva/Estadão

“A ideia é que a gente melhore o nível técnico e a qualidade dos jogadores que vão atuar aqui. Para trazer igual ou pior do que nós temos aqui, não precisamos contratar de fora”, defende Carlos Alberto Parreira.

A proposta discutida na CBF segue basicamente o modelo inglês, no qual para atuar em um clube do país o jogador de fora da comunidade europeia precisa ter um número mínimo de convocações para a seleção. Desde 1.º de maio entraram em vigor na Inglaterra regras mais rígidas que vetam, por exemplo, a contratação de atletas cujos países não estejam até a 50.ª posição do ranking da Fifa. Antes, o limite era o top 70.

Aqui no Brasil, no entanto, o projeto não foi bem aceito pelos treinadores. Tite, do Corinthians, é contra dificultar a entrada de estrangeiros no País. “Não é esse tipo de medida que vai ajudar a melhorar o futebol. Quanto mais qualidade, melhor. Estimula a concorrência e eleva o nível. Não importa se o jogador é de fora”, disse.

Atual bicampeão brasileiro com o Cruzeiro e hoje no comando do Palmeiras, Marcelo Oliveira também defende que a CBF não deve endurecer os requisitos para a entrada de jogadores de fora no País. “Acho saudável e legítimo a interação com estrangeiros. Vale como experiência para os nossos atletas. Talvez o Parreira esteja preocupado com a formação do jogador brasileiro e a seleção, mas a nossa seleção é formada por atletas que estão fora, então os estrangeiros não causam prejuízo. Acho até que são benéficos, porque trazem ideias novas.”

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O colombiano Juan Carlos Osorio, técnico do São Paulo, reage com espanto à proposta. Pós-graduado em ciência do futebol pela Universidade de Liverpool e auxiliar técnico no Manchester City durante cinco temporadas, ele não concorda com a comparação entre as realidades de Brasil e Inglaterra. “Isso me surpreende. A quantidade de jogadores estrangeiros no Brasil é muito baixa. Não vejo como um problema, como na Inglaterra. Lá, vários times, como o Arsenal, muitas vezes não tinham na escalação nenhum inglês sequer. No Brasil, todos os times têm oito ou onze brasileiros.” / COLABORARAM CIRO CAMPOS e DANIEL BATISTA

*ANÁLISE: Pablo Forlán

'É preciso saber jogar. Se bastasse lutar, os clubes contratariam boxeadores'

Na minha época de jogador, todos os uruguaios que foram para o Brasil já haviam passado pela seleção. Sem dúvida, isso é uma coisa muito importante porque você chega ao País com uma bagagem grande. Éramos do Peñarol, do Nacional, tínhamos disputado algumas Libertadores e até Copa do Mundo. O nosso currículo era importante.

Grandes jogadores uruguaios passaram pelo Brasil, como Pedro Rocha, Hugo de León, Darío Pereyra, Olivera, Rodolfo Rodríguez e Mazurkiewicz. Acredito que, de alguma forma, colaboramos com o futebol brasileiro porque sempre defendemos com muita luta e garra as cores que vestimos.

Mas isso não é suficiente. É preciso saber jogar. Se bastasse lutar, os clubes brasileiros contratariam boxeadores ou atletas de caratê, e não jogadores de futebol. É por isso que entre 209 seleções do mundo, o Uruguai está entre as sete melhores da história, com quatro taças mundiais (incluindo dois ouros olímpicos), 15 Copas Américas e várias Libertadores.

É evidente que a decisão de diminuir o número de estrangeiros no Brasil passa exclusivamente pela CBF e os clubes, mas, na minha opinião, o futebol brasileiro não vai melhorar com mais ou menos atletas de fora do País. Sobram jogadores brasileiros com potencial tanto nos clubes do Brasil como no exterior.

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O maior problema está na escolha de quem vai defender a seleção brasileira. Nos últimos anos, os atletas não foram bem escolhidos. Com todo respeito aos técnicos, acho que o Brasil não soube definir os seus melhores jogadores para participar de competições como Copa América e Copa do Mundo. A seleção brasileira tinha condições de disputar no ano passado uma Copa muito melhor do que fez e a culpa não foi dos jogadores estrangeiros que atuam nos clubes do País.

As Eliminatórias para o Mundial de 2018 vão começar agora e estou esperando para ver o que o Brasil vai fazer. É muito importante que o técnico convoque jogadores que ele conheça bem. O time joga duas partidas seguidas e depois demora para se reunir novamente. O treinador não pode ficar mudando os atletas a todo instante. É preciso ter uma base forte.

*PABLO FORLÁN JOGOU NO SÃO PAULO DE 1970 A 75 E DEFENDEU O CRUZEIRO EM 76. DEPOIS FOI TÉCNICO DA BASE NO MORUMBI E DO TIME PRINCIPAL