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Corte nos EUA anuncia a 1ª sentença no 'caso Fifa' e manda recado a Marin

Hector Trujillo, ex-presidente da Federação de Futebol da Guatemala, é condenado a oito meses de prisão

Por Jamil Chade e correspondente em Genebra
Atualização:

Notícia atualizada às 20h46

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Dois anos e meio depois das prisões dos cartolas do futebol, o tribunal americano do Brooklyn anunciou a primeira sentença contra os dirigentes do esporte e mandou um alerta aos demais cartolas que serão julgados, entre eles o brasileiro José Maria Marin. O ex-secretário-geral da Federação de Futebol da Guatemala, Hector Trujillo, foi condenado a oito meses de prisão e uma multa de US$ 415 mil.

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Réu confesso em um dos casos marginais do processo, ele admitiu ter recebido US$ 200 mil em propinas, em troca de contratos comerciais com sua seleção. Os procuradores americanos pediam que ele fosse condenado com mais de três anos de prisão e uma multa de US$ 415 mil.

Hector Trujillo é o primeiro condenado no 'caso Fifa'. Foto: Don Emmert/AFP

Sua defesa insistia que não caberia uma prisão, já que ele não teria violado as regras de seu país. Pela decisão do tribunal, Trujillo terá de devolver o dinheiro à federação que ele comandou.

Diante da juíza Pamela Chen, Trujillo pediu que ela o perdoasse, prestes a chorar. "Tenho de admitir que minha consciência me falhou", disse o dirigente, que era também juiz da corte constitucional de seu país. Ele reconheceu que pensava que o pagamento era "comum" e que fazia parte de uma recompensa por seus trabalhos. Ele ainda apelou para que ela o deixasse voltar a seu país, alegando que já havia sofrido com os 30 dias de cadeia e 21 meses de prisão domiciliar. 

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Chen, porém, alertou que tal decisão mandaria uma "mensagem errada" aos demais cartolas. "Esse dinheiro deveria ter sido usado para construir campos de futebol em bairros pobres ou uniformes para jovens", retrucou a juíza. 

A sentença, mesmo que considerada por observadores como pequena, dá uma indicação do caminho que Chen pode tomar. O réu havia admitido culpa, o que ajudou a reduzir a pena, o que não ocorreria no caso de Marin, caso seja condenado.

Na prática, Trujillo ficará sete meses na prisão. Ele foi preso ainda em dezembro de 2015, enquanto passeava num cruzeiro pela Disney com sua família. Para aguardar o processo em liberdade, pagou uma fiança de US$ 4 milhões. 

Ainda que considerada como marginal dentro do esquema de corrupção revelado na Fifa, a condenação de Trujillo foi acompanhada de perto por advogados de todos os demais suspeitos, entre eles José Maria Marin. O brasileiro começará a ser julgado no dia 6 de novembro

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A CBF também está de olho nos acontecimentos em Nova Iorque. O Estado apurou que a entidade brasileira vai acompanhar de perto para saber qual será o destino do atual presidente, Marco Polo del Nero. Ele foi indiciado pelos americanos. Mas, sem deixar o Brasil, evitou ser preso. Além disso, manteve o comando do futebol nacional. 

O que inquieta a CBF, porém, é a presença dos procuradores americanos que, para convencer os juízes a punir Marin, podem apresentar novos documentos e evidências que também implicariam Del Nero. Os dois cartolas dividiram o poder na CBF desde a saída de Ricardo Teixeira, em 2012. 

Além do guatemalteco, o ex-chefe do futebol de Honduras, Rafael Callejas, será sentenciado no dia 15 de dezembro. No dia 21 de dezembro, será o ex-executivo brasileiro José Margulies que terá sua sentença anunciada. Ele já se declarou culpado, num esquema de pagamento de propinas envolvendo a empresa Traffic. 

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Alguns dos dirigentes mais influentes da Fifa, porém, terão suas sentenças anunciadas apenas em 2018. Depois de vários adiamentos, a corte promete tomar uma decisão sobre o ex-presidente da entidade, Jeffrey Webb, no dia 24 de janeiro. Ele admitiu culpa e, para pagar sua fiança, chegou a entregar os anéis de diamante de sua esposa.

Alfredo Hawit, que substituiu Webb depois de sua prisão no comando da Concacaf, também acabou detido. Sua sentença será conhecida apenas em março de 2018. 

Os processos também serão acompanhados de perto pela Fifa. A entidade insiste que esses cartolas a fraudaram e quer recompensas. Mas advogados ainda alertam que os julgamentos e revelações ainda poderão respingar de volta à entidade que diz ter “virado a página” e “resolvido” os problemas de corrupção.