Dirigentes da Fifa querem renúncia imediata de Blatter

Suíço é ovacionado por seus 400 funcionários ao explicar decisão

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Por Jamil Chade e correspondente em Zurique
Atualização:

A renúncia de Joseph Blatter não acalmou a tensão vivida pela Fifa. Dirigentes e mesmo organizadores de torneios da entidade deixaram claro que o cartola suíço deve renunciar imediatamente de seu cargo, e não esperar até as eleições no fim do ano. A sede da entidade foi fechada aos jornalistas e turistas, com ampla proteção a quem entrava e saia. Enquanto isso, as bolsas foram afetadas no Oriente Médio diante de temores de que o Catar possa perder o Mundial de 2022. 

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Blatter anunciou sua renúncia quatro dias apenas depois de ser eleito e diante de uma pressão inédita de patrocinadores e aliados. O suíço havia sido informado que seria alvo de mais uma investigação nos EUA e, depois de garantir que ficaria mais quatro anos no poder, optou por abandonar o cargo. Mas Blatter também fez questão de preparar sua saída, dando um prazo de seis meses para a realização de novas eleições. 

Um dia depois de renunciar, ele seguiu sua agenda normal, foi trabalhar pela manhã e se reuniu com todos seus 400 funcionários para explicar sua decisão e insistir que, até o final do ano, quer aprovar uma reforma da Fifa. Entre as medidas propostas está a de limitar os mandatos de dirigentes e reduzir o Comitê Executivo da entidade. 

Assessores da Fifa garantiram que Blatter foi "ovacionado" de pé pelos funcionários durante dez minutos, o que levou o suíço às lágrimas. Mas nenhum deles confirmou aos jornalistas o que de fato ocorreu dentro da reunião. Blatter teria dito que os funcionários eram um "time fantástico" e pediu a todos que "permaneçam fortes". 

Mas isso não convenceu os dirigentes. A Federação de Futebol da Jordânia revelou que está examinando as regras da Fifa para tentar convencer a divisão legal de que uma nova eleição não deva ocorrer e que seu candidato, Ali bin Hussein, deva ser o novo presidente, ao ficar em segundo lugar nas eleições da semana passada, com 73 votos. 

Outro alerta foi o do japonês Kozo Tashima, membro do Comitê Executivo. Para ele, Blatter precisa deixar o cargo imediatamente. "Na reunião que tivemos no sábado, ele falou com orgulho como ele tinha vencido um novo mandato", disse. "Se existe algo contra ele, uma explicação precisa ser dada por ele. É uma farsa ele agora ficar no cargo pelos próximos seis meses", atacou. "Se existe algo contra ele, Blatter não pode ser autorizado a ficar mais", completou.

Enquanto isso, Blatter foi alertado pelos organizadores do Mundial Sub-20, que ocorre na semana que vem na Nova Zelândia, que ele deveria ficar longe do evento, o terceiro mais importante da Fifa. O temor dos organizadores é de que ele se transforme no centro das atenções.

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CANDIDATOS

Enquanto a pressão aumenta, o número de pretendentes ao trono se multiplica. Na terça-feira, nomes passaram a ser buscados, enquanto cartolas disparavam telefonemas para novas alianças. O sucessor de Blatter era Jeff Webb, hoje preso por corrupção. 

Por enquanto, o único candidato declarado é Ali bin Hussein, que perdeu a eleição na semana passada, mesmo apoiado pela Uefa. Mas Michel Platini poderia voltar ao pleito. Ele havia indicado que não concorreria à presidência da Fifa enquanto Blatter fosse candidato. Agora, o cenário muda de forma radical.

Para evitar um maior confronto com o resto do mundo e falar de um boicote à Copa, Platini adiou uma reunião de emergência que tinha planejado com a Uefa para o fim de semana. Para ele, ainda não está na hora de debates. 

Seus aliados insistem que o adiamento é mais um sinal de que Platini quer se apresentar como o " candidato de todos". 

Chung Moon-joon, da Coreia do Sul, também indicou que está disposto a concorrer, enquanto o governo da Venezuela fala em Maradona e candidatos se posicionam em todos os continentes. 

COPAS

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A crise também deixou investidores preocupados. Na terça, até mesmo a bolsa do Catar abriu em baixa depois da renúncia de Blatter. O cartola era um dos maiores defensores do Mundial da Rússia em 2018 e Cata rem 2022 e chegou a comprar a versão de que a campanha contra ele era uma forma de o Ocidente derrubar a Copa promovida pelo Kremlin. Vladimir Putin passou a ser um de seus aliados, denunciando os EUA. 

Agora, sem Blatter, a pressão por uma investigação sobre a compra de votos da Rússia deve aumentar. O Ministério Público da Suíça já apura o caso e deve interrogar cerca de dez cartolas nas próximas semanas. 

Jornais ingleses ainda revelaram que dirigentes esportivos do Catar estão sendo orientados a não viajar aos EUA, sob o risco de serem interrogados ou mesmo presos. Apenas aqueles com imunidade diplomática estão circulando. 

O governo do Catar e cartolas da região rapidamente reagiram nesta quarta, alegando que não existe motivo para se preocupar. Para o presidente da Federação do Catar, Hamad Bin Khalifa bin Ahmed Al Thani, não existe risco de o país perder a Copa. "Já fomos inocentados", disse, em relação à investigação interna realizada pela Fifa.

 

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