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Copa do Mundo rendeu mais a cartolas que ao futebol brasileiro

Brasil receberá ao longo dos anos R$ 331 milhões da Fifa. Já os funcionários ficaram só em 2014 com R$ 364 milhões em salários

Por Jamil Chade - Zurique
Atualização:

A renda da Copa do Mundo no Brasil permitiu que a Fifa aumentasse os salários de seus cartolas e funcionários. No total, a entidade distribuiu mais benefícios a seus integrantes que o volume de dinheiro que destinou ao Brasil como contribuição ao desenvolvimento do futebol. Dados obtidos com exclusividade pelo Estado revelam que, apenas em 2014, os cartolas e funcionários da Fifa receberam um total de US$ 110 milhões (R$ 364,43 milhões na cotação atual) em salários, bônus e outros pagamentos. No informe financeiro que será publicado na tarde desta sexta-feira, a Fifa não especifica quanto foi destinado ao presidente Joseph Blatter ou ao secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke. Trata-se do primeiro documento oficial da Fifa sobre os resultados financeiros do Mundial.

Fifa não especifica quanto foi destinado ao presidente Joseph Blatter Foto: Paul Faith/AFP

As rendas individuais de cada dirigente são mantidas em sigilo. Mas, nos últimos meses, cartolas compraram casas avaliadas em mais de R$ 13 milhões na região de Zurique. Em menos de dez anos, os salários na Fifa mais que dobraram. Em 2008, por exemplo, eles eram de cerca de US$ 52 milhões (cerca de R$ 172 milhões atualmente). Os números contrastam com o dinheiro que a Fifa deu ao Brasil, sede da Copa e onde não se cobrou impostos da Fifa. A entidade criou um fundo para ajudar o futebol nacional e enviará ao longo dos próximos anos um total de US$ 100 milhões (em torno de R$ 331 milhões). O primeiro projeto está sendo realizado em Belém e, nos próximos anos, iniciativas para construir centros de treinamentos e instalações vão ser implementadas pelo País. A contribuição foi destacada por Blatter e Valcke como uma prova de que parte da renda da Copa do Mundo voltaria ao Brasil. Em novembro de 2014, Valcke indicou que o fundo criado para o Brasil seria "uma excelente plataforma para distribuir os benefícios de uma Copa inesquecível". "Como na África do Sul e no Brasil, é nosso objetivo usar as próximas Copas do Mundo para promover um desenvolvimento sustentável do futebol nos países sedes", disse. O que não revelou é que os maiores beneficiados dessa explosão na renda seriam eles mesmos, com maiores salários e mais funcionários. Como o Estado revelou com exclusividade na quinta-feira, a Fifa anunciará nesta sexta uma renda recorde de US$ 5 bilhões (R$ 16 bilhões) por conta da Copa do Mundo. A distribuição de dinheiro para seus cartolas e mesmo os "presentes" às federações às vésperas da re-eleição de Blatter farão com que os lucros líquidos sejam menores. Mas a realidade é que nunca tanto dinheiro circulou pela entidade como agora. INGRESSOS Os torcedores brasileiros e estrangeiros ainda garantiram uma renda para a Fifa de R$ 1,7 bilhão (R$ 5,6 bilhões) apenas ao lotar os estádios para a Copa do Mundo de 2014 e para a Copa das Confederações de 2013. Ao contrário do que ocorreu nos últimos Mundiais de 2010 e 2006, o dinheiro dos ingressos foi administrado e recolhido no Brasil diretamente pela Fifa. Por meses, a entidade rejeitou pedidos do governo brasileiro para que estudantes e idosos tivessem benefícios. Enquanto a Fifa nada em dinheiro, o Tribunal de Contas da União indicou que, no total, as renúncias na arrecadação de impostos no Brasil foram de R$ 1,1 bilhão (R$ 3,6 bilhões) diante do acordo de que a entidade máxima do futebol não pagaria impostos pela Copa do Mundo.

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