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Delator diz que pagou propina para seleção escalar força máxima

Dono da Traffic afirma que repasses se destinavam ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que nega as acusações

Por Ciro Campos e Paulo Favero
Atualização:

O empresário José Hawilla, dono da empresa de marketing esportivo Traffic, revelou nesta segunda-feira, em Nova York, durante depoimento do julgamento do caso de corrupção da Fifa, que pagou regularmente propinas ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira até para garantir que a seleção brasileira tivesse força máxima. Por até aproximadamente R$ 10 milhões, o acordo também visava facilitar a compra de direitos de transmissão de três edições de Copa América. 

"Era muito difícil fazer algo sem pagar subornos", disse o empresário de 74 anos no depoimento. Hawilla contou que um primeiro momento, passava a Teixeira cerca de R$ 330 mil por ano em propina. O montante acabou crescendo, até chegar a cerca de R$ 10 milhões, mesma quantia paga a outros dirigentes sul-americanos, como Nicolás Leoz, ex-presidente da Conmebol, e Julio Grondona, ex-presidente da associação argentina, falecido em 2014.

Ricardo Teixeira e José Hawilla visitam CT da Traffic, em 2009 Foto: Sérgio Castro/Estadão

Hawilla prestou depoimento durante sete horas carregando um tanque de oxigênio e auxiliado por tradutores. A propina, segundo o empresário, garantiu à Traffic a comercialização dos direitos de transmissão das Copas Américas de 2007, 2011 e 2015. Para cada edição, era preciso gastar cerca de R$ 60 milhões em subornos para dirigentes sul-americanos. "Eu cometi um erro e me arrependo muito disso", afirmou o empresário.

Segundo Hawilla, no acordo com Teixeira, existia uma exigência para que a seleção brasileira levasse os principais jogadores para os torneios. Como parte da admissão de culpa, Hawilla aceitou pagar cerca de US$ 151 milhões (R$ 489 milhões). O dono da Traffic aceitou voltar a depor como testemunha na sessão desta terça-feira.

Procurado pelo Estado, o advogado de Ricardo Teixeira, Michel Assef Filho, afirmou que considera uma "covardia" seu cliente ser atacado por Hawilla sem ter direito de defesa. "É bom esclarecer que Ricardo não está sendo julgado, e é uma covardia ser atacado sem ter direito de defesa e do contraditório dentro do processo judicial."

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"Ricardo nega veementemente as acusações irresponsáveis do delator e réu confesso José Hawilla. Ele desafia o delator a informar os nomes dos doleiros e as contas onde as propinas supostamente foram pagas, já que tais pagamentos nunca existiram. Sobre a acusação em relação a ter recebido propina para que fossem escalados os melhores jogadores para disputar a Copa América, Ricardo não só nega a acusação, como tem provas de que tais valores foram objeto de contrato e de pagamento realizado na conta da CBF", completou o advogado.

O dono da Traffic aceitou colaborar com a investigação do FBI depois de ter sido preso, em 2013. O empresário usou um gravador escondido para captar conversas com Hugo e Mariano Jinkis, pai e filho responsáveis pela empresa argentina Full Play. O áudio do diálogo foi ouvido pela primeira vez na Corte americana e trata sobre esquema de propinas a vários presidentes de confederações nacionais de futebol de alguns países.

"Eu quero coexistir com eles e fazer todos os presidentes ricos", disse Mariano Jinkis em uma das gravações. Quando Hawilla comentou com o pai e filho sobre a vontade de sair do esquema para fazer sua empresa se tornar limpa novamente para que pudesse vendê-la a algum interessado, ouviu uma reprovação de Mariano. O argentino disse que não gostaria de contar com um parceiro que não entendesse de suborno ou de recompensas, como definiu os pagamentos.

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Nas conversas gravadas, os argentinos disseram ser comum a existência do esquema. "empre existiram recompensas. E teremos recompensas para sempre", comentaram. Hugo e Mariano estão entre os 40 indiciados por corrupção na Fifa. No ano passado a Justiça da Argentina negou aos Estados Unidos o pedido de extradição da dupla, ao alegar que os dois já têm sido investigados no próprio país.

A corte do Brooklin, em Nova York, tem julgado nas últimas semanas três ex-presidentes de federações nacionais de futebol na América do Sul. Os réus são o paraguaio Angel Napout, o peruano Manuel Burga e o brasileiro José Maria Marin, que dirigiu a CBF. Todos se declararam inocentes da acusação de conspiração e lavagem de dinheiro. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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