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Dorival vê 'covardia' em calendário do futebol e quer CBF mais próxima dos clubes

Treinador do São Paulo pede mais diálogo antes de determinações para o esporte no País

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Por Matheus Lara
Atualização:

Pressionado após a segunda derrota em clássicos no ano, o técnico Dorival Junior diz que não há como exigir um futebol melhor do São Paulo neste início de temporada. O principal problema para ele é o calendário apertado e o tempo reduzido para treinos. Dorival vê a questão inserida num contexto maior, que tem a ver com a governança do esporte no País.

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Nesta conversa com o Estado, realizada antes da derrota por 1 a 0 para o Santos,Dorival desabafa sobre a gestão do futebol brasileiro. Ele quer que os clubes tenham mais poder de decisão junto à CBF e mais discussão antes de tomadas de decisão sobre tópicos que, em sua visão, podem prejudicar a qualidade do futebol no País. O atual cenário, para Dorival, causa “covardias” como a demissão constante de técnicos e demonstrações históricas de como o futebol nacional vai mal, como o 7 a 1.

"Não existe elenco fechado em equipe nenhuma, em momento nenhum." Foto: Rafael Arbex/Estadão

Com a reformulação do elenco, você já tem definida uma equipe ideal para 2018?

Quem vai confirmar isso são os resultados e o dia a dia. Tem jogador com só 3 jogos com a equipe. É difícil adquirir conjunto se não temos tempo hábil para treinar. Sem o Hernanes, mudamos de uma formação concentrada no meio-campo para uma que tem mais amplitude e abertura. Nossa consistência defensiva proporciona isso e espero que isso seja mantido por um tempo.

O elenco de 2018 está fechado?

Não existe elenco fechado em equipe nenhuma, em momento nenhum. Quem vai mostar isso são eles. De repente, você percebe que tem uma necessidade e um jogador pode ocupar o espaço. Aconteceu com o Militão (zagueiro de origem, que passou a atuar na lateral-direita). Foi uma grata surpresa. Já conversei com a diretoria (sobre carências), e eles estão atentos ao mercado. Dentro de uma possibilidade, estaremos abertos. Mas valorizo os que estão aqui.

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Você indicou Victor Ferraz. É um jogador que ainda pode chegar?

Não participo das negociações e não sei como andam, mas é um grande jogador. Gosto muito dele.

Como tem sido o trabalho junto ao trio de ídolos que o São Paulo colocou na diretoria (Raí, Ricardo Rocha e Lugano)?

É fundamental o relacionamento com seu diretor mais próximo. Tive um grande relaicionamento com o Vinicius (Pinotti, ex executivo de futebol), e estou me dando muito bem com Raí e Ricardo. O Lugano eu já tinha um contato. São pessoas do meio, bem intencionadas, com ótimos projetos. Todos focados em melhorar a equipe de forma geral. Estou feliz pelas oportunidades que os três estão tendo, cada um com sua história e que são profissionais atualizados, voltados para uma melhoria na instituição. Em médio e longo prazo, teremos ótimos resultados por tudo que eles têm mostrado.

"Já fizemos bons jogos, não brilhantes, que é algo impossível com 9 jogos em 31 dias depois de 12 dias de preparação" Foto: Rafael Arbex/Estadão

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Qual seu grau de confiança de que dá para brigar por títulos?

Neste início do ano, já temos uma equipe montada, mas perdemos duas peças importantes (Hernanes e Lucas Pratto), chegaram reforços, e mudamos a concepção do times. Já fizemos bons jogos, não brilhantes, que é algo impossível com 9 jogos em 31 dias depois de 12 dias de preparação. Alguns jogadores não têm 20 jogos com a camisa do clube. Então não tem mágica. Falam que tem que cobrar um futebol melhor do São Paulo. Mas etapas não se queimam. Esses momentos precisam ser respeitados. A equipe está evoluindo e crescendo.

Mas oscilações estão acontecendo...

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Oscilações são momentos físicos. Não dá para recuperar a equipe de uma rodada para a outra. Não temos tempo. Todas as equipes estão sofrendo da mesma forma, estimuladas pela ciranda das mudanças de treinadores, principalmente nos primeiros meses, em que a ciranda aumenta em função da sequência de jogos e do pouco tempo de trabalho. Temos que respeitar alguns processos e conjunto você não adquire de uma hora para a outra. Só com tempo, paciência e trabalho. Já estamos conseguindo coisas que há tempo não tínhamos, como uma sequência de bons resultados. A pressão é normal.

E como mudar esse contexto?

Com boa vontade se muda tudo. Quem comanda nosso futebol tem competência para mudar as coisas. Temos que parar de pensar em quantidade de jogos e sim em qualidade. Para sermos cobrados, precisamos poder mostrar nosso trabalho. É covardia dar 12 dias de trabalho na pré-temporada e, depois de 30 dias, já termos tantos treinadores demitidos. Não sei se estamos realmente preparados para fugirmos daquele 7 a 1, porque aquilo foi um exemplo do que vinha acontecendo no futebol brasileiro. Há medidas possíveis e cabíveis para mudar isso, com participação de todas as entidades. Mas é preciso mais diálogo. A CBF precisa estar mais próxima dos clubes. Precisamos ser ouvidos. Há pouca participação e envolvimento de todos, com ideias para melhorar o que talvez seja nosso produto mais vendável. A situação atual não vem sendo positiva para ninguém.

A questão do árbitro de vídeo é um exemplo?

A tecnologia no futebol é um caminho inevitável. Precisamos disso. E é nesse sentido que eu falo: a CBF apresentou uma proposta. Se tivesse aberto uma discussão antes, teríamos duas, três, quatro... E aí talvez não encarecesse tanto, talvez conseguiríamos um patrocinador para este tipo de sistema. Falta diálogo. A CBF tem um corpo diretivo atuante e lá tem pessoas de bem que querem mudar as coisas. Mas para isso precisamos estar mais próximos.

Ainda sobre a gestão esportiva. Recentemente, vieram à tona investigações e até condenações envolvendo cartolas do futebol. O que pensa disso tudo?

Isso tudo é também um exemplo muito claro do que está acontecendo no comando do País. Temos que chegar nessas pessoas e responsabilizá-las pelo que deixaram de fazer para a populaçãa. Se teve crime e se foi comprovado, só falta o momento final, que tem que existir, seja na política ou no futebol. Está na hora do Brasil aprender a punir. Não dá pra continuar na mesma situação, vendo meia duzia de pessoas se aproveitarem do poder. O país precisa de exemplos que venham de cima para baixo. O brasileiro é um aproveitador nato, tem isso no seu DNA infelizmente, por anos e anos de corrupção e com exemplos de que quem faz a safadeza leva vantagem.

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