Pressionado após a segunda derrota em clássicos no ano, o técnico Dorival Junior diz que não há como exigir um futebol melhor do São Paulo neste início de temporada. O principal problema para ele é o calendário apertado e o tempo reduzido para treinos. Dorival vê a questão inserida num contexto maior, que tem a ver com a governança do esporte no País.
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Nesta conversa com o Estado, realizada antes da derrota por 1 a 0 para o Santos,Dorival desabafa sobre a gestão do futebol brasileiro. Ele quer que os clubes tenham mais poder de decisão junto à CBF e mais discussão antes de tomadas de decisão sobre tópicos que, em sua visão, podem prejudicar a qualidade do futebol no País. O atual cenário, para Dorival, causa “covardias” como a demissão constante de técnicos e demonstrações históricas de como o futebol nacional vai mal, como o 7 a 1.
Com a reformulação do elenco, você já tem definida uma equipe ideal para 2018?
Quem vai confirmar isso são os resultados e o dia a dia. Tem jogador com só 3 jogos com a equipe. É difícil adquirir conjunto se não temos tempo hábil para treinar. Sem o Hernanes, mudamos de uma formação concentrada no meio-campo para uma que tem mais amplitude e abertura. Nossa consistência defensiva proporciona isso e espero que isso seja mantido por um tempo.
O elenco de 2018 está fechado?
Não existe elenco fechado em equipe nenhuma, em momento nenhum. Quem vai mostar isso são eles. De repente, você percebe que tem uma necessidade e um jogador pode ocupar o espaço. Aconteceu com o Militão (zagueiro de origem, que passou a atuar na lateral-direita). Foi uma grata surpresa. Já conversei com a diretoria (sobre carências), e eles estão atentos ao mercado. Dentro de uma possibilidade, estaremos abertos. Mas valorizo os que estão aqui.
Você indicou Victor Ferraz. É um jogador que ainda pode chegar?
Não participo das negociações e não sei como andam, mas é um grande jogador. Gosto muito dele.
Como tem sido o trabalho junto ao trio de ídolos que o São Paulo colocou na diretoria (Raí, Ricardo Rocha e Lugano)?
É fundamental o relacionamento com seu diretor mais próximo. Tive um grande relaicionamento com o Vinicius (Pinotti, ex executivo de futebol), e estou me dando muito bem com Raí e Ricardo. O Lugano eu já tinha um contato. São pessoas do meio, bem intencionadas, com ótimos projetos. Todos focados em melhorar a equipe de forma geral. Estou feliz pelas oportunidades que os três estão tendo, cada um com sua história e que são profissionais atualizados, voltados para uma melhoria na instituição. Em médio e longo prazo, teremos ótimos resultados por tudo que eles têm mostrado.
Qual seu grau de confiança de que dá para brigar por títulos?
Neste início do ano, já temos uma equipe montada, mas perdemos duas peças importantes (Hernanes e Lucas Pratto), chegaram reforços, e mudamos a concepção do times. Já fizemos bons jogos, não brilhantes, que é algo impossível com 9 jogos em 31 dias depois de 12 dias de preparação. Alguns jogadores não têm 20 jogos com a camisa do clube. Então não tem mágica. Falam que tem que cobrar um futebol melhor do São Paulo. Mas etapas não se queimam. Esses momentos precisam ser respeitados. A equipe está evoluindo e crescendo.
Mas oscilações estão acontecendo...
Oscilações são momentos físicos. Não dá para recuperar a equipe de uma rodada para a outra. Não temos tempo. Todas as equipes estão sofrendo da mesma forma, estimuladas pela ciranda das mudanças de treinadores, principalmente nos primeiros meses, em que a ciranda aumenta em função da sequência de jogos e do pouco tempo de trabalho. Temos que respeitar alguns processos e conjunto você não adquire de uma hora para a outra. Só com tempo, paciência e trabalho. Já estamos conseguindo coisas que há tempo não tínhamos, como uma sequência de bons resultados. A pressão é normal.
E como mudar esse contexto?
Com boa vontade se muda tudo. Quem comanda nosso futebol tem competência para mudar as coisas. Temos que parar de pensar em quantidade de jogos e sim em qualidade. Para sermos cobrados, precisamos poder mostrar nosso trabalho. É covardia dar 12 dias de trabalho na pré-temporada e, depois de 30 dias, já termos tantos treinadores demitidos. Não sei se estamos realmente preparados para fugirmos daquele 7 a 1, porque aquilo foi um exemplo do que vinha acontecendo no futebol brasileiro. Há medidas possíveis e cabíveis para mudar isso, com participação de todas as entidades. Mas é preciso mais diálogo. A CBF precisa estar mais próxima dos clubes. Precisamos ser ouvidos. Há pouca participação e envolvimento de todos, com ideias para melhorar o que talvez seja nosso produto mais vendável. A situação atual não vem sendo positiva para ninguém.
A questão do árbitro de vídeo é um exemplo?
A tecnologia no futebol é um caminho inevitável. Precisamos disso. E é nesse sentido que eu falo: a CBF apresentou uma proposta. Se tivesse aberto uma discussão antes, teríamos duas, três, quatro... E aí talvez não encarecesse tanto, talvez conseguiríamos um patrocinador para este tipo de sistema. Falta diálogo. A CBF tem um corpo diretivo atuante e lá tem pessoas de bem que querem mudar as coisas. Mas para isso precisamos estar mais próximos.
Ainda sobre a gestão esportiva. Recentemente, vieram à tona investigações e até condenações envolvendo cartolas do futebol. O que pensa disso tudo?
Isso tudo é também um exemplo muito claro do que está acontecendo no comando do País. Temos que chegar nessas pessoas e responsabilizá-las pelo que deixaram de fazer para a populaçãa. Se teve crime e se foi comprovado, só falta o momento final, que tem que existir, seja na política ou no futebol. Está na hora do Brasil aprender a punir. Não dá pra continuar na mesma situação, vendo meia duzia de pessoas se aproveitarem do poder. O país precisa de exemplos que venham de cima para baixo. O brasileiro é um aproveitador nato, tem isso no seu DNA infelizmente, por anos e anos de corrupção e com exemplos de que quem faz a safadeza leva vantagem.