Mas isso acontece só lá, no mundo civilizado. Aqui as aberrações se acumulam, alimentando o sistema primitivo do qual todos os cartolas, estrategicamente calados, se beneficiam. Convocados pela CBF, Ricardo Oliveira, Lucas Lima, Gabriel, Zeca e Thiago Maia não puderam defender o Santos no clássico contra o São Paulo.
É praticamente meio time, mas os dirigentes santistas aceitaram com tranquilidade, como algo normal, inerente aos princípios que regem o que chamam de futebol profissional. Certamente ficaram felizes com tantas convocações. Não podem reclamar do sumiço da torcida.
Obviamente o futebol europeu parou durante a data Fifa. Mesmo que algum gênio programasse partidas para o domingo, seria impossível, por exemplo, colocar o Real Madrid em campo sem 12 de seus jogadores, emprestados para várias seleções.
Não é à toa que times e seleção apresentam muita dificuldade para jogar futebol de qualidade. O caos nosso de cada dia é composto por problemas simples de resolver, desde que os cartolas possuam duas qualidades: coragem e conhecimento.
Infelizmente eles não existem, não é palmeirense? Afinal, o presidente Paulo Nobre é avalista desse modelo que aí está. Em nenhum momento o Palmeiras se rebelou contra esse calendário que impede seu novo treinador de trabalhar. Pior, quando surgiu a oportunidade de promover mudanças, apoiou o coronel Nunes, que precisou ser apresentado ao futebol.
Com quatro jogos e quatro derrotas em dez dias, Cuca mexeu nas escalações e viu a estabilidade emocional do grupo ruir. “Tomara que tenha chegado ao fundo do poço, porque de lá você não passa”, disse ao final da partida o homem contratado para dar um jeito no fraco time de Marcelo Oliveira.
Ser goleado pelo Água Santa é constrangedor. Mas o Palmeiras não treina, emenda um jogo no outro e faz Cuca reconhecer que sem treinamento não vai funcionar. O time de Paulo Nobre é a síntese desse futebolzinho promovido por gente que não é do ramo. Não basta contratar jogadores aos montes e encher a camisa de patrocinadores. O jogo, ao contrário do que parece, é complexo, é tarefa para os profissionais.
Estamos quase em abril e a maioria dos times brasileiros ainda não saiu da pré-temporada. A pasmaceira dos estaduais contamina. Numa fase do ano em que as vitórias valem pouco, as derrotas pesam demais. São quatro meses do ano desperdiçados. E ainda há gente disposta a pagar por isso.
Não adianta a CBF criar uma comissão de notáveis se a questão central não for atacada. Debater o calendário e a qualidade do jogo é o ponto de partida para um novo futebol, capaz até de influenciar até a seleção. O sistema que abriga o futebol brasileiro está enfermo.
Por enquanto, a exceção é o Corinthians, que mesmo dizimado pela negociação de vários titulares, conseguiu se recuperar para disputar o torneio Paulista. É o resultado, com mais altos do que baixos, de um comportamento bastante competitivo instalado há sete anos, que milagrosamente tem conseguido driblar os problemas criados fora do campo.
O diagnóstico da crise é simples. A mudança requer apenas coragem e profissionalismo para conduzir as transformações necessárias. Enquanto o futebol brasileiro se mantiver alicerçado nas federações, andará para trás. Todos sabem quais são os interesses dos coronéis. Melhorar a qualidade do jogo jamais entrará na pauta. “Tomara que tenha chegado ao fundo do poço, porque de lá você não passa”.