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Clubes cariocas amargam perda de prestígio

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Por BRUNO LOUSADA E SILVIO BARSETTI
Atualização:

Começou a ficar cada vez mais evidente, depois do fim do Campeonato Brasileiro, a perda de prestígio dos clubes do Rio. As últimas negociações no mercado só reforçam a idéia de que as equipes cariocas se distanciam a passos largos do principal centro de futebol do País. No caso de maior repercussão, o Flamengo deixou o atacante Ronaldo escapar do seu próprio quintal. Depois de treinar três meses na Gávea, a fim de recuperar a forma física, o Fenômeno acertou com o Corinthians e deixou os rubro-negros relegados à própria sorte. Washington, artilheiro do Campeonato Brasileiro pelo Fluminense, e os ex-botafoguenses Renato Silva, Túlio e Jorge Henrique também foram nos últimos dias para São Paulo. A lista não pára por aí. O meia Mádson e o lateral-direito Wagner Diniz, que defenderam o Vasco em 2008, tomaram rumo idêntico. A falta de estrutura dos quatro clubes mais badalados do Rio é gritante e justifica o porquê de os times cariocas terem parado no tempo e deixado para trás a disputa pela hegemonia do futebol brasileiro com as equipes de São Paulo. Não é por acaso que um time do Rio não conquista o título do Campeonato Brasileiro há oito anos - o último foi o Vasco, em 2000, e que acaba de ser rebaixado para a Série B. E desde que surgiu o modelo de pontos corridos, em 2003, os cariocas jamais conseguiram brilhar na competição. Os paulistas, ao contrário, ganharam as últimas cinco edições. Um exemplo claro do ?amadorismo? dos cariocas vem do Botafogo. O Estádio Mané Garrincha, fundado em 1978 em Marechal Hermes (zona norte), não honra o nome que herdou do eterno craque. O local abriga as categorias de base do Alvinegro e suas condições de trabalho são péssimas. Talvez por isso o Botafogo, há tempos, não revele jogadores de ponta. O Mané Garrincha não tem alojamento, refeitório, sala de musculação adequada e um campo decente - o que é usado está desnivelado, com buracos em várias partes. Durante anos, nunca houve um projeto sério para recuperar o Mané Garrincha. ?Ainda estamos muito longe do ideal. Os times de São Paulo estão mesmo à frente em termos de estrutura?, admitiu o gerente de Futebol das categorias de base do Botafogo, Riedel Alves. No Fluminense, a estrutura deficiente foi exposta até por quem comanda o time. Quando assumiu a equipe, em outubro, René Simões tirou o elenco do Rio e o levou para Itu, no interior de São Paulo porque o campo das Laranjeiras estava ruim. O treinador voltou a repetir a iniciativa no decorrer do Campeonato Brasileiro. "O que acontece é que aqui não há grandes investimentos em centros de treinamento", criticou René Simões. Ele já pediu ao presidente do Fluminense, Roberto Horcades, que reforme o CT de Xerém, na Baixada Fluminense, reservado às categorias de base. ?Quem pode fazer um trabalho integral diariamente aqui na cidade? Ninguém?. Em sua visão, os grandes clubes cariocas possuem estrutura aquém se comparada à de São Paulo e Cruzeiro. O Fluminense, aliás, deu recentemente outro exemplo de que gestão profissional é algo que passa longe das Laranjeiras. Até hoje associados e torcedores se perguntam como o ex-coordenador de Futebol Branco, demitido na semana passada, poderia ter integrado a cúpula do futebol do Fluminense por três anos se cobrava na Justiça uma dívida (em torno de R$ 7 milhões) do próprio clube, dos tempos de jogador. Mais endividado (R$ 250 milhões) dos grandes clubes do Rio, o Flamengo luta para concluir as obras do CT Ninho do Urubu, em Vargem Grande (zona oeste). Mas nem academia foi construída no local. Enquanto isso, utiliza a Gávea, que nem sequer tem dormitório e refeitório. Em dia de treino integral, o jogador tem de almoçar fora do clube, o que prejudica o controle alimentar. Por isso, muitas vezes, os treinadores decidem realizar treino em apenas um período do dia. ?Com isso, o atleta não se alimenta bem, não faz o descanso sob supervisão do clube e o risco de lesão muscular aumenta?, observou o técnico do Palmeiras, Vanderlei Luxemburgo, que, a exemplo de Ronaldo, se diz flamenguista, mas hesita em trabalhar no clube - já passou pela Gávea nos anos 90. O Vasco, também envolto em dívidas - seriam superiores a R$ 200 milhões - dispõe do centro de treinamento Vasco-Barra, mas nem sempre faz uso do espaço, até por causa de suas deficiências. Faltam equipamentos e os campos também não são convidativos para a bola rolar com elegância, e a opção é por treinar em São Januário. Assim como o Vasco, os demais clubes cariocas realizam há vários anos campanhas para atrair mais associados. A mais comum é a que diz respeito a adesão à categoria sócio-torcedor. Nenhuma delas, porém, avançou. Há quem aponte problemas de marketing nessas campanhas e o nível de desconfiança do torcedor de que o dinheiro não é aplicado com lisura acaba como o maior obstáculo para o sucesso da iniciativa.

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