Com prisão pedida na Espanha e EUA, Teixeira pode ter mesmo destino de Eduardo Cunha

Ex-dirigente pode ter seu caso transferido ao Brasil para ser investigado e julgado no País

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Por Jamil Chade e correspondente em Genebra
Atualização:

Com ordens de prisão emitidas na Espanha e EUA, o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, pode ter o mesmo destino do ex-presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha. A Procuradoria-Geral da República considera solicitar às Justiças estrangeiras que transfiram os casos para o Brasil, com o compromisso de que ele seja investigado e processado no País.  Foi dessa forma que a PGR conseguiu convencer a Suíça a transferir centenas de páginas de provas sobre suspeitas relacionadas com Cunha ao Brasil. Berna, entre 2014 e 2015, investigou o ex-político brasileiro e abriu um inquérito por corrupção passiva. Mas, mesmo se o condenasse, não conseguiria convencer as autoridades brasileiras a entregá-lo. Pelas leis nacionais, o Brasil não extradita seus cidadãos.

Nesse momento, Teixeira então poderia ser detido no Brasil, como ocorreu com Cunha. Foto: Nacho Doce/Reuters

A Suíça, assim, entregou as provas sobre as contas secretas de Cunha e os procuradores brasileiros conseguiram processar o deputado, inclusive por evasão. Agora, o mesmo cenário deve ocorrer com Teixeira, mas desta vez com a Espanha. Uma vez mais, a evasão pode ser a brecha utilizada.  Nesta semana, procuradores federais brasileiros já receberam informações extra-oficiais de que a Justiça de Madri emitiu uma ordem internacional de prisão contra o brasileiro. Ele já tinha o mesmo pedido vindo dos EUA.  De acordo com fontes em Brasília, quando o pedido oficial de extradição ocorrer, a PGR dirá que não o entregará. Mas irá se oferecer para fazer a persecução penal. Se houver um acordo, Madri então irá transferir o processo, com todos seus documentos, extratos bancários e gravações, ao Brasil.  Nesse momento, Teixeira então poderia ser detido no Brasil, como ocorreu com Cunha. Nos bastidores, os procuradores de ambos os lados do Atlântico estão estudando formas de tornar oficial o procedimento, depois que o brasileiro foi considerado pelos procuradores em Madri como um dos pilares de uma "organização criminosa".  Conforme o Estado revelou ainda em 2013, acordos secretos permitiram que a renda dos jogos da seleção fosse desviada para uma empresa em nome de Sandro Rosell, aliado de Teixeira e ex-presidente do Barcelona. No mês passado, Rosell foi preso e a Justiça espanhola apontou que parte do dinheiro que ia para sua empresa, a Uptrend, terminava com o próprio Teixeira. "Durante 2010, Teixeira e sua mulher eram detentores de dois cartões Visa Platinum, com contas da Uptrend em Andbank", apontou a Justiça espanhola. "Resulta da investigação que, de sua posição de presidente a CBF, (Teixeira) influenciou na concessão de direitos audiovisuais aos jogos da seleção, e, enquanto isso, por trás e para o prejuízo da CBF, Rosell negociava um contrato de intermediação", apontou o documento do processo do caso do ex-dirigente catalão.  Os investigadores concluem, portanto, que "parte dos fundos não foi para a CBF, senão que, de uma forma fraudulenta, foram ao próprio Teixeira". De acordo com a Audiência Nacional, na Espanha, os fatos apurados levam a crer que o brasileiro acabaria sendo o "destinatário do dinheiro, e não a Confederação (CBF)".  As autoridades espanholas ainda chegam à constatação de que o delito de Teixeira foi "a apropriação por parte do presidente da CBF dos fundos pagos para obter os direitos dos partidos jogados pela seleção brasileira".  Desde a prisão de Rosell, a defesa de Ricardo Teixeira tem negado qualquer tipo de irregularidade.  A insistência do brasileiro em declarar sua inocência não convenceu a juíza Carmen Lamela, da Audiência Nacional, que pediu sua prisão. "Teixeira obteve, de forma indireta, mediante a um emaranhado societário que se nutria da renda do acordo da ISE para a Uptrend, grande parte dos 8,3 milhões de euros que a ISE transferiu para a Uptrend pela suposta intermediação desta última", afirmou. A decisão da juíza seria do dia 12 de junho.  A ordem foi dada 15 dias depois da prisão de Rosell e quando os procuradores Vicente González Mota e María Antonia Sanz solicitaram que a Audiência Nacional emitisse a decisão de captura ao brasileiro.  

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