Publicidade

Copa do Mundo volta ao palco de ofensiva de Stalin contra time russo

Há quase 80 anos, após polêmica se a bola havia ou não cruzado a linha do gol, ditador se voltou contra o Spartak

PUBLICIDADE

Por Jamil Chade
Atualização:

A Copa de 2018 consolidará o uso da tecnologia em mundiais. Em 2014, os árbitros contaram com sistema eletrônico para definir se uma bola havia ultrapassado a linha do gol ou não. Agora, além disso, os juízes terão auxílio do árbitro de vídeo para tomada de decisões no jogo. A Fifa decidirá em março, mas seu presidente, Gianni Infantino, já deixou claro que esse é seu desejo.

+ Lutar contra corrupção é maior que a seleção brasileira, diz Tite

+ Baixe a tabela da Copa do Mundo com os jogos no horário de Brasília

Há quase 80 anos foi uma polêmica se a bola havia cruzado a linha do gol que despertou uma ofensiva de Joseph Stalin contra um de seus piores inimigos: a torcida e o time do Spartak.

Torcida do Spartak Moscou se transformou numa das piores inimigas do ditador russo Joseph Stalin. Foto: Denis Tyrin/AP

PUBLICIDADE

A partida era válida pelas semifinais da liga soviética de 1939. Em campo, os já consagrados jogadores do Spartak, com seus uniformes pesados e reconhecidos em todo o território da União Soviética, mesmo sem o poder de hoje da publicidade e das transmissões pela TV.

Liderando o time estava o hábil Nikolai Starostin, além de seus três irmãos considerados como verdadeiras estrelas dos anos de 1930. Do outro lado, o Dínamo Tbilisi, da capital da Geórgia, exatamente a região de onde vinha o ditador Joseph Stalin. Uma vitória daria à equipe um lugar na final. A tensão era escancarada, tanto em campo quanto nas arquibancadas onde o torcedor se espremia para acompanhar o confronto.

+ Sorteio da Copa faz Brasil percorrer 7 mil km na primeira fase

Publicidade

+ Ex-jogadores apostam em primeira fase tranquila para seleção de Tite

Após 90 minutos, o resultado não surpreenderia nem torcedores nem os jornalistas esportivos da época. O Spartak, com sua equipe que entusiasmava multidões, havia derrotado o Tbilisi por 1 a 0, para o delírio de seus torcedores, simples trabalhadores do chão das fábricas soviéticas. Mas aquele gol foi considerado polêmico, pelo menos pelas autoridades e pela polícia secreta de Stalin.

A bola teria de fato cruzado a linha. Antes de tocar no chão, no entanto, já dentro do gol, um dos zagueiros do Tbilisi conseguiu afastá-la de forma espetacular, dando a impressão de que havia evitado o gol. Na história do futebol, gols polêmicos, decisões equivocadas de juízes e mesmo encenações de atletas foram alvo de discussões que perduraram por décadas. Até hoje, o gol da Inglaterra contra a Alemanha na final da Copa de 1966 é contestado. Em 2010, na Copa da África do Sul, a Alemanha deu o troco sobre os ingleses e as televisões do mundo todo mostraram que um chute do inglês Lampard resultou em um gol legítimo contra os alemães. O mundo viu a bola entrar. Mas o árbitro optou por mandar o jogo seguir, sem validar o gol, e a Alemanha acabou eliminando o time de Rooney.

Stalin comandou a União Soviética de 1922 até sua morte, em 1953, período marcado pela violência e autoritarismo Foto: REUTERS/Sergey Karpov

Em 1939, o juiz soviético validou o gol do Spartak, que o classificou para mais uma decisão. Mas a polícia secreta de Stalin simplesmente ordenou que a partida voltasse a ser disputada. O destino do árbitro nunca foi revelado. Não só ele não apitaria mais nenhum jogo de futebol, como seu paradeiro passou a ser um mistério, inclusive para sua própria família. Alguns dias depois, os dois times voltariam a se enfrentar.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Poucas vezes o estádio em Moscou tinha visto torcedores tão entusiasmados em incentivar a equipe da cidade. Ainda no vestiário, os jogadores do Spartak aguardavam para entrar em campo com o sentimento de obrigação de demonstrar que não haviam conquistado a primeira vitória por acaso. Escutavam o grito da torcida e, em cada um dos jogadores, havia a sensação de que a batalha não seria apenas 11 contra 11 do time adversário. O jogo seria uma batalha contra um sistema que unia forças diante do Spartak.

Assim que a bola rolou, as considerações políticas foram colocadas de lado. Em campo, mais um jogo duro, com faltas violentas. No fim da partida eletrizante, 3 a 2 para o time de Nikolai, conhecido por sua velocidade e técnica. O Spartak venceu.

No dia seguinte, as autoridades então optaram por uma decisão ainda mais drástica: prender Nikolai, com base nas acusações feitas dois anos antes de que o principal jogador e líder do Spartak promovia um modelo de vida “antissoviético”, um crime que até a derrubada do bloco comunista, ninguém conseguiu explicar o que seria.

Publicidade

A prisão apenas foi evitada graças ao primeiro-ministro soviético Vyacheslav Molotov, que teria rejeitado assinar a ordem. O próprio Nikolai estimou, décadas mais tarde, que o ato do ministro estaria ligado ao fato de que sua filha era muito amiga da filha de Molotov.

Com o fim do stalinismo, o astro teve sua imagem e credibilidade resgatadas. Hoje, sua estátua faz parte do parque que dá acesso ao principal estádio de Moscou e onde o futebol será um instrumento do governo de Vladimir Putin para mostrar ao mundo sua força.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.